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Aramis

Afinal decola a bomba (da paz) de Frederico

Demorou mas saiu! "A Bomba Pacífica - O Brasil e a Corrida Nuclear" do jornalista Frederico Fullgraf (editora Brasiliense, 245 páginas) já está nas livrarias. No Rio, o lançamento oficial foi no dia 10, na livraria Dazibao (Rua Visconde de Pirajá, 571) e, embora esteja ocupadíssimo, trabalhando num média metragem em torno da mesma temática - a questão nuclear no Brasil - Frederico deve vir a Curitiba para aqui lançar, "com muita festa", este seu aguardado livro. Frederico é um bicho do Paraná. Embora nascido na Alemanha e vivendo hoje no Rio de Janeiro, tem suas raízes curitibanas. Aqui passou sua infância e, há 8 anos, quando retornou da Alemanha, então casado com a promotora Lily - feroz líder feminista - veio para cá. Aqui se instalou com a sua Mutirão Filmes e realizou três básicos documentários com sua visão ecológica: "Quarup - Adeus 7 Quedas", "O Expropriado" e "DDD-Dose Diária Aceitável/O Veneno Nosso de Cada Dia". Dois projetos o tem ocupado nos últimos anos. Um era concluir e publicar o livro sobre a questão nuclear. O que faz agora, livrando-se portanto deste cadáver insepulto. O segundo é mais ambicioso: um longa-metragem - "Alemão Batata", longa-metragem sobre a colonização alemã no Sul, com um roteiro fascinante. A produção é cara e apesar de seus excelentes contatos na República Federal da Alemanha - país onde viveu e trabalhou por mais de 15 anos, atuando especialmente no jornalismo e televisão - ainda não deu para levantar todo o orçamento. Como não gosta de ficar parado, enquanto não faz o longa, Frederico realiza o média sobre a questão nuclear - assunto que estuda há anos e a prova está neste seu livro, que menos de duas semanas após o lançamento já começa a provocar comentários. O jornal "Leia" (nº 113, março/88), traz uma análise de uma página, num review de Alfredo Sirkis, jornalista e escritor, ex-guerrilheiro, autor de "Roleta Chilena" e integrante do Partido Verde. Com o título de "No Rastro do Dr. Stranglove", Sirkis faz uma inteligente análise do livro de Fullgraf, destacando sua atualidade e importância. Merece, inclusive, transcrição, do trecho final. xxx "A Bomba Pacífica" é um livro denso, bem documentado, com uma lógica implacável. Ele reforça as posições do movimento antinuclear no Brasil e na Alemanha. Os argumentos, em si, não são novos, mas o trabalho de pesquisa e o poderoso holofote lançado pelo autor sobre as zonas de sombra e as interconexões secretas dos vários lobbies nucleares são inéditos e fornecem farta munição suplementar aos opositores da loucura nuclear. Ao final dessa leitura, obrigatória para quem se interessa pelo assunto, se conhece melhor o "outro lado": o Dr. Strangelove, os aprendizes de feiticeiro do século XX, com suas usinas produtoras da energia mais cara e perigosa, das toneladas de lixo radioativo e da porta aberta para as aplicações militares na construção da bomba. Pacífica, é claro...". xxx Quem conhece Frederico sabe que ele gosta de tocar em assuntos polêmicos. Seu "DDD-Dose Diária Aceitável", que realizou graças ao financiamento de uma organização alemã - mas que teve também ajuda da Surehma, quando Cícero Bley a dirigia, - denunciou a questão dos agrotóxicos e incomodou multinacionais alemãs, que ficaram furiosas com a repercussão internacional do filme - premiado num festival de cinema ecológico na França e que foi levado, posteriormente, à Índia e até ao Japão. Para "A Bomba Pacífica", Frederico soube documentar-se. Afinal, bom jornalista, da escola do repórter investigativo - que desenvolveu por anos na televisão e rádio da RFA (continua, aliás, executando trabalhos como free-lancer para as cadeias nacionais alemãs), Frederico faz com que seu approuch em torno da questão nuclear vá as origens, lembrando detalhes em relação à corrida pela bomba atômica - que na Alemanha era empreendida pelos cientistas nazistas Paul Harteck e Wilhehem Groth, enquanto nos EUA, Openheimer, Fermi, Teller e Szilard, empenhavam-se no projeto Manhattan que levou à bomba de Hiroxima. Como sintetizou Sirkis em seu review, apesar de terem chegado ao enriquecimento do urânio mais ou menos na mesma época que os cientistas de Openheimer, em Los Alamos, os homens de Harteck perderam, se atrasaram nos equipamentos de regulagem e controle dos reatores. Mas estavam perto de chegar à bomba quando foram capturados pelas tropas aliadas. O livro de Frederico Fullgraf tem muitos aspectos fascinantes, que o tornam uma obra para ser lida, discutida e analisada. Repetimos aqui informação anterior: Frederico está disposto a vir fazer um debate sobre o seu livro. É só alguém convidá-lo. Atenção, Srs. Pacifistas, ecologistas e animadores culturais! xxx Na última página de seu livro, em uma nota autobiográfica, Frederico mostra seu bom humor. Assim, após informar que fez Mestrado em Comunicação na Academia Alemã de Cinema e Televisão e trabalhar desde 1974 para a ARD (cobriu a Revolução dos Cravos em Portugal e a independência de Angola, além de ter fugido do Chile com 40 latas de negativo filmado entre 1974/75), Fullgraf diz: - "Casei-me com uma promotora alemã a quem tentei convencer que o Brasil era "o país do futuro". Hoje ela vive nas Filipinas e eu estou cansado de esperar pelo futuro... ou pelo país... Onde fica a Utopia? Sei que ela é de cor verde. Nela pautei meus filmes após o retorno ao Brasil em 1980: "Quarup", "Sete Quedas", "Dose Diária Aceitável". Como afirma o I Ching, "tudo o que tem começo tem fim". Depois desta trilogia sobre temas terminais (massacre ecológico, pesticidas, bomba atômica), pretendo iniciar novo ciclo sobre temas existenciais. Um deles é o fenômeno milenar do eterno retorno, nossa condição de reincidentes no uso de drogas pesadas como a paixão, por exemplo."
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
25/03/1988

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