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Observatório

O prestígio do orador e líder espírita Divaldo Franco, de Salvador, hoje já é internacional. Há poucos dias retornou de Joahnnesburg, África do Sul, passou por Curitiba na segunda-feira e terça-feira, em avião de um empresário paraguaio foi para Assunção, onde fez uma palestra. Ontem, de volta a Curitiba, anonimamente, esteve na chamada "Capa dos Pobres", uma das muitas atividades filantrópicas mantidas pela Federação Espírita do Paraná. Divaldo é hoje um dos kardecistas mais respeitados não só no Brasil mas em todo o Continente, e se dedica inteiramente à obra assistencial, procurando atender a inúmeros compromissos que o fazem viajar semanalmente. Mais uma entidade feminista fundada na noite de terça-feira na cidade: Persona. Apesar do título lembrar o famoso filme que Ingmar Bergman realizou em 1966 com Liv Ullman e Bibi Anderson (no Brasil chamou-se "Quando Duas Mulheres Pecam", título totalmente inexpressivo) a entidade não tem preocupações de ordem psicanalítico-culturais, embora suas 7 membro-fundadoras - que variam desde a jornalista Juril de Plácido e Silva, filha do fundador da Gazeta do Povo" até à dinâmica Maria de Lourdes Montenegro - desejam ver a instituição como mais uma voz em favor da mulher da sociedade contemporânea. A propósito de mulheres, lamentável que um dos mais importantes filmes do ano, "Norma Rae", 79, de Martin Ritt - que já deu prêmio de melhor atriz a Sally Field em Cannes e pode lhe valer o Oscar agora - tenha passado totalmente despercebido. Em uma semana no Astor (onde hoje foi substituído por mais uma reprise de "Os 10 Mandamentos") rendeu pouco mais de Cr$ 100 mil, ou seja, em termos comerciais, não voltará ao cartaz. Trata-se, entretanto, de um filme político da maior importância, cuja visão deveria ser obrigatória a todos que se interessam por lutas sindicais/sociais. Mesmo sendo o mais arredio e tímido dos gênios da literatura brasileira, o poeta Carlos Drummond de Andrade é um intelectual extremamente gentil, incapaz de deixar de responder uma carta de seus admiradores. E pela admiração que há muitos anos tem pelo autor de "A Rosa do Povo", o publicitário Eloi Zanetti, diretor da Umuarama, através de várias cartas, está enriquecendo o seu organizado arquivo. Aliás, a Umuarama editor, com autorização do poeta, em poster, um de seus mais belos textos ("Mãos Dadas"), que, em reprodução do original manuscrito, excelente qualidade gráfica, está sendo distribuído e, por certo, vai emoldurar as paredes de muitas residências de pessoas de sensibilidade. Falando em Zanetti, ele conta que os 6 melhores atiradores brasileiros, que participaram do I Torneio Seletivo de Tiro aos Pratos, foram convidados a competir no Torneio Benito Juarez, no México, como parte do treinamento visando as Olimpíadas de Moscou. Entre os convidados, os milionários Marcos Olsen e Jean Claude Dufour, os dois primeiros colocados da categoria Fossa Olímpica. Agora em abril será realizado novo torneio seletivo e no mês seguinte a equipe irá a Munique para uma preparação junto a técnicos alemães. A Rede Nacional Bamerindus está financiando a compra de material para estes atletas. Embora, no caso de Olsen, pelos seus próprios recursos, tal patrocínio fosse até indispensável. Ao menos numa rubrica o orçamento da Prefeitura de Curitiba deve estar com superávit: recursos para iluminação pública. Depois de lâmpadas superpotentes instaladas na Rua Senador Alencar Guimarães, entre a Emiliano Perneta e Praça Osório, um novo feérico festival de luzes transformou as ruas São Francisco em sua última quadra e o primeiro quarteirão da Mateus Leme, nas imediações do Largo Coronel Enéas, numa luminosidade que levou Fernando do Bumbo, um dos mais criativos compositores da madrugada curitibana, a comentar, ao deixar o Bebedouro, de que de agora em diante, os últimos a sair devem usar óculos escuros, como na canção do grande Orestes Barbosa. Já uma cliente da mesma casa, mais ligada às transas musicais de Egberto Gismonti e viagens à Escandinávia, perguntava ao [seu] companheiro: Que tal o Sol da meia-noite? O Bebedouro - que perdeu na semana passada a colaboração de sua melhor relações públicas, Angela Botelho de Sousa (que em breve terá sua própria casa), é hoje, ao menos em termos de iluminação circular, a mais brilhante da cidade. O que se pode perguntar é se a despesa extra de iluminação no chamado setor histórico - elogiável em termos turísticos - fará com que sobre ao menos para os postes que têm placas de ruas nos bairros da cidade uma lâmpada de 60 watts. Aliás, até agora, apesar dos apelos recebidos, o simpático prefeito Jaime Lerner ainda não se decidiu a determinar, com energia, que a calamitosa situação da nomenclatura das ruas da cidade seja solucionada. E não tem sido por falta de sugestões e apelos neste sentido. A Livraria José Olympio Editora programou para maio o lançamento de "Paraná no Centenário" de Rocha Pombo (Morretes, 1857 - Rio de Janeiro, 1933), um dos mais importantes historiadores do Paraná. Aliás, comemora-se agora o 47º aniversário da morte do escritor paranaense. Eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1933, não chegou a tomar posse devido à sua morte. Falando em livros, pela José Olympio está saindo a 23ª edição de "Sagarana", como todas as anteriores, com capas e ilustrações de Poty, um dos poucos amigos íntimos de Guimarães Rosa - e que com ele tinha um ponto em comum: a maior discrição em termos de entrevistas e conversas sempre muito reservadas. Poty está na cidade para algumas [seqüências] do documentário que Araken Távora está realizando a seu respeito e que o filmará defronte suas muitas obras monumentais aqui existentes. E já que falamos em edições da JO, mais duas informações importantes: para quem se interessa pela obra de Vinícius de Moraes, acaba de ser editado "Orfeu da Conceição" (76 páginas, Cr$ 105,00), tese que o gaúcho Luiz Tosta Paranhos, falecido há um ano (15/4/79) defendeu em 1977, então com o título de "A Tragicidade de Orfeu da Conceição", onde procura mostrar o valor intrínseco desta peça, filmada entre 1956/57 por Marcel Camus e que, em 58, no Festival de Cannes, obteve a Palma de Ouro. No Rio de Janeiro, a peça de Vinícius (por sinal, novamente internado devido a problemas de saúde) teve sua primeira montagem no Municipal há 25 anos, marcando o início de sua parceria musical com Antônio Carlos Jobim. Para quem curte MPB, mais uma tese que sai em livro: "Ismael Silva, Samba e Resistência", de Luiz Fernando Medeiros de Carvalho, 31 anos, defendida na Universidade Federal do Rio de Janeiro. O autor explica: Este estudo não é uma biografia. Quando o saxofonista e pianista Victor de Assis Brasil esteve, por sua conta, em Curitiba, no final de dezembro, evitou que o 8º aniversário do Paiol passasse em brancas nuvens, pois os donos da cultura municipal tinham "esquecido" a efeméride. A jan-session de Victor, um excelente instrumentista e pessoa, foi a preço simbólico e o trabalho que desenvolveu, em forma de "work-shop" com músicos locais, o entusiasmo de tal forma que mediante uma pequena ajuda se propôs a ficar por aqui, num trabalho regular, por três meses. Mas como a burocratização ainda faz com que as coisas andem em passo de tartaruga na esfera municipal, em termos culturais, Victor acabou se cansando e voltou frustrado, ao Rio. Agora, como a imprensa nacional deu destaque ao segundo álbum que Victor e seu trio fez na Odeon, já lançado há 3 semanas no Rio, houve a promocional preocupação de trazê-lo a Curitiba para um pouco divulgado show que, consta, deve acontecer hoje no Paiol. Victor Assis Brasil, como músico e pessoa, merece toda atenção e respeito, mas não deixa de ser irônico que, há 90 dias, quando ele aqui estava, hospedado em casa de amigos, sem maiores despesas, não houvesse qualquer preocupação concreta em lhe assegurar condições para dar continuidade a um trabalho que o entusiasmava. Agora, demagogicamente, se busca promoção em torno de seu nome! De qualquer forma, quem conhece jazz sabe que Victor merece aplausos pela sua coerência e honestidade e em seu novo lp, onde participam instrumentista como J. Moraes (piano e vibrafone), Paulo Russo (baixo) e Ted Morre (bateria), estão interpretações antológicas de temas como "Nada Será Como Antes", "S'Wonderful", "Penedo", "O Cantador", "Night And Day", "it's All Right With Me" e a belíssima composição do próprio Victor, "Pedrinho", onde se destaca seu dueto com Jota Moraes.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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Tablóide
8
03/04/1980

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