Nossos sambistas na Mangueira
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 22 de julho de 1977
Quando Cartola (Agenor de Oliveira, 69 anos) ouviu "Não Vou Saber", que os curitibanos Homero Reboli e Cláudio Ribeiro inscreveram-se para o Festival de Novos Compositores, promovido pela Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira e Riotur, não teve dúvidas: não só elogiou o samba como estimulou seus autores a inscrever outras músicas nesta promoção destinada a escolher cinco melhores composições, que junto com sete outras finalistas serão gravadas num elepê. Resultado: Homero e Cláudio acabaram tendo quatro músicas inscritas no Festival, que inicia neste fim de semana, na quadra da Mangueira, no Rio, e que se estenderá nas próximas semanas.
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O advogado Antonio José Santana Lobo Neto, bem humorado e musical presidente da Paranatur, cuja voz de seresteiro escuta-se, eventualmente, em reuniões informais após a hora do expediente, tem agora chance de provar aquilo que sempre afirmou: a vontade de apoiar os compositores da terra. Pois "Maé" da Cuíca (Ismael Cordeiro, 49 anos, 40 de samba), o bom crioulo de ritmo e seus sete companheiros do Partido Alto Colorado, estão necessitando de ajuda para poder viajar nos próximos três fins de semana ao Rio e defender as músicas de Homero-Cláudio no festival da Mangueira.
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Homero Reboli, professor na Escola Técnica Federal do Paraná, e Cláudio Ribeiro têm muitas músicas, infelizmente até hoje restritas aos ambientes informais que [freqüentam]. Com a classificação de quatro sambas no Festival da Mangueira, abre-se as portas, para lançamento nacional. Dona Nelma, figura lendária da Estação Primeira, já disse a Claúdio: "No próximo ano teremos vocês em nossa ala de compositores". Mas nem por isso pretendem esquecer a E. S. Colorado, de Curitiba, "Ao contrário, acrescenta Reboli, vamos aprender muito no Rio para aqui aplicar".
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A letra de "Não Vou Subir", o samba com melhores chances de vencer o Festival da Mangueira, é simples, de fácil comunicação:
Não, não vou subir
Lá no morro não
Porque morreu
Quem era a dona do
/meu barracão
Tudo era tão bonito
Seu olhar, seu andar
Deixa-me ficar curtindo
O meu penar
Com minhas mágoas
Vou beber, vou sofrer, vou chorar
Até a vela se apagar
Deixa-me ficar sozinho
Vou seguir o meu caminho
Caminho sem destino / sem chegada
Eu estou de mal com a vida
E talvez de mal com Deus
Morreu quem era a luz
/dos olhos meus.
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