Selma, a professora com voz maravilhosa
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de julho de 1989
Na reunião que marcou ontem, ao entardecer, no bar Cristal, os dois anos de fundação do Blue Note Jazz Club, quem apareceu para dar uma canja foi a esplêndida Selma de Castro. Há várias semanas que esta cantora de voz especial e inteligente repertório andava afastada dos microfones, por uma nobre razão: seu lado de professora falou mais alto e estava preocupada em defender sua tese de mestrado em antropologia social junto ao curso de pós-graduação na Universidade de Campinas.
Finalmente, no dia 3 de julho, a banda examinadora formada pelos professores Carlos Rodrigues Brander, Rubens Alves e Ana Maria Niemeyer aprovou com distinção sua tese "Glossolalia: O Sentido da Desordem - A Simbologia do Som na Constituição do Discurso Pentecostal". Em 315 páginas, datilografadas, resultado de um ano de pesquisas e estudos, para obtenção de mais um título para um curriculum já admirável.
Agora, com o título de mestre em Antropologia, Selma pode, em suas horas livres, voltar a (en)cantar (com) seu repertório, devendo, inclusive, ser a crooner da nova orquestra de Genésio Ramalho para a boite "All Seasons", do Hotel Bourbon Tower, cuja abertura foi adiada por duas vezes.
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Selma de Castro também está revisando o texto de um trabalho acadêmico, desenvolvido nos últimos anos, no qual estudou a situação econômica e ideológica dos músicos curitibanos e ao qual deu um título dos mais bem sacados: "Fim de Baile: Músico a Pé - No Compasso do Capitalismo Musical". Somado com dois outros textos reflexivos sobre os instrumentistas paranaenses - seu universo, suas limitações e seus problemas - este material constituirá um dos próximos volumes da série "Cadernos do MIS", que Valêncio Xavier vem sabendo editar, de forma econômica (xerox, capas simples) através do Museu da Imagem e do Som.
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Nascida em Paraguassu Paulista, 42 anos, comemorados no dia 20 de junho, curitibana de coração desde 1962, quando seus pais vieram para cá, Selma de Castro - na melhor tradição das grandes cantoras americanas - começou a mostrar sua bela voz ainda nos tempos de menina, em corais religiosos. Na Igreja Evangélica da Rua Comendador Araújo, a adolescente Selma encantava com sua textura sonora e chamava atenção para interpretações emocionantes. Uma carreira que poderia tê-la conduzido até o canto lírico acabou sendo interrompida, mas jamais deixou a música. Formada em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná, turma de 1982, leciona há cinco na Pontifícia Universidade Católica do Paraná, cadeira de Sociologia e Antropologia.
As atividades no magistério, na área justamente ligada à sociologia e antropologia, somadas com sua vivência musical, a levaram a se preocupar em estudar o meio musical curitibano, procurando entender as limitações e problemas. O resultado é o trabalho: "Fim de Baile: Músico a Pé", que, finalmente, poderá ser conhecido de todos através do MIS. E cuja edição estimulou-a a fazer um novo trabalho, desta vez focando sua sensibilidade numa pesquisa sobre o músico Genésio Ramalho, baterista e líder de uma orquestra que marcou época na cidade - e que agora, parece, voltará no luxuoso "All Seasons".
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