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Meirelles, o menino da Mangueira cresceu

"Um menino da mangueira/ recebeu pelo Natal Um pandeiro e uma cuíca Que lhe de Papai Noel/ Um mulato sarará Primo-irmão de dona Zita E o menino da mangueira foi correndo organizar Uma linda bateria Carnaval já vem chegando/e tem gente batucando São meninos da mangueira..." Há 14 anos, Sérgio Cabral criava uma belíssima letra para um samba de Rildo Hora, em homenagem a "Os Meninos da Mangueira". Agora, quando Cabral é vereador no Rio de Janeiro (e quase saiu candidato a prefeito, no ano passado), ao menos um dos Meninos da Mangueira chega ao seu primeiro elepê: Ivo Meirelles, 23 anos, nascido e criado no morro da Mangueira, filho de um dos mais ilustres compositores da escola - Ivan Meirelles, já falecido. Seus pais se separaram quando era pequeno e ele foi criado pela avó e pela tia. Sua mãe, passista de conjunto tipo exportação, sempre viajou muito. Garoto ainda, juntou-se aos amigos Dirclê, Robson, Alcir, Julio Cesar, Elton e Julinho e formou um grupo que ficou conhecido como "Os Meninos da Mangueira". A eles, Sergio Cabral dedicou um samba de sucesso - gravado por Ataulfo Alves Jr. O grupo não conseguiu gravar um disco, como Sergio Cabral pretendia ("A gente fazia muita bagunça na gravadora", lembra Ivo. "Eles não aguentaram"). Mas acabaram se tornando dos mais solicitados animadores de festas, "Principalmente festa de rico, naquelas casas e iates de Angra dos Reis, onde a gente chegava e animava logo, fazendo mil coisas. O pesoal adorava, todo mundo se divertia e recomendava a gente pros amigos". Os meninos cresceram e a amizade ficou mais sólida. Mudaram de nome - hoje são o grupo "Comando" - mas continuam juntos para o que der e vier. Das rodas-de-samba às festas de rico, dos shows nos clubes à briga que compraram pela renovação da conservadora Estação Primeira de Mangueira. Esclarece Ivo: - "A velha Guarda tem o seu lugar, é claro. Só que precisa entender as suas limitações. Essa é a nova posição". Em 1983, Ivo era diretor de bateria da Mangueira - o mais jovem a ocupar este cargo que foi de Cartola e passou depois para o Xangô da Mangueira. Deixou a função para trabalhar um samba-enredo que acabou não sendo classificado. Também seu samba-de-quadra (aqueles que aquecem as escolas) foi boicotado. Não desistiu: tentou de novo no ano passado e mesmo desclassificado reclamou e acabou tendo uma revisão e fazendo de "Caymmi Mostra ao Mundo o Que a Bahia e a Mangueira Tem" mais conhecido como "Tem Xinxim e Acarajé" o vencedor do Carnaval - e o mais cantado. Mas para isto brigou muito. Agora, prepara-se para a batalha da escolha do samba-enredo de 87, homenagem ao poeta Carlos Drummond de Andrade. Desta vez, vem em parceria com Paulinho e Leci Brandão. Enquanto espera a decisão, Ivo trabalha o elepê "Vaidade Verde-Rosa" (Polyfar/Polygram), que é o primeiro disco de samba a sair lacrado para as lojas, por obra e graça da Censura. Estão proibidos a execução pública de duas faixas "Papelaria" e "O Tabaco e Maria". O disco reúne seus amigos, seus afetos - como diz Virgínia Cavalcanti, num objetivo texto promocional. Os companheiros do "Comando" estão presentes, do pai Ivan, gravou "Me Deixa em Paz", faixa que conta com a participação de sua mãe, Lorenilde, que além de passista é também cantora. E em "Falsos Abraços", é a irmã Vania quem se revela como uma nova voz do samba. Só a censura não soube apreciar o humor bem carioca deste mangueirense, que critica as situações do cotidiano (além, é claro, de falar muito de amor e paixão). Ivo Meirelles, um Menino da Mangueira que pode dar certo no mundo do samba.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
09/11/1986

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