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Aramis

Noite Vazia

Já houve época em que o pequeno palco do "Graceful's", uma das raras boates da Alameda Cabral que vem resistindo desde o início dos anos 60, músicos como Airto Guimorvan Moreira (percussão) e Raulzinho (trombone), hoje morando nos Estados Unidos, ali se apresentavam, ao lado de outros excelentes instrumentistas da cidade. Do samba jazzificado a improvisações em torno de temas de Theolonious Monk ou Duke Ellington, os [freqüentadores] daquela casa noturna supreendiam-se com o virtuosismo dos músicos. Mas isto foi passado, pois hoje, quem vai entrar verá ao invés do piano Essenfelder, da bateria e do baixo acústico, um espaço vazio, no qual, melancolicamente, sobre uma cadeira está o modesto amplificador doméstico, responsável pela transmissão do som de fita na casa. "É melancólico", concorda Carlito, 57 anos, 38 de noite, distribuído como garçom da Argentina a Curitiba, numa travessia noturna. xxx O "Graceful's" é apenas um dos endereços melancólicos da cada vez mais esvaziada noite curitibana, no que tange ao roteiro da [boemia] mais [...] pesada. Um velho [freqüentador] da madrugada, lamentava dias atrás com uma frase curta mas definidora da situação: "A noite está vazia". Os músicos profissionais que tinham nestes ambientes um de seus raros mercados de trabalho vão sendo substituídos pelas econômicas e frias aparelhagem de som. Mesmo as casas noturnas que se destinam [a] outras faixas de público, também pouco estimulam musicalmente. Os proprietários de restaurantes com música ao vivo apresentam dados e números justificando prejuízos que estariam sofrendo. O que dá mais validade [à] iniciativa de criar estímulo fiscais aos ambientes que empreguem música ao vivo e, em compensação, onerar as casas que atuam na linha "discotheque". xxx O seresteiro Mario Trevor, do Marito's (Rua Dr. Murici, 111) é um dos poucos a estimular a boa música de Curitiba: o regional que apresenta, todas as noites, o melhor chora em sua casa, acompanhará neste fim-de-semana, Guerra, um acordeonista português que já venceu vários concursos. O acordeonista é tão famoso que até o flautista Alaor, em recesso nos últimos dias devido [à] inflamação dos dentes, está prometendo que hoje reaparece - para, ao lado do violando de Arlindo, bandolim de Janguito e cavaquinho de Bento, tentar uma curiosa integração flauta-acordeon, aproximando os choros de Pixinguinha aos mais tradicionais fados. É comparecer para conferir!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
4
22/07/1977

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