Belo canto de gatas sonoras
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de julho de 1987
Agradáveis vozes femininas, de diferentes estilos. De princípio, Nana Mouskouri, grega, radicada na França, agora tornando-se conhecida no Brasil. No ano passado, no disco "Liberdade" já cantava em português. Sua música "Only Love", tema da minissérie de TV "Quando Pinta o Amor" e trilha sonora da novela "Selva de Pedra" emplacou nas paradas de sucesso. Agora, voltou ao Rio de Janeiro para lançar seu novo elepê ("Why Worry", Polygram), com um repertório variado - e cuja faixa título (de Mark Knopfler) está sendo bem executada. Há uma regravação de "Yesterday" (Lennon/McCartney) e para "Sweet Surrender" (John Denver) uma interpretação suave, sua marca registrada. Entre as curiosidades, uma nova leitura de "Love Me Tender" (Elvis Presley) e, encerrando o disco, "Every Grain of Sand" (Bob Dylan).
Filha de Thelma Houston, a gatona Whitney foi o grande destaque na festa do Grammy-87. Belíssima, boa voz e sabendo escolher bem o seu repertório, esta cantora em ascensão ultrapassou há muito sua mãe em termos de vendagem e espaço promocional. Seu novo elepê (RCA, junho/87), tem um punhado de composições inéditas, bem desenvolvidas poeticamente e com ótimos arranjos.
Outra bela cantora, sensual e envolvente, é Shirley Jones - não confundir com a atriz de cinema dos anos 60 (1), que chega em seu elepê de estréia ("Always In The Mood", Manhattan, EMI/Odeon). Apesar de só agora estar com seu primeiro disco na praça, ela já tem alguns quilômetros de estrada. Com suas irmãs Brenda e Valerie formou o Trio Jones Girls que, por anos, fez coro para Diana Ross em suas apresentações e chegou a gravar quatro elepês. Diana sempre dava um espaço em seus shows para que as meninas pudessem mostrar seu talento. E a própria Miss Ross estimulou a Shirley a fazer carreira solo, quando a Philadelphia International Records a contratou. Como dezenas de outros cantores, filha de pais protestantes, começou cantando na igreja que seus pais freqüentavam em Detroit.
Este seu "Always In The Mood" é um elepê gostoso. A própria Shirley o classifica como "feito para dançar e namorar". São baladas e músicas funk, românticas e até dançantes: "Do You Get Enough Love", "She Knew About Me" (que Gamble / Griffin escreveram especialmente para ela), "Caught Me With My Guard Down" e a sensual "Breaking Up".
Finalmente, temos a já conhecida Kate Bush, recentemente premiada na Inglaterra, que chega com novo disco ("The Whole Story", EMI/Odeon). Kate tinha 17 anos quando foi levada por David Gilmour, do Pink Floyd, a EMI, para gravar "Wuthering Heights", que fez sucesso e lhe valeu o primeiro elepê ("The Kick Inside").
Com sua voz potente, explorando tanto os agudos como os graves, formação clássica (estudou violino e piano), Kate manteve-se à margem dos modismos do rock inglês nestes 10 anos de estrada. Como escreveu Antônio Carlos Miguel no "Jornal da Tarde", "enquanto punks e descendentes pregavam a descontração e a energia acima de tudo, ela acenava com sofisticação e erudição". Assim, se seus primeiros discos ficaram mais nas intenções do que nos resultados, com os conceituais "The Dreaming" (1982) e "Hounds of Love" (1985), Kate confirmou sua maturidade como compositora, cantora, instrumentista e arranjadora. Nesta coletânea, estão alguns de seus sucessos - de "Wuthering Heights" a "The Dreaming", além de uma canção nova, "Experimen IV". Para o crítico do "Jornal da Tarde", Kate foi, de certa forma, uma precursora do revival dos 60 e muito de sua música lembra o psicodelismo e os Beatles de "Sgt. Pepper" - lançado há 20 anos. Mas ela não fica apenas na repetição e tem muito vigor e criatividade.
NOTA
(1) Shirley Jones, atriz norte-americana (Smithon, 1934) começou a ficar famosa após apresentar-se em musicais como "South Pacific" e "Me and Juliet". Em 1955, foi escolhida para um dos papéis centrais de "Oklahoma", musical de Rodgers & Hammerstein, dirigido por Fred Zinnemann. Há anos que não aparece mais no cinema.
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