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Aramis

Uma tese para explicar a política das " Ligas "

Pela abordagem que fez sobre as ligas Camponesas da Paraíba e, especialmente , a colocação do asssinato do lider João Pedro Teixeira , presidente da Liga Camponesa de Sapé, atese "Camponeses em Marcha " ( Estudo das Ligas Camponesas Paraíbans - 1960/1964 ) do professor Cezar Augusto Carneiro Benevides interessou, mesmo, antes de ter sua apresentação acadêmica oficial , a vários editores. Coincidentemente , a sua defesa aconteceu na tarde de segunda-feira, 8, semana do 23º aniversário da morte de Pedro Teixeira, perante a banca examinadora presidida pela professora Odaha Regina Guimarães Costa, e da qual participaram o professor ( e deputado federal ) Helio Duque, o professor Fernando Antônio Azevedo ( autor de teses sobre as ligas Camponesas em Pernanbuco ) e professora Aspasia Camargo, da Fundação Getúlio Vargas. Outra coincidência é o fato do filma " Cabra Marcado para Morrer "., de Eduardo Coutinho ( cine Groff, 5 sessões diárias ), ter promovido o dabete em torno do memo tema. Ao focalizar a viúva Elisabete Teixeira, que não só apoiava a luta de seu marido, mas lhe deu continuidade, o documentário que Eduardo Coutinho levou vinte anos para poder concluir ( interropido que foi pela revolução ) promoveu o emocionante reencontro da familia Teixeira separada em março de 1964. xxx Ao analisar as participações politicas entre 1960/64, no amplo e complexo quadro da Paraíba, Cezar Benvides destaca também a presança de dona Elisabete Teixeira inclusive nas eleições de 1962 , quando foi candidata a deputada estadual sem contudo conseguir eleger-se embora a Liga Camponesa de Sapé tenha feito um parlamentar, Francisco de Assis Lemos, Naquela eleição, José Joffily - hoje indústrial em Londrina - trocou uma reeleição certa à Câmara Federal pelo PSD para numa posição coerente disputar o Senado pelo Partido Socialista Brasileiro . Aliás , dona Elisabete também concorreu a deputada da Paraíba pela Legenda socialista. A morte de João Pedro Teixeira provocou grande revolta popular e o crime foi noticia até em veiculos de divulgação no Exterior. Assim o governador Pedro Gondim se viu obrigado a prometer " punir os culpados " Manifestações se sucederam em vários pontos do Estado - especialmente comicios em João Pessoa, que a época foram filmados e estão em algumas sequências de " Cabra Marcados para Morrer ". Foram apontados como prováveis autores materiais do assassinato um sargento e dois soldados, todos da Policia Militar da Paraíba. O Chefe da Policia obteve a confissão dos militares e a constatação do envolvmento de elementos ligados ao Grupo da Várzea ( designação dos Grandes ruralistas do Estado ) . Uma Comissão Parlamentar de inquérito da Câmara Federal se deslocou a Paraíba para investigar as atividades das ligas Camponesas. Aumentaram as tensões e a opinião pública mobilizada impunha uma tomada de atitude das autoridades constituidas. Foi decretada a prisão preventiva dos comandantes do Grupo da Várzea : o industrial e suplente de deputado estadual pela coligação UDN-PL, Agnaldo Veloso Borges, do Engenho Recreio, e o proprietário Pedro Ribamar Ribeiro Coutinho , do Engenho Mirini, acusados de mandantes do crime. O crime foi para o lado político : na Assembléia, uniram-se os partidos conservadores - UDN-PSD - para impedirem a prisão do principal autor intelectual do crime. E o deputado udenista Joacir de Brito Pereira promoveu a trama para licenciar deputados, possibilitando ao acusado assumir uma cadeira , abrigando-se nas imunidades parlamentares. ( Para tanto, nada menos que 5 suplentes assumiram e renunciaram, para dar lugar ao sexto suplente Agnaldo Borges, e ficar acobertado pela impunidade. ). A imprensa também foi controlada : os três jornais de João Pessoa , : " A União ", " Correio da Paríba " e " O Norte ", procuraram minimizar o episódio. De toda a bancada federal da Paraíba , nde todos os partidos, apenas o deputado José Joffily , do PSB, defendeu o líder camponês trucidado. Joffily enfrentou o Grupo da várzea . Para ele só havia uma diferença entre o autor material e inteletucal do crime. É que o primeiro havia se escondido no mato, enquanto o seu patrão, o usineiro Aguinaldo Veloso Borges acobertava-se na Assembléia Legislativa da Paraíba . Na mesma linha de coerência e firmeza, o parlamentar paraíbano denunciou a tirania do latifúndiário, defendeu as Ligas Camponesas e acuou a fera do " Engenho Recreio " - o depoutado Borges. Em 29 de julho de 1962 o presidente João Goulart visitou João Pessoa. Falou em reforma agrária. E o clima no Estado estava ainda mais tenso. Menos de dois meses depois, aconteciam fatos violentos em Itabaiana, em que foram vitímas um professor e um lidar camponês - Pedro Fazendeiro ( que seria candidato a deputado estadual e posteriormente, assassinado pela Revolução ). Em 15 de janeiro de 1964 aconteceu a chamada " Tragédia de Mari ", envolvento soldados da Policia Militar, funcionários das usinas São João e Santa Helena e camponeses - do que resultaram dez mortos. E 75 dias depois acontecia a revolução, militar e as Ligas Camponesas eram sumariamente extintas, com prisões em massa, mortes e perseguições de lideres camponeses. xxx Vinte e um anos depois, hoje com o Brasil vivendo as esperanças de Nova Republica, as lições deixadas pelas Ligas Camponesas não devem ser esquecidas e por isto é tanto o filme de Euardo Coutinho como a tese de Cezar Benevides merecem especial atenção. Nada melhor do que a reflexão sobre o seguinte trecho na tese do professor Benevides : " A estrutura agrária , concentradora de terrra, poder e renda, torna inviável a categoria histórica dos camponeses, como elemento dinamizador do processo histórico , além de manter sobre eles constante ameaça da violência e morte. Daí a razão do "Sindicato da Morte ", instituido, segundo a opinião pública e os Anais da justiça, pelos grandes letifundiários para pôr fim à vida de João Pedro, de Margrida Alves e tantos outros, como se, eliminando-se do cenário existêncial , fosse-lhes possível anular em cada camponês a consciência de sua revolta, agravada pelo despreparo politico das elites diregentes. O que os latifundiários parecem ignorar é que a cada Severino, mortos na luta pela justiça social. Seguem-se outros tantos líderes dispostos a tudo enfrentar pela defesa da terra, aspiração de todos ".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
10/04/1985

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