O capítulo que faltou nas memórias de Drault
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de maio de 1989
Durante a gravação de seu depoimento para o projeto Memória Histórica do Paraná, o historiador e ex-político José Jofilly ofereceu ao menos uma página que o seu conterrâneo Drault Ernanny deixou de escrever no seu livro de memórias "Meninos, Eu Vi... E Agora Posso Contar" (Editora Record, 329 páginas), lançado há poucas semanas.
Drault Ernanny de Mello e Silva (nenhum parentesco com Roberto Requião de Mello e Silva), paraibano de São José dos Cordeiros, 83 anos, farmacêutico e médico (da turma de 1929), mas que fez fortuna como fazendeiro e, especialmente, empresário na área de combustíveis, exerceu alguns cargos eletivos. E foi, diretamente, o responsável pelo fato de Jofilly não ter sido eleito senador em 1962 - o que, possivelmente, lhe valeria, logo depois, sua indicação ao governo da Paraíba.
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Na convenção do PSD para as eleições de 1962, foi apresentado pela cúpula do partido uma exigência que pareceu a Jofilly absurda: o candidato ao Senado teria que arcar com 90 mil cruzeiros - uma fortuna para a época - e que representava uma maneira de afastá-lo como candidato natural ao Senado. Drault Ernanny, que era um político sem maior densidade na Paraíba - e apenas como suplente do senador Francisco de Assis Chateaubriand, por duas vezes havia exercido o mandato (maio de 1952 e junho/julho de 1954), elegendo-se depois deputado federal - garantiu, então, que arcaria com o custo da campanha. Afinal, homem riquíssimo, próximo ao poder (sua lendária "Casa das Pedras", na Gávea Pequena, no Rio de Janeiro, foi sempre cenário de festas famosas, hospedando políticos e artistas) julgava que o seu poderio econômico garantiria a vitória.
- "O que não aconteceu" - relembra Jofilly. "Pois o eleito para o Senado, pela Paraíba, foi João Agripino, numa coligação UDN-PDC, que lhe deu 137.373 votos. A outra vaga foi para o petebista Argemiro de Figueiredo" .
Jofilly, decepcionado com a armadilha econômica que lhe prejudicou, ingressou no Partido Socialista Brasileiro, mesmo sabendo que por esta sigla não teria chances de vitória.
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Em "Meninos, Eu Vi... E Agora Posso Contar", Drault Ernanny faz apenas uma mínima referência a Jofilly, quando relata um atentado que seu irmão, Dedé, sofreu no Rio de Janeiro, na Rua República do Peru, em Copacabana, após ter saído da casa de outro irmão, Joffre, no qual havia ido jogar cartas com José Jofilly e Vergniaud Wanderley. Sobre sua candidatura ao Senado, pela Paraíba, Drault Ernanny não toca - ao menos referindo-se a Jofilly.
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Ao longo de seu livro, entretanto, Drault faz referências a centenas de políticos, artistas e mesmo personalidades internacionais - como o astronauta Yuri Gagarin, que hospedou em sua mansão na Gávea Pequena.
Na esperança de que este novo livro de memórias possa repetir o êxito de "Minha Razão de Viver", do jornalista Samuel Wainer, a editora Record distribuiu um release no qual diz: "Com este livro ilustrado com fotos da época, as portas da Casa das Pedras nos são abertas. Sua leitura nos conduzirá a salões onde os rumores, os acordes e os diálogos de solialites e conspiradores ainda ecoam. Por suas páginas assistiremos ao desenrolar de importantes episódios, políticos, sociais ou artísticos do país nas últimas quatro décadas, desde a Revolução de 30, de mistura com intentonas provincianas (como o levante de Princesa Isabel, na Paraíba) até as grandes conspirações, revoluções, golpes de Estados, arranjos e permutações políticas de todos os matizes. Vividas por personalidades como Dutra, Vargas, Jango, Juscelino, Costa e Silva, Castelo Branco, Geisel, Jânio Quadros, Gagarin e tantos outros, aqui são contadas histórias que o vento não leva porque compõem um inestimável retrato do Brasil".
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