"A encruzilhada", um reencontro do blues
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de janeiro de 1989
Numa das primeiras sequências de "A Encruzilhada" (Cine Ritz, desde ontem), quando o jovem Eugene Martone (Ralph Macchio) vai conseguir [?] o velho blueman Willie Brown (Joe Seneca) no modesto quarto em que ele se encontra, a imagem pode parecer conhecida de quem se liga aos blues: sentado numa cadeira, ao lado de um primitivo gravador que faz registro musical. A mesma imagem, em forma de desenho, está na capa do único lp do lendário blueman Robert Johnson que a CBS lançou no Brasil há três anos em sua Collector's Serie Jazz.
A imagem é proposital: Robert Johnson, figura lendária do mundo mágico dos clubes, mesmo sem aparecer, é o grande personagem de "Crossroads", um dos mais sensíveis e emocionantes filmes já realizados sobre a música que nasceu no "old south" americano e, com suas características próprias, fez uma escola que iria influenciar, seis décadas depois, toda a chamada geração do rockn'roll - de Elvis Presley aos Beatles e Rolling Stones.
Estranhamente, "A Encruzilhada" corria o risco de nem ser exibida em Curitiba. Como a Columbia havia desperdiçado esta produção num cinema de um shopping center, em São Paulo, criou-se a imagem de que o filme não tinha público, e foi para as prateleiras. Só a custa de muita insistência foi que o simpático Lourival conseguiu que, a nosso pedido, viesse uma cópia para uma sessão especial, numa manhã de sábado no Cine Bristol.
Músicos e jazzmaníacos convidados se entusiasmaram com o filme, o que afinal, animou o Aleixo Zonari a marcar "A Encruzilhada" para ser exibido no Cinema I entre 24 a 30 de março de 1988, onde foi visto por 1413 espectadores.
Agora, este filme que mereceu duas indicações entre os melhores - no referendum que estaremos publicando na edição dominical do Almanaque - e retorna no Cine Ritz - substituindo a "Um Filme l00% Brazileiro", que, infelizmente, já está cotado para o recorde de renda negativa do ano.
A reprise de "A Encruzilhada" soma-se ao retorno de "A Cor Púrpura" (Cinema I, somente às 20h30) e ao estranho "Subway" (Cine Guarani, bairro do Portão) como as únicas novidades desta primeira semana do ano.
Realmente, as distribuidoras não têm qualquer interesse em desperdiçar suas melhores produções neste mês de férias e no qual as melhores salas estão com filmes atraentes que vêm apresentando excelente faturamento. Assim, para quem já assistiu as atrações maiores - como o excelente "A Última Tentação de Cristo", de Martin Scorcese (Lido II), o criativo "Uma Cilada para Roger Rabbit" (Astor/Bristol), "Willow - A Terra da Magia" (Condor), a violência de "Desejo de Matar - 4" (Itália), e mesmo "O Casamento dos Trapalhões (São João/ Lido I/ Plaza) não há outras opções.
O que é bom! Afinal, sobra tempo para assistir a um dos muitos vídeos que tem chegado nas locadoras ou, melhor ainda, a leitura de um livro. Por que não, as memórias de Ingmar Bergman em "A Lanterna Mágica" ou a vida de Orson Welles contado por Barbara Leaning (L&PM), o excelente "A Cidade das Redes", de Otto Friedrich (Companhia das Letras) ou o trepidante "Fred Astaire - Uma Vida Maravilhosa" (Editora Ao Livro Técnico) - para ficar apenas em alguns exemplos dos muitos títulos para quem gosta de cinema e estão nas Livrarias Curitiba.
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