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Aramis

Os problemas que o homem plantou na terra do Oeste

Um dos aspectos cuidadosamente estudados na elaboração das Diretrizes de desenvolvimento regional dos municípios lindeiros ao lago de Itaipu foi a realidade econômica. Com a experiência do economista Costa Carnieri e do agrônomo Ivan Zuateg, se levantaram parâmetros daquela região, suas perspectivas e também problemas que existem em termos de aproveitamento do solo - especialmente a partir dos anos 70, quando a agricultura passou por transformação radical. Com o intuito de aproveitar a enorme fertilidade das terras e a mão-de-obra advinda especialmente por colonos de origem alemã e italiana, migrantes do Rio Grande do Sul (esvaziado em sua fronteira agrícola na década anterior), a enorme fertilidade do solo, seus declives suaves (favorecendo a mecanização) estimularam, inclusive, a organização em cooperativas. O governo privilegiou a região com doses gigantescas de créditos (para máquinas, desmatamentos, compra de adubos e sementes e agrotóxicos), construindo-se também uma rede de vias de escoamento de produção. Assim, em decorrência do investimento na assistência técnica, construção de armazéns e estabelecimentos de organismos encarregados de estabelecer um cooperativismo protecionista, se deu origem a uma estrutura na produção, armazenagem e comercialização de grãos que fez a soja tornar-se rainha, ao lado do trigo. As conseqüências desse processo sentiram-se em poucos anos. As propriedades policultoras, inicialmente estabelecidas, derrubaram seus pomares, destruíram hortas, substituíram os cultivos alimentares e a monocultura - com o uso intenso da terra - passou a ser a característica da paisagem. Em compensação, durante os anos 60/70, os investimentos na proteção do meio ambiente foram mínimos. E nesse quadro teve início um processo de destruição da fertilidade de uma das áreas mais ricas - num crime ecológico sem paralelo no Estado. Hoje, a erosão hídrica é o maior problema da região. O total anual, medido em Cascavel, vai a 1.228 tonelâmetros, ou seja, de 12 mil majaules, de capacidade erosiva. Dentro de um planejamento regional, há necessidade de se estudar os problemas em relação ao lago de 1.350 km2. Entre as preocupações que levaram a Binacional Itaipu a promover este grande projeto - que começa a ser discutido com todos os setores envolvidos - está o da compatibilização dos interesses derivados da existência com a região que envolve o lago. Como diz o economista Carnieri, "há que pensar nos benefícios sociais, econômicos e ambientais que essa relação entre as partes estabelece". Com relação à agricultura, especificamente, Itaipu considera os seguintes pontos: 1) Uso dos solos nas bacias hidrográficas da vertente do lago; 2) o emprego de agrotóxicos; 3) as possibilidades de alteração das técnicas agropastoris em alguns setores adjacentes ao reservatório; 4) ampliação das opções de pesca (desenvolvimento da agricultura) e 5) adaptações sócio-econômicas decorrentes da submersão de áreas e localidades rurais. A região está imobilizada, tecnicamente, por um tipo de exploração agrícola que não permite mudanças a curto prazo, em função dos investimentos já feitos em maquinaria, em sistemas de armazenagem e estrutura de comercialização. Um diagnóstico do governo estadual dá os seguintes fatores, como agravantes do processo. Em relação ao uso do solo uma baixa cobertura arbórea (isto é, florestas, bosques sombreadores ou culturas perenes); insuficiência de cobertura vegetal em períodos críticos; estrutura do solo já degradada e desconhecimento dos agricultores sobre uso agrícola. Com relação ao preparo do solo constata-se pobreza em materiais residuais, redução da atividade biológica, compactação da superfície pela circulação de máquinas. Houve, assim, distorções na estrutura fundiária (dificuldade nos trabalhos de manejo, linhas divisórias desconsiderando questões hídricas) e, por último, estradas mal planejadas. As questões acima são as principais mas há ainda a questão da poluição dos mananciais (especialmente devido uso de agrotóxicos).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
02/02/1990

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