Os deputados, as ligas e o general Costa e Silva
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de abril de 1990
Do Dicionário Enciclopédico-Histórico da Política Brasileira aos estudos de Maria Vitoria Benevides ("O Governo Kubistchek", 1976; "A UDN e o Udenismo", 1981), entre outros livros sobre a história contemporânea, José Joffily, por suas atividades como parlamentar, sempre identificado aos blocos nacionalistas, merece várias citações. Muitas histórias cercam este paraibano rijo, autor de livros que tocando em temas polêmicos obtiveram projeção nos últimos anos.
Bastante curiosa é a história que o jornalista Ailton Santos, da "Folha de São Paulo", contou em 18/12/1986, mostrando uma das posições de Joffily - que foi um dos mais intransigentes defensores das Ligas Camponesas - razão pela qual, em abril de 1946, seu nome constou da primeira relação dos cassados.
"A Câmara dos Deputados envia ao Recife integrantes da Comissão da Reforma Agrária para investigar as atividades das Ligas Camponesas.
Viajam Neiva Moreira, Jacob Frantz e José Joffily.
No 4º Exército, o general Costa e Silva recebe os parlamentares sem muita paciência:
- "Não permito que as Ligas Camponesas usem as armas privativas do Exército. Já disse aos senhores. Estamos conversados".
O general tenta levantar-se enquanto fala:
- "Na mobilização que fizemos em Sapé, a título de treinamento, encontramos numerosas armas privativas do Exército".
- "Não, general" - respondem em coro, os parlamentares - "Não nos consta que tenha sido encontrado uma só arma".
- "Isso na opinião dos senhores" - insiste Costa e Silva.
- "General" - intercede José Joffily - "Se o senhor quiser encontrar armas privativas do Exército, na mão de proprietários de terras, é só designar alguém de confiança para percorrer o litoral e a zona de reflorestamento".
- "Ah, bom!" - responde Costa e Silva. "O senhor esta misturando as coisas. São vigias de proprietários de terra. Ele têm o direito de defender o seu patrimônio. E o camponês, vai defender o que?"
- "O que?" - exclamam, boquiabertos, os deputados, sem esperar resposta.
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