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Mathias, o memorialista do petebismo paranaense

Embora alguns títulos tenham enriquecido a bibliografia sobre a política contemporânea, grande parte com origem em dissertações e teses de mestrados, ainda escasseiam estudos sobre os partidos em diversos Estados. O Paraná é um exemplo desta pobreza editorial, o que dificulta, inclusive, o trabalho de analistas de nosso comportamento político-social, pois só conhecendo-se os bastidores da vida pública, dos meandros partidários e daquela história "não oficial" - mas fundamental, é que se pode, muitas vezes, entender certos comportamentos e atitudes. Entre os veteranos jornalistas com atuação na área política que, mesmo bissextamente, têm dado suas contribuições, estão os respeitados Samuel Guimarães Costa, 71 anos e (Jorge) Mathias Júnior, 74 anos. Em dois longos depoimentos prestados ao projeto Memória Histórica do Paraná, patrocinado pelo Bamerindus, Mathias historiou não só a sua vida de jornalista, a partir dos anos 30, participante de uma época risonha e franca da imprensa curitibana - desenvolvida especialmente em "O Dia", para onde foi levado por José Augusto Gumy como sua vida política, (quase) sempre nos bastidores. Tendo acompanhado a política a partir dos anos de interventoria de Manoel Ribas, Mathias Júnior é, especificamente, o memorialista do Partido Trabalhista Brasileiro, do qual foi um dos ideólogos e fundadores, oficialmente nascido numa assembléia realizada na antiga Sociedade de Educação Física Duque de Caixas, na Rua José Loureiro - onde hoje existe as Lojas Muricy. Ali, em 8 de junho de 1945, a União dos Trabalhadores do Paraná, movimento que havia sido criado algum tempo antes, já estimulado pelo ainda ditador Getúlio Vargas, se tornaria o PTB, "sigla pela qual passei a viver e morrer", diz, com indisfarçável orgulho, o bom Mathias, paranaense de Irati, solteirão convicto, e que se tivesse que assinar uma ficha de identificação, colocaria ao invés de qualquer das outras profissões que exerceu, a de "petebista". Histórico, acrescentamos. Coube a Mathias Júnior levantar, em termos nacionais, a proposta da candidatura de um mesmo político por vários Estados, o que beneficiaria Getúlio Vargas, tendo a consagração de obter 10 vitórias: senador pelo Rio Grande do Sul e São Paulo e deputado federal por 8 Estados, inclusive o Paraná. Como só poderia ocupar uma vaga, a segunda cadeira do Senado que conseguiu beneficiou o paulista Alexandre Marcondes Filho e a de deputado federal pelo Paraná ficou para Rubens de Mello Braga, que, mais tarde, voltaria ao Senado, mas já como suplente de Amaury Silva, quando este teve seus direitos políticos cassados em 1964 (era Ministro do Trabalho no governo João Goulart). Presente sempre nos bastidores políticos, Mathias Júnior trouxe revelações e fatos que, com maiores detalhes, podem oferecer material para um excelente livro. Por exemplo, quando o general José Agostinho dos Santos, paranaense de Palmeira, estimulado por alguns amigos, foi picado pela mosca azul e começou a tentar sua campanha ao governo do Paraná, mas numa manobra que não daria certo. No final, o PTB apoiou Moyses Lupion - cujo nome, simpático inclusive ao ex-interventor Manoel Ribas (era um próspero e competente empresário, com uma visão desenvolvimentista) havia sido cogitado inclusive para o mandato-tampão. Mathias recorda-se que foi um dos primeiros petebistas a se encontrar com Lupion ("o encontro foi na Rua 15 de Novembro, defronte a Casa das Meias"), para iniciar as desmanches. Outras lideranças que se destacaram a partir do final dos anos 40 e na década de 50, têm, também sua vidas públicas repletas de aspectos curiosos, tão bem conhecidos por Mathias. Por exemplo, a disputa de Júlio Rocha Xavier, um dos constituintes em 1947, a chegar a convenção que indicaria o candidato - mas que foi marcada por violenta oposição do jornalista Roberto Barroso - do qual resultou um duelo na praça Carlos Gomes que, diz Mathias, foi como a Batalha de Itararé: "na verdade, nunca aconteceu da forma que ficou no folclore político paranaense". Abilon de Souza Naves, mineiro de Uberlândia, vindo para o Paraná nos anos 40, seria a grande liderança petebista que cresceria ao ponto de, mesmo existindo outros políticos de projeção, que vencendo uma timidez inicial, se tornaria um grande orador. Mathias diz que a técnica que bolou para que Souza Naves perdesse a inibição em falar em público, fosse ensaiar defronte de um espelho. "O espelho é o povo, acostume-se a encará-lo". Deu certo, pois em pouco tempo Souza Naves tornava-se um orador carismático. Para 1948, nas eleições no Senado, Souza Naves havia escolhido para suplente um jovem político do interior, Walter Guimarães da Costa, prefeito de São Jerônimo da Serra. Foi quando aquele jovem petebista foi assassinado a 31 de dezembro de 1957, num dos crimes políticos mais violentos do Estado - e que, passados 33 anos, ainda não teve uma revisão histórica. LEGENDA FOTO - Walter Guimarães da Costa, ao lado de Souza Naves e outros políticos do PTB em 1956. Se não fosse assassinado, teria sido o substituto de Nelson Maculan na campanha ao governo do Paraná em 1960.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
19/04/1990

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