A música de Carnaval (IV) - As homenagens que as escolas irão prestar
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de fevereiro de 1988
Ser tema para uma escola de samba é a consagração popular para qualquer pessoa - seja qual for a atividade que exerça. Assim, com toda razão, Mário Vendramel, 60 anos, veterano radialista e comunicador de televisão, tem razões de estar sorrindo bastante: domingo, a escola de samba Garotos Unidos abre o desfile na Marechal Deodoro, do grupo A, com o samba-de-enredo "Mário Vendramel, do Rádio à Televisão - 38 Anos de Comunicação", samba de Alaelson Venceslau, o Laé, presidente da escola. A segunda escola a desfilar - a Sapolândia - também traz uma homenagem, só que póstuma: "Noel de todas as Vilas", que teria sido mais oportuna no ano passado, quando transcorreram os 50 anos da morte de Noel Medeiros Rosa (1910-1937). Dois veteranos compositores carnavalescos da cidade - o arquiteto Homero Reboli e o radialista Cláudio Ribeiro, somaram-se a Julinho, César e Helceu, para fazer o samba em homenagem ao autor de "Feitiço da Vila":
"No berço azul e branco ele surgiu
Sorrindo, o menino poeta Noel
Com verso em poesia
No paraíso lá de Vila Isabel".
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No grupo B, a escola de samba Portão - Unidos da Zona Sul - resultante da fusão de duas escolas de samba - a Unidos do Portão com a Frei Miguel, homenageará o compositor Claudionor Cruz, 78 anos, 60 de música, autor de inúmeros sucessos carnavalescos - e que nestes últimos anos tem permanecido longas temporadas em Curitiba. No ano passado, Claudionor já havia saído na comissão de frente de outra escola, mas agora será o homenageado do enredo em "Com Pandeiro ou sem Pandeiro... É com esse que Eu Vou". O samba é de autoria de Júlio César, Cláudio Ribeiro - com alguns palpites do próprio Rei Momo, Pipa (Ronaldo de Camargo, 24 anos, 180 quilos, paulista de Ourinhos).
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Homenagens também não faltam nas escolas de samba do grupo 1A de São Paulo, cujos sambas-de-enredo ganharam gravação pela Continental.
Assim, a escola de samba Vai Vai enaltece "Amado Jorge - A História de uma Raça Brasileira" (Oswaldinho da Cuíca / Namur / Macalé do Cavaco), com uma letra em que são citados vários títulos de livros do escritor baiano:
"Jorge Amado
Mestre da literatura
Fez da epopéia de um povo
A sua arte em romance de ternura".
Outra escola, o G.R.E.S. Mocidade Alegre, faz uma merecida lembrança a um dos mais caracteristicamente compositores paulistas: "O Cientista Poeta Paulo Vanzolini":
"Que maravilha o cientista e poeta
Paulo Vanzolini num berço de poesia
A Mocidade hoje traz
Derramando a sua arte
Deus lhe pague as suas obras
Não esquecerei jamais".
Lembrando o seu lado cientista - um dos mais conceituados do País, aliás, é claro que o refrão saiu assim:
"E cadê você
Fui procurar o jacaré
O lagarto e a cobra venenosa
Ela arma o bote e pica e faz doer".
"Ronda", a mais famosa de suas composições - e a canção mais cantada na noite em todo o Brasil, segundo recente pesquisa - não poderia deixar de ter uma citação explícita:
"De noite eu rondo a cidade
Em busca da paz e de amor
Uma triste cena aconteceu
Que abalou meu coração
Na Avenida São João".
Ary Barroso (1903-1964) é o homenageado pelo G.R.E.S. União da Ilha do Governador, no Rio, com "Aquarela do Brasil" (Robertinho Devagar / Márcio André), que construíram, naturalmente, a letra, com base nos maiores sucessos do autor de "Risque":
"Boneca de piche, faceira, grau dez
Trabalha, trabalha, nego
Alô amigos, Zé Carlocou
Divina Musa
Sua voz maior no Exterior".
A E.S. Caprichosos de Pilares decidiu fazer uma homenagem coletiva ao cinema brasileiro. Em "Luz, Câmera, Ação", seus sete compositores enaltecem a usina de ilusões - num tema bem escolhido e que, por ocasião do encerramento do IV FestRio (novembro/87), ganhou um marketing numa festa que atravessou a madrugada:
"Amor, ai amor, o vento levou
Por toda parte
As maravilhas da sétima arte
Lá vou eu, lá vou eu
Curtindo os bastidores
Descobrindo este universo
Tintim por tintim".
Renato Aragão e sua turma também ganham homenagem: o G.R.E.S. Unidos do Cabuçu sai no desfile de domingo com "O Mundo Mágico dos Trapalhões":
"Didi, Dedé, Mussum e Zacharias
Seu mundo é encanto e magia
Dignidade de Palhaço
Faz vibrar o povo brasileiro
Mestres do sorriso
Transformam a avenida em picadeiro".
Finalmente, uma homenagem a um nome maior da televisão, como foi no rádio: Paulo Gracindo. O G.R.E.S. Unidos da Ponte sai com "O Bem Amado Paulo Gracindo" (Mazinho Branco / Ambrósio).
"Na novela amor, amor, amor
Chega a emocionar
Na comédia, no palco da alegria
Faz meu povo gargalhar
Os anos dourados voltaram
A Nacional está no ar, no ar
Sucupira está em festa
Odorico Bem Amado
Vai "Genipapear".
Em São Paulo, até um empresário das comunicações, Paulo Machado de Carvalho (Record) ganhou homenagem: o G.R.E.S. Rosas de Ouro sai com "Carvalho Madeira de Lei", no qual o puxador Royce do Cavaco enaltece:
"Entra no ar a poesia
Ligue o rádio e a televisão
É ver Paulo Machado de Carvalho
O símbolo da comunicação".
Aqui em Curitiba, uma das mais pobres escolas, a Zebra no Batuk, do bairro de Santa Efigênia, decidiu homenagear coletivamente a imprensa. Assim, o samba-de-enredo de Elton, Júlio César e Carlos Mattar - "Operários da Comunicação e seus Veículos Fantásticos", proclama:
"Com saudades da folia
A Zebra vem mostrar
Luzes, câmeras, ação
No fascinante mundo da informação
Jornais, revistas, rádio e televisão
Lágrimas, sorrisos
Dividindo o coração".
LEGENDA FOTO - Vendramel: homenagem da Garotos Unidos.
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