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Aramis

Mathias, o jornalista que derrubou o Brasil

Quem diria! Howard Hughes (1905-1976), o lendário produtor cinematográfico, construtor de aviões, pousou no aeroporto do Bacacheri, há mais de 50 anos, para reabastecer o seu Lowheed com o qual bateu o recorde de volta ao mundo, até então, percorrendo o planeta em apenas 3 dias, 19 horas e 12 minutos. Na mesma época, por um pane no avião que os conduzia em direção a Buenos Aires, o ator Henry Fonda (1905-1982), o cantor Pedro Vargas e a cantora Bidu Sayão, passaram um noite no Grande Hotel Moderno. Como foi possível convencer o presidente Eurico Gaspar Dutra a nomear um jovem professor paranaense, Brasil Pinheiro Machado, para a interventoria do Paraná e, pouco tempo depois, liderara uma oposição tão feroz que o levaria a sua demissão? Na primeira eleição para governador do Paraná, após o Estado Novo, como fazer o candidato Moysés Lupion ter o apoio do PSD e PTB, enquanto segurava-se a indicação de Bento Munhoz da Rocha Neto pelo então pequeno mas atuante PR. E, logo depois, a idéia de fazer Getúlio Vargas concorrer a deputação federal e a senador por vários estados? O jornalismo romântico, boêmio e profundamente polêmico que explodia nas décadas de 30/40 na Curitiba, fazendo faiscarem editoriais no velho "O Estado", "O Dia" e, por último, no "Diário Popular" - trazendo oposição ou apoiamentos a líderes políticos da época - em tempos diferentes mas extremamente marcantes. E também as noitadas do Cassino Ahu, os romances com as belas bailarinas húngaras que passavam por Curitiba, destruindo corações de apaixonados de todos os matizes! xxx Unindo estas - e tantas outras estórias da Curitiba dos últimos 50 anos - um homem modesto, grandes pestanas, que, aos 74 anos, tem, sem dúvida muito a contar: Mathias Júnior, jornalista, político e, sobretudo, petebista histórico - um dos idealizadores e fundadores do partido Trabalhista Brasileiro - de cuja diretoria continua a fazer parte, 44 anos após a sua criação. xxx Um pouco dos tempos & histórias vividas e testemunhadas por Mathias Júnior foram gravadas ao longo de 4 horas no reinicio do projeto Memória Histórica do Paraná, patrocinado pelo Bamerindus. Um dos mais seguros, detalhados e completos depoimentos da longa série que a equipe coordenada pelo veterano João De Deus Freitas Netto vem colhendo há quase 3 anos, com pessoas que, em diferentes setores e atividades, assistiram as transformações do Paraná, a palavra de Mathias Júnior, modesta mas sincera, enriqueceu o acervo que dentro de algum tempo, será transformado em imagens editadas e uma série de publicações. Jornalista não é notícia, faz notícia. Por isto, ao longo destas cinco décadas em que atuou na imprensa paranaense, Jorge Mathias Júnior, paranaense de Irati, poucas vezes falou de suas experiências. Mas se aceitar a sugestão de amigos - que há muito lhe cobram um exercício memoralístico mais profundo - terá muito a dizer a história política do Paraná, abordando desde os tempos do interventor Manoel Ribas e, especialmente, os bastidores das eleições de 1947, quando foi um dos estrategistas para levar o PTB, do qual havia sido um dos fundadores, apoiar o candidato Moysés Lupion. Envolvido com a política desde 1933 - quando, ainda aluno do Colégio Rio Branco, foi a Praça Osório para, em inflamado discurso, atacar o governo de Afonso Camargo - acusado de várias irregularidades administrativas. Mathias nunca mais parou de fazer e pensar política. Jornalista atuante desde quando José Augusto Gumy garantiu seu primeiro salário de cinqüenta mil réis em "O Estado", Mathias Júnior viveu uma fase intensa da imprensa curitibana. Assim passou por "O Estado", "O Dia" e, especialmente, no "Diário Popular", que editou por três anos, a partir de 1º de maio de 1947 - quando o trouxe às ruas para fazer oposição ao seu ex-amigo Brasil Pinheiro Machado, então interventor do Paraná, cargo para o qual Mathias se considera diretamente responsável, por tê-lo indicado ao então presidente Dutra. Revela, a respeito, um detalhe que até hoje não consta da história oficial: - "Com a queda de Getúlio e o fim dos 13 anos de interventoria de Manoel Ribas, que era meu amigo, a primeira idéia seria lançar o próprio Ribas como candidato nas eleições diretas que, numa manobra, haviam sido marcadas para 1947. Entretanto, o desembargador José Linhares, na ditadura jurídica que marcou o período de transição, astutamente estabeleceu um casuísmo de que os homens que haviam participado em cargos importantes no Estado Novo não poderiam disputar eleições. Se isto acontecesse, Ribas no Paraná seria imbatível". Precisava-se, então, de um outro candidato. O próprio Ribas lembrou-se de um jovem e ambicioso empresário de Jaguariaíva, que admirava pela sua garra: Lupion. E indicou seu nome como um bom candidato. Porém havia o processo de interventoria nomeada pelo presidente Dutra - antes das eleições diretas. O próprio Lupion já era um dos nomes para constar da lista quíntupla. Isto, entretanto, o tornaria inelegível para o período normal. Mathias Júnior, então, mostrou seu lado maquiavélico: - "No Rio de Janeiro, num encontro com Dutra e o general Góes Monteiro, indiquei o nome de Brasil Pinheiro Machado, como o de um homem íntegro, apolítico e que seria o administrador ideal para o delicado período de transição". Se no início as relações entre os dois eram boas, com o passar do tempo elas romperam-se - especialmente porque Brasil preferiu prestigiar o professor Milton Vianna como interlocutor junto ao então nascente do PTB. Veio o rompimento público do PTB e o interventor, decidido numa assembléia em 27 de abril de 1946 e, cinco dias depois, Mathias, como um dinâmico fac totum, colocava nas ruas o "Diário Popular", vespertino publicado pela Editora "O Dia" - e que fez cerrada oposição até a queda de Brasil Pinheiro Machado, alguns meses depois - quando foi substituído pelo coronel Mário Gomes da Silva - cuja administração foi calamitosa. Mas que é história para ser contada em outra ocasião. Assim, Mathias Júnior, orgulha-se de dizer: - "Eu fiz Brasil Pinheiro Machado interventor. E também o derrubei". LEGENDA FOTO - Mathias Júnior: 44 anos de petebismo no Paraná.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
02/02/1990

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