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Aramis

O som de Raulzinho é só para os paulistas

Quando o adolescente Airto Moreira era baterista no King's Club, na Rua Carlos de Carvalho, há poucos metros, no Luigi's, na Alameda Cabral, quem ali tocava bonito era o trombonista Raul de Souza, que entusiasmado pela música atravessava madrugadas e esquecia de que às 7 horas da manhã deveria estar em forma no quartel da Aeronáutica, no Bacacheri, de cuja banda fazia parte. Entre a boemia e o rigor de músico militar, Raulzinho ficava com a primeira e não foram poucas as detenções que pegou devido suas faltas na caserna. Daquela época feliz e musical da noite curitibana - a Marrocos, na Praça Zacarias, tinha atrações internacionais e no La Vie En Rose, Breno Sauer (hoje morador em San Francisco) e seu quinteto mostravam a emergente Bossa Nova, só ficou a saudade dos boêmios de bom gosto musical acima dos 35 anos. Coincidência ou não, as carreiras de Raulzinho (João José Pereira de Souza, Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1934) e Airto Guimorvan Moreira (Itaiópolis, SC, 5 de agosto de 1941) cruzaram-se inúmeras vezes. Em Curitiba, São Paulo, Rio e, a partir de 1968, nos Estados Unidos, quando, sem falarem inglês e sem dinheiro, em épocas diferentes, foram para tentar a América. Airto foi o primeiro a obter um reconhecimento profissional como percussionista e ajudou Raulzinho em seu início de carreira, inclusive produzindo seu primeiro lp americano ("Colours, 1973, nunca editado no Brasil). Depois a carreira de Raulzinho deslanchou e, por três anos (1978/1980), chegou a ganhar destaque como trombonista de vara nas jazz poll de "Down Beat", "Rolling Stones" e "New York Jazz Magazine". xxx Agora, quando Airto volta ao Brasil, para, pela primeira vez fazer uma temporada profissional - ao lado do guitarrista Al Di Miola (5 a 8 no Palace, São Paulo; dia 9, auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, em Curitiba; dia 10, Canecão, RJ), por coincidência, Raulzinho, também se encontra no Brasil. Embora tenha passado, discretamente pela cidade - aqui vivem três de seus filhos de um casamento curitibano - Raulzinho (o nome artístico ele ganhou de Ari Barroso, em seu famoso programa de calouros, na Rádio Tupi, no início dos anos 50) restringiu suas apresentações em São Paulo, no restaurante Inverno & Verão, que também edita discos e lançou, na semana passada, o lp "Viva a Volta", uma denominação que o trombonista considerou apropriada para quem estava, desde 1979, sem gravar no Brasil. Neste disco - inédito até agora nas lojas da cidade, várias composições de Raulzinho, como "Early Morning", "Inverno & Verão" - além de "Salve Rio", de Rogério, um de seus filhos - também seguindo os caminhos musicais. xxx Como trombonista de vara, dono de invejável técnica, Raulzinho sempre foi um músico criativo, aproximando-o assim do jazz quando - há 30 anos passados, pouquíssimos curitibanos curtiam esta forma musical. Integrando diferentes grupos - desde o RC-7, que acompanhava Roberto Carlos em seu início de carreira - até o duo com o grande Franco Rossolino (1922-1978) - com quem se apresentou no São Paulo - Montreaux Jazz Festival, no Anhembi, SP, de 1 a 17 de setembro de 1978, Raulzinho é um instrumentista da maior categoria. Há quatro anos, vindo ao Brasil, demorou-se em Curitiba, ocasião em que fez várias apresentações em cidades paranaenses, dentro do projeto "Paraná de Todos os Cantos", produzido por Heitor Valente. Desta vez, sentindo o vazio cultural do Paraná - e nem poderia ser diferente neste calamitoso e fracassado governo José Richa - Raulzinho nem quis saber de fazer atuações profissionais entre nós. xxx Falando em instrumentistas internacionais, é bom lembrar: a partir de hoje, estarão à venda os ingressos para a única apresentação de Airto Moreira e Al Di Miola, no Guaíra. Domingo, dia 9, 21 horas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
13
04/03/1986

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