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Aramis

Jamil, romântico brasileiro sonhador da noite curitibana

Na faixa que dá título ao seu terceiro elepê, Jamil Hussein de certa maneira sintetiza aquilo que sempre foi o sonho de milhões de brasileiros: dinheiro, mulheres bonitas e, de certa forma, uma espécie de poder. Mas assim como em "Acertei no Milhar" (Wilson Batista/Geraldo Pereira - 1945) - que o octogenário Moreira da Silva imortalizou, no final tudo não passa de um sonho. Jamil é também um sonhador. Um curitibano - por acaso nascido em São Paulo (4 de setembro de 1952) mas que há pelo menos dez anos tenta buscar se espaço em nosso mundo artístico. Simpático, good looking, cantor afinado e também com músicas simpáticas, Jamil tem lutado por seu espaço em nossa (pobre) noite musical. Não só em Curitiba, mas em outras cidades, pois no vigor de seus 28 anos entende que, tal como diz em seu "Brasileiro, sonhador", se ficar o bicho come. Portanto, tem feito incursões pelo Interior, a outros estados, apresentado-se em todos os espaços possíveis. - "E não está fácil, irmão", diz, referindo-se a retração do mercado artístico nestes tempos colloridos. Nascido em São Paulo mas curitibano desde os 7 anos, freqüentador de espaços em rádio e televisão abertos a talentos cancros, Jamil foi um dos artistas que conseguiu destacar-se nos bons tempos do programa de televisão de Mário Vendramel - na mesma época em que outro curitibano esforçado, Roedil Caetano, seu amigo e parceiro desde aquela época, também buscava seu lugar. E desde então não parou mais: esteve em programas de televisão em São Paulo, fez circuitos das churrascarias no Rio de Janeiro e, com sua simpatia, chegou a ganhar até papéis de figuração em novelas como "SemiDeus" e pontas em filmes de Jece Valadão. xxx Jamil não é o único cantor da noite curitibana mas é, sem dúvida, um dos que tem mais garra. Graças a isto foi que há 11 anos, em São Paulo, fazia sua primeira gravação com "Quero que o mundo se dane" que conseguiu uma invejável vendagem de 32 mil cópias - um sucesso para disco de um estreante. Cinco anos depois, já com o selo Polygram, fazia uma nova gravação, "Quando ela passa", que obteve também boa repercussão. Gravação debaixo do braço, fazendo roteiro dos clubes, casas noturnas, rádios e televisões que possuem programas ao vivo - "cada vez mais escassos", queixa-se com razão - Jamil teve que esperar cinco anos para fazer um novo disco. Já com músicas que mostram um lado mais descontraído, embora sem abandonar o seu lado romântico, produziu o disco que levado a Osmar Zan e Geraldo N. da Silva, diretores da etiqueta Brasdisc, de São Paulo, ganhou edição por este novo selo independente. Uma produção bem cuidada, desde as sessões das gravações ao acabamento, inclusive com uma colorida foto de João Quadros sobre um Ford 1930, cuja placa JA-1.000 - não deixa de ser um trocadilho visual. O ex-vereador, empresário e presidente do Clube dos Colecionadores de Automóveis, Luiz Gil Leão, foi quem deu a dica para Jamil encontrar este carro com a placa ajustando-se ao espírito da capa pretendida. Embora produzido no ano passado, só nos últimos três meses é que Jamil estimulou sua promoção junto a Curitiba. Além de um roteiro junto a emissoras - infelizmente nem sempre abertas, como deveriam a prestigiar os nossos artistas (o que aqui temos, insistentemente, reclamado), Jamil tem buscado fazer com que sua música seja conhecida. Embora as [casas noturnas] com música ao vivo tenham aumentado em Curitiba (ver texto nesta mesma página), ainda são poucos os "empresários" noturnos que se mostram dispostos a investir em talentos locais, especialmente cantores - preferindo esquemas de custos reduzidos, embora qualitativamente nem sempre satisfatórios. xxx Autor de nove das dez faixas deste seu terceiro disco, Jamil traz também parceiros como Abrão ("Gente Fina Gente Boa"), Roedil Caetano ("Te Procuro"), de Saulo, Luiz Léo (na faixa título "Brasileiro Sonhador") e o veterano Victor Bass - com quem divide "Cavalgando ao Vento". Victor Bass, como aqui há muitos anos registramos, é outro exemplo de cantor da noite curitibana, obra fértil e que conseguindo amorosos financiamentos tem inclusive produzido elepês instrumentais, com arranjos do pianista Fernando Montanari, gravados nos estúdios da Audisom - e conseguindo vendagem no sistema de mão-a-mão. Tanto é que seu novo disco, mesmo sem ter maior divulgação, acabou tendo a primeira edição esgotada em pouco tempo, para alegria do bom Victor, figura afável e cordial da madrugada, com seu violão que já embalou sonhos de muitas musas (e mecenas) de seus devaneios musicais. xxx Dentro de nossa vida musical, a juventude de Jamil ou o romantismo de Victor Bass são dignos de registro (e mesmo aplausos) pela persistência com que enfrentam um mercado cruel em termos de compensação financeira. E, como diz Jamil: - "Nem só de aplausos e beijinhos, beijinhos, vive o artista!" LEGENDA FOTO - Jamil Hussein, o cantor que sonha com melhores noites, capazes de um dia lhe render o suficiente para ter um carro como o que, por enquanto, só aparece mesmo na capa de seu LP.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
06/06/1990

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