Rosa e Castelo querem fazer o Saci cantar na Ópera de Arame
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 30 de junho de 1992
Uma superprodução transforma em musical uma das mais conhecidas obras da literatura infantil - "O Saci" de Monteiro Lobato (1882-1948) foi um dos projetos entre os que estão concorrendo ao financiamento do Programa de Incentivo à Produção Artística criado pelo governador Roberto Requião. (*).
Ao aprovar o programa que teve sua estruturação pensada pelo assessor especial Eduardo Requião, apaixonado por teatro e que em seus verdes anos chegou a produzir peças no Rio de Janeiro - o governador Requião admitiu até que os investimentos a serem feitos este ano - US$ 1 milhão - podem ser considerados a fundo perdido. Entretanto para sua continuidade, isto procurará ser evitado. Consciente das dificuldades do mercado artístico e da proposta financeira dificilmente possibilitar imediato retorno, Requião, informalmente, disse que se houver um pagamento considerável do valor adiantado pelo Banestado "o Estado se considerará compensado". Obviamente, que as prestações de contas serão rigorosas, a aplicação terá que dar resultados artísticos e de público compatíveis aos financiamentos obtidos e, a partir de 1993, para que o Pipa tenha prosseguimento, as regras financeiras serão mais duras - inclusive com cobranças de juros - que, este ano, serão isentas das propostas que forem aprovadas.
Conforme aqui antecipamos, a proposta dos produtores André Luís Rosa de Castro e Márcia Castelo Branco, de um musical baseado em "O Saci", reúne uma boa equipe técnica. A adaptação do texto de Lobato para a linguagem teatral foi feita por Carlos Alberto Sofredine, dramaturgo que em espetáculos como "Na Carreira do Divino" demonstrou a sua profunda identificação à cultura popular e brasileira.
A direção será de Ademar Guerra profissional com competência profunda em mais de 30 grandes espetáculos e que, já por três vezes, dirigiu [espetáculos] em Curitiba, contratado pelo Teatro de Comédia do Paraná. A convite de Oracy Gemba, quando superintendente da Fundação Teatro Guaíra, fez o musical "Colônia Cecília". Posteriormente, na administração do advogado Constantino Viaro, dirigiu as montagens de "Noites da Taverna" e "Mistérios de Curitiba", ambas levadas a temporadas em São Paulo e Rio de Janeiro. A cenografia e figurinos serão criados por Maria Bonomi. A trilha sonora é dos irmãos Jean e Paulo Garfunkel ("Magrão"), que embora nascidos em São Paulo, possuem grande identificação familiar em Curitiba, netos do casal Helena e Paul Garfunkel.
André Rosa, 24 anos, paranaense de Pinhais - município do qual seu avô Antonio Rosa, foi um dos fundadores, apesar de bastante jovem em vivência profissional. Desde os 12 anos veio morar em Curitiba, onde paralelamente ao curso secundário iniciou-se como músico, o que levaria, em 1988, a trabalhar em São Paulo e Rio de Janeiro. Lá conheceu o produtor Manoel Valença, sócio de Mário Prioli no "Canecão" e responsável pela realização de grandes musicais e shows com nomes famosos. Foi uma experiência positiva, que o faz ligar-se a um novo grupo musical - o Spok, agora preparando o seu primeiro elepê.
Associado profissional (e efetivamente) a Marília Castelo Branco (Valença), filha do empresário Manuel Valença, paulista de 36 anos com vivência internacional - estudou na Itália, viveu em Londres e como a atriz participou de duas grandes montagens de Antunes Filho ("O Eterno Retorno/Nelson Rodrigues" e "Macunaíma"), André Luís estruturou uma produtora que vem desenvolvendo a montagem de "O Saci". Projeto que poderá ter a sua estréia no final de setembro, na Ópera de Arame, este musical - que apesar da temática não se destina exclusivamente ao público infantil - pretende fazer carreira nacional.
Marília Castelo Branco entusiasmou-se com a idéia da montagem não só pelo lado teatral, mas também por uma razão afetiva: seu avô, o livreiro e parapsicólogo Carlos Heitor Castelo Branco (1910-1985), foi grande amigo de Monteiro Lobato, que freqüentava a sua livraria "L' Art" (Rua Peixoto Gomie, 1805, Jardins, SP). Herdeira desta livraria - em sociedade com sua avó, Marília ali mantém o clima de bibliófilos notáveis, entre os quais José Mindlim, dono da Metal Leve - e um dos possíveis copatrocinadores de "O Saci".
Nota:
(*) Nos dias 16 e 17 de julho, uma comissão julgadora reunida na Fundação Teatro Guaíra analisou, criteriosamente, os 47 projetos inscritos por produtores e companhias de vários estados. Houve uma seleção mediante vários critérios e sujeitos a ajustes de orçamentos e outros detalhes, aos trabalhos a serem beneficiados - entre os quais do Paraná - serão anunciados nos próximos dias, possivelmente nesta semana. Serão beneficiados vários projetos do Paraná.
LEGENDA FOTO - Marília Castelo Branco e André Rosa, ela paulista, ele paranaense de Pinhal, apresentaram um projeto de fazer do clássico "O Saci" de Monteiro Lobato, um musical com canções dos irmãos Jean e Paul Garfunkel. A estréia seria na Ópera de Arame, direção de Ademar Guerra, cenários de Maria Bonomi, com temporadas em vários estados (foto Edu Batista)
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