Para entender mais esta "buona gente"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de janeiro de 1989
Duas professoras da Universidade Federal do Paraná, Altiva Pilatti Balhana e Beatriz Pellizetti (já aposentada e residindo no Rio de Janeiro), estão entre as autoras de "A Presença Italiana no Brasil" (Escolla Superior de Teologia/Fondazionne Giovanni Agnelli, Porto Alegre, 536 páginas) que se incorpora a uma básica bibliografia sobre estudos da colonização e influências do povo italiano em nosso país.
A edição desta obra reunindo os trabalhos apresentados durante o simpósio intitulado "A Presença Italiana no Brasil", promovida pela Fondazionne Giovanni Agnelli e pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (São Paulo, 21 a 25 de outubro de 1985) é o 80º volume da "Coleção Italiana", que Ravílio Costa e Luís A. de Boni, vem coordenando há mais de 10 anos e que inclui material referencial sobre tudo que se relaciona aos chamados oriundi.
Coincidentemente, também é editado agora outro básico estudo a respeito: "Do Outro lado do Atlântico - Um Século de Imigração Italiana no Brasil", de Angelo Trento (Instituto Italiano di Cultura di San Paulo/Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro, editora Nobel 576 páginas, preço de lançamento - se é que já não aumentou - Cz$ 19.500,00.
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Em "A Presença italiana no Brasil", Altiva Pilatti Balhana, curitibana, filha (naturalmente) de italianos e que na década de 50 fez doutoramento em Florença e há anos dirige o curso de pós graduação de História Demográfica na Universidade Federal do Paraná, é autora de mais de cem trabalhos publicados sobre migração, imigração e população. Por exemplo, os ensaios de maior profundidade sobre Santa Felicidade foram elaborados por Altiva "Um Processo de Assimilação" e "Santa Felicidade: Uma Paróquia Vêneta". Para o simpósio promovido pela Fondazionne Giovanni Agnelli, Altiva preparou um ensaio de maior dimensão, abordando toda a colonização italiana no Paraná, englobando levantamentos que vinha fazendo há muitos anos. O resultado foi 24 páginas fundamentais para se compreender melhor todo um processo de imigração e integração.
A coincidência da Rede Bandeirantes estar iniciando agora uma minissérie sobre a Colônia Cecília e
a experiência anarquista, desenvolvida no município de Palmeiras, torna ainda mais oportuno conhecer o ensaio que Beatriz Pellizetti, hoje aposentada e residindo no Rio, fez há três anos sobre este fato que, ao longo dos anos, vem fascinando historiadores e, também sempre provocando projetos para a sua transposição ao cinema. Filha de um dos anarquistas italianos, Ermembergo Pellizetti, que exerceu grande influência em Santa Catarina e foi amigo pessoal de Giovanni Rossi, líder da Colônia Cecília, Beatriz é, sem dúvida, a pessoa que melhor conhece este episódio. Seu arquivo organizado é completo e, indiretamente, analisou a questão em "Pioneirismo Italiano no Brasil Meridional - Um Banco de Imigrantes em Santa Felicidade", dissertação de doutorado na Universidade Federal do Paraná.
O escritor Schmidt (1890-1964) foi o primeiro a se voltar ao caso da colônia anarquista, embora tratando-a com toques de ficção. Em 1964, o jornalista, advogado e professor Newton Stadler de Souza publicou pela Civilização Brasileira um livro a respeito, com um novo tratamento da questão. Estas duas obras ajudaram o cineasta francês Jean Louis a realizar um filme sobre Cecília, totalmente rodado nos arredores de Paris - que apesar do interesse que teria para os espectadores brasileiros, jamais foi exibido em nosso País (exceto em algumas sessões na Maison de France, no Rio de Janeiro).
Mais recentemente, a dramaturga paulista Renata Palottini, a convite do então diretor superintendente da Fundação Teatro Guaíra, Oracy Gemba, na infeliz administração José Richa, escreveu um musical inspirado no mesmo tema. Apesar da direção do competente Ademar Guerra, a produção - que foi feita através do Teatro de Comédia do Paraná (na última tentativa de fazer ressurgir o elenco oficial do Estado, que tantas boas montagens apresentou nos anos 60) foi um clamoroso fracasso.
O cineasta Walter Lima Júnior, há dois anos, se interessou em fazer um filme a respeito e chegou a convidar a jornalista Iza Faezza, que morou muitos anos na Itália - e hoje trabalha para várias publicações em Lisboa, a preparar um primeiro roteiro. Entretanto, como surgiram outros projetos - inclusive Waltinho foi convocado para dirigir "Casa Grande e Senzala", que Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) iria realizar. A idéia foi, temporariamente, congelada. Agora, com a disposição da Bandeirantes em fazer uma minissérie a respeito, o tema volta a ser discutido.
Portanto, Beatriz Pellizetti é uma das fontes confiáveis a respeito - e uma síntese objetiva e exata do que foi esta experiência anarquista no Paraná está em seu trabalho que ocupa 31 páginas em "A Presença Italiana no Brasil".
"Do Outro Lado do Atlântico" é o resultado de extensas pesquisas, fornecendo uma ampla e cuidadosa visão dos mais diversos aspectos do fenômeno imigratório italiano no Brasil, conciliando a visão geral do conjunto com a profundidade do particular.
O autor, Angelo Trento, inicia analisando a imigração italiana para o Brasil sob as variáveis sociais, políticas e econômicas, focalizando as condições a que eram submetidas as primeiras levas imigratórias no final do século passado. Mostra os principais episódios do período compreendido entre 1875/1919, destacando as relações dos italianos com a sociedade brasileira, suas instituições e escolas, o papel desempenhado por eles no movimento operário brasileiro e o confronto entre empresários e proletários italianos. Após a I Guerra Mundial, o enfoque recai sobre a penetração do fascismo na colônia italiana no Brasil, mostrando o que a oposição entre fascistas e antifascistas desencadeou no processo de assimilação dos novos imigrantes.
No último capítulo o autor trata das características da nova imigração italiana, a partir de 1946, das divisões políticas e ideológicas que surgiram na colônia entre os recém-imigrados e os aqui estabelecidos e das dificuldades de se fazer renascer as velhas formas de vida coletiva.
Interessante é o apêndice, ao final, sobre a imprensa italiana no Brasil, num total de aproximadamente 500 títulos, entre jornais, revistas e periódicos, além da mais vasta bibliografia sobre o assunto.
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