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Aramis

O mercado para nossos músicos

Não há registros confiáveis - e a própria secção regional da Ordem dos Músicos do Brasil não sabe informar corretamente - mas existem hoje mais de 50 casas noturnas em Curitiba que empregam músicos. Independente de apreciações estéticas e da qualidade sonora, o fato é que o mercado ampliou-se. É bem verdade que em termos de pagamento nem sempre as tabelas do sindicato são respeitadas e pela própria instabilidade do mercado são raros os músicos que podem impor os seus preços. Selma de Castro, paulista de Paraguaçu, mas com 34 de seus 40 anos vividos no Paraná, cantora, antropóloga e professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, já desenvolveu um ensaio sobre a marginalização do músico em Curitiba ("Fim de festa, músico a pé") que o Museu da Imagem e do som deve editar em sua série de "Cadernos". Tema também de sua tese de mestrado (atualmente, na UNICAMP, ela prepara o doutorado, desta vez abordando a música evangélica & o misticismo), Selma foi uma das poucas pessoas até hoje a tentar um enfoque, com profundidade, da situação do instrumentista profissional em nosso mercado. Que, a rigor, não se diferencia, do panorama de dezenas de outras cidades - onde o músico é tratado de forma desumana, sem respeito aos seus direitos e geralmente submetido a pagamentos muito menores do que merece. Por isto, só quando um músico profissional como Nilo Santos dono da casa Nilo's Samba & Choro, é também o empregador é que a situação se inverte. Dificilmente alguém terá alguma queixa contra Nilo-empregador, assim como todos admiram o Nilo violinista. Ele admite: - "Não foram poucas as vezes em que usei todo o dinheiro para pagar prioritariamente os músicos e cantores. Só depois de saldar estes compromissos é que posso pensar em outras despesas." Já com uma estrutura empresarial que o faz independer dos resultados de sua casa para honrar os compromissos, o engenheiro Sérgio Bittencourt, 35 anos, está conseguindo fazer de seu Habbeas Corpus um espaço de valorização dos melhores músicos da cidade. Após uma desastrosa experiência com um péssimo grupo de rock que quase afastou sua freguesia tradicional, Sérgio entendeu a necessidade de manter bons músicos na casa. Com isto, conseguiu disciplinar até o criativo mas imprevisível Fernando Oliveira - o "Fernandinho Louco", e trazer, de volta a noite, um dos melhores pianistas da cidade, Braulio Prado, 46 anos. Hilde Christine, cantora curitibana que há mais de 10 anos mora em São Paulo, aceitou vir nos fins de semana mostrar sua afinada voz para o público do Habbeas Corpus. Restaurantes, bares, nights clubes e inferninhos - cada um a sua maneira - têm músicos contratados. Muitos restaurantes ficam apenas no esquema de um solitário violonista-cantor, capaz de (en)cantar um repertório elétrico. Daniel Mazze, um bom profissional, sempre que se dispõe a atuar num ponto fixo é muito disputado e até há pouco era atração de bar do hotel Rochelle. Já o pianista Fernando Montanari, experiente profissional, chegou a planificar um esquema musical que prometia bastante no piano-bar-restaurante San Genaro. Mas pelo visto as relações enfraqueceram e retornou ao restaurante do Hotel Slaviero. A noite curitibana, que no passado tinha em Paulo Wendt o seu chamado "rei", hoje ganhou uma dupla de comandantes: Aldo e Celso, que possuem o "Metrô", "Roda Viva", "Lido", "Flics" e "Viva Maria", casa das mais movimentadas e que apresentam shows. Já o ex-garçon Almir deixou o Metrô e tem hoje o "Bugatti", enquanto que atuando numa faixa de extrema simplicidade - mas com muita valorização aos instrumentistas - o simpático Saul fez de sua Trumpet's na rua Cruz Machado a casa mais movimentada do chamado baixo Leblom curitibano. Ampliado recentemente, o descontraído ambiente do estimado Saul recebe os melhores músicos para canjas que se estendem até o amanhecer. Na semana retrasada, alguns dos instrumentistas do Traditional Jazz Band ali estiveram e mostraram aquilo que, infelizmente, no péssimo espetáculo feito no auditório da Reitoria, não tiveram condições de apresentar: improvisos realmente jazzísticos. Quem ali esteve, vibrou!
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
06/06/1990

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