O poeta Reynaldo é agora o reytor da UniverCidade
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de novembro de 1986
Reynaldo Jardim continua o mesmo. Calvície em escalada cada vez maior, camisas de cores berrantes, falando rapidamente, em seu estilo de metralhador verbal, durante o XIX Festival de BRasília do Cinema Brasileiro desdobrava-se em dez. Além de todos os encargos como diretor-presidente da Fundação Cultural do Distrito Federal, jardim ainda tinha que, por força de regulamento, presidir o júri oficial dos longa-metragens. Tarefa que além de cansá-lo, considera um absrudo:
- "Afinal, o júri deve escolher o seu próprio presidente.
O presidente da Fundação pode, em muitos casos, até deteStar o cinema!"
No final, Jardim incluiu como recomendação para o próximo evento - que poderá ter uma dimensão internacional (ver matéria nesta mesma edição), que o presidente do Júri seja indicado entre os convidados para este trabalho - e não pelo dirigente da FCDF.
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Além dos trabalhos como presidente da Fundação - tanto que, nem apareceu na sessão de inauguração da mostra (como o governador do DF, José Aparecido), e que foi motivo de críticas por parte de alguns cineastas em improvisada reunião no terceiro dia do Festival), Jardim ainda lançou, ao entardecer da sexta-feira, 31, no foyer do Teatro Nacional (onde funciona a FCDF) o seu oitavo livro, "Cantares Prazeres". Uma reunião de poemas publicados durante 1984/85 no jornal "Última Hora", de Brasília, num evento que teve danças, música e mímica.
Dedicado a jornalista Marilu Silveira - que, aliás, estava em Brasília, e com introdução de Ary Para-Raios, seu ex-colega de editoria do segundo caderno do "Correio Brasiliense" (e que, no início dos anos 60, aqui movimentou o mundo artístico), "Cantares Prazeres" foi lançado pelas edições Artway. E Jardim, fez questão de frisar;
- "Não foi utilizado nenhum recurso da entidadde - e este recado é para o pessoal do MAC - Movimento Articulado Cultural, que nunca procura ouvir o outro lado da história, só acusa."
O MAC brasiliense, pelo visto, não é o único foco de oposição a política que Jardim desenvolve na Fundação Cultural do Distrito Federal. Tanto é que o jornalista Alexandre Ribondi, também ator (está transferindo-se agora para Lisboa), não esconde críticas a Jardim, ao qual faz acusações pesadas e assumidas.
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Quem conhece Jardim, em seu espírito polêmico e voltagem criativa não se surpreende. Afinal, durante os anos em que residiu em Curitiba passou por vários veículos - criando o "Anexo" no finado "Diário do Paraná" em sua penúltima fase; ao lado de Marilu Silveria fundou o "Pólo Cultural"; ajudou a organizar a revista "Atenção", para Faruk El Khatib (outra publicação de saudosa memória), reestruturou o "Jornal de Indústria e Comércio", foi editor-assistente da "Panorama", entre outras publicações. Foi também o último diretor do Museu da Imagem e do Som, na gestão de Luís Roberto Soares, na Secretaria da Cultura e do Esporte, ainda no governo Ney Braga.
Tranferindo-se para Goiânia e, logo depois indo para Brasília, Jardim, jornalista de larga quilometragem, pioneiro do movimento concretista ("Caderno B", Jornal do Brasil, final dos anos 50) e amigo de longa data de José Aparecido, acabou assumindo a direção da Fundação Cultural do Distrito Federal.
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Agora, voltando a publicar um novo livro (em Curitiba, fez uma edição meio artesanal de "Brugueiros"); Jardim define seu "Cantares Prazeres" (que promete, vir lançar em Curitiba, "tão logo a Dinah, da Fundação Cultural, organize a festa") como um retorno ao cantábile, ao discurso, ao romance, que foge do estruturalismo vanguardista.
-"É o lado oposto do que se pode chamar de concretismo, praxismo.
De fato, não é um livro de intelectual moderno, da moda. É um trabalho gerado pelo prazer dos sentido e nesse sentido é atravessado por uma visão parafeminina da realidade".
Os poemas foram escritos, diz ele, da maneira que gosta de escrever: por obrigação, com dia e hora marcados a serem entregues, "sem a conflitante espera da inspiração."
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Jardim, em sua criatividade elétrica e, naturalmente, polêmica, não pára de inventar coisas. E agora está lançando a UniverCidade, um projeto inédito no Brasil e no mundo, garante ele, "pois nunca houve uma instituição que reunisse as diversas áreas do aprendizado artístico e psicossomático de forma integrada."
Ele expl;ica que o filósofo Moebius disse há um século atrás que todas as coisas do mundo são interadas, ou seja, o todo e as partes formam uma só partícula. Daí a origem da palavra grega holon.
- Se unirmos as pontas de uma fita invertidamente podemos formar um objeto tridimensional, onde as duas superfícies tornam-se em uma só. Não existe separação entre superfície e verso.
Foi partindo deste princípio que o Núcleo de Produção Artística da Fundação Cultural e a Associação Educativa Psicossomática, presidida por Lídia Nunes, esquematizaram o projeto UniverCidade.
São cursos abertos ao público em geral e não especificamente de arte, já que engloba as atividades do corpo-espírito-mente através das técnicas reichianas e holísticas. O interessado pagará uma mensalidade com direito a freqüentar os cursos que melhor lhe convier. Como simboliza a fita tridimensional, as atividades se interagem e assim os percursos básicos têm a ver um com o outro. São eles: Forma e Cores - desenvolvimento dos sentidos; Som - aguçar o auditivo; Fala e Expressão - soltar o verbo; Corpo em movimento - o somático; Interação Psicossomática - a mente Universo do espírito e alma.
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