Colunismo III : quando chegou a hora das sociedades de bairros
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de maio de 1984
Uma análise interpretativa da evolução do colunismo nos últimos 30 anos poderá trazer interessantes conclussões. Afinal, no dia-a-dia da noticia,da mais util amenidade a mais grave denúncia impressa numa coluna assinada, está o registro da história ( e das estórias ) da cidade e do Estado - na permanência que a imprensa garante a informação ( ao contrário da instantaneidade do rádio e da telvisão ). Por isso, é natural que nas colunas sociais esteja precioso material para o estudo do comportamento, modismos, da sociedade ( sem sentido mais amplo ) de qualquer cidade.
Por exemplo, foi a partir da visão politizada do grande Samuel Wainer, ao fundar, há 32 anos, a " Última Hora ", no Rio de Janeiro, que se passou a descobrir a importância da cobertura se estender também aos clubes suburbanos, às sociedades mais humildes - anônimas até então na imprensa, mas um potencial imenso de leitores. Por isto, quando a " Última Hora "em sua fase de expansão no governo João Goulart, entre 1961 / 64 ), chegou a Curitiba, a partir do dia 7 de setembro de 1961, montando uma agilissima equipe na sucursal instalada numa das lojas do Edificio Asa, uma das preocupações de seu primeiro diretor local, Michel Cury. Foi encontrar um colunista para cobrir além dos clubes tradicionais. Também os dos bairros. Naym Libos, filho de libaneses, moço inteligente, bem apessoado, iniciou este trabalho, na coluna " Luzes da Cidade", estendendo-se ao Interior, pretigiando clubes de várias cidades - a tal ponto que acabou se transferindo para Londrina, onde hoje é próspero empresário. Mauro Ticianelli, vindo de São Paulo, agilizou ainda mais a coluna, promovendo os concursos para a escolha da "Garota Luzes", estimulando os presidentes de clubes a se reunirem e uma associação para defesa de interesses comuns, enfim, fortalecendo um verdadeiro espirito comunitário, que, há 20 anos era feito, sem a demagogia com a qual, os quais donos do poder querem marcar a administração iniciada a 15 de março.
Falar da importância da " 'Última Hora", em seus três anos de intensa atuação no Paraná ( a última edição da UH - Paraná, circulou a 14 de maio de 1964 ) é possivel num registro jornalistico. Basta dizer, que na pequena sucursal de Curitiba, num espaço de menos de 30 metros quadrados, se concentrou, algumas das melhores cabeças do jornalismo brasileiro, muitos, dos quais ainda em atividade - não só em Curitiba, mas em outras cidades.
Mauro Ticianelli, hoje chefe da surcusal de O ESTADO em Londrina, quando veio de São Paulo, trouxe a experiência de trabalho em equipe, e rapidamente aqui formou um grupo de assessores, que o auxiliando em sua coluna e, especialmente, nas promoções que realizou - ajudaram-no a obter sucesso. Entre estes, houve revelações que alçaram seus próprios vôos - ou no colunismo social, como Miecieslau Surek, que depois passou para o "Diário do Paraná" e atualmente reside em cascavel, ou até o quentissimo setor de informações militares, cuja coluna, ( " Plantão Militar " ) nos explosivos idos de 63/64 era assinada pelo então sargento Walmor Weiss - da equipe de Mauro. A revolução, cassou Walmor, o levou à prisão - mas foi benéfica. Ao sair da prisão, Wiess revelou-se um empresário de visão, hoje dono de uma das maiores empresas de trasnportes do Pais, lider desta classe e que teve insistentes convites para concorrer a Câmara Federal no ano passado.
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Se a " Última Hora ", surcusal de Curitiba, foi quem dinamizou a cobertura aos clubes de bairros, até esquecidos pelos colunistas sociais, concentrados apenas nos chamados "clubes classe A, " levou-se aqui o pioneirismo da " Tribuna do Paraná" Paralelamente a " UH" - ou mesmo antes dela aqui se instalar, Xiquinho Osmar Zimmermann, filho de um dos pioneiros da imprensa paranaense, no setor gráfico e que foi o primeiro profissional a aprender, na " UH" do Rio de Janeiro, as técnicas da diagramação, junto com Zério José Otto, então um jovem desenhista, idealizaram a coluna " Encontrou", que inovando para a época, começou a cobertura nos clubes de bairros. Zeno, bom desenhista, acresentava sua arte às imagens ( sem criativas ) de Xiquinho com ótimos resultados. Do, "Encontro", nas paginas da " Tribuna do Paraná" entre 1962 / 63, surgiria o espaço que posteriormente seria ampliado em colunas dedicadas exclusivamente aos clubes como a que Luis Antonio,mantém hoje na mesma " Tribuna" e Carlos Roberto Tavares faz nas " Dicas do Charles", em O ESTADO, na qual consolidou o prestigiamento aos clubes e a promoção dos melhores de cada ano. Wile Martine, vindo de Guarapuava - onde foi ativo colunista social nos anos 60, se dedicou também a esta área especifica no "Diário do Paraná", enquanto Renato Toniolo a desenvolveu na " Gazeta do Povo",
entre outros exemplos recentes.
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Num registro do colunismo social há dezenas de nomes que não podem ser esquecidos. Nelson Faria de Barros, hoje assessor da comunicação da Fundação Teatro Guaira, profissional da imprensa desde 1955 quando começou em O ESTADO, cobrindo a área cultural, foi colunista de " O Dia " até o seu fechamento em 16 de outubro de 1961 e voltando como editor chefe,na tenue tantativa que Edwaldo Labatut tentou em principios de 1962, mas que não durou mais do que um mês. Editor de várias revistas. " Planalto", em colaboração com Calif Simão; " Quatro Estações", com Dino Almeida ( de quem, há mais de 15 anos, é o principal assessor ), entre outras, Nelson mostraria sua versatilidade e competência profissional ao coordenar, simultaneamente, uma dezena de revistas eróticas, para a Grafipar - até quando Faruk El Khatib, deslumbrado com o status de ser o editor nacional da " Penthouse", desativou as suas pornô ( mas extremamente lucrativas ) publicações. Agora, Faruk El Knatib pensa em relançar algumas destas - especialmente " Peteca" e " personal" que com a experiência de Nelson Faria de barros chegaram a atingir circulação acima de 100 mil exemplares.
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Nelson Faria de Barros também fez uma coluna na "Última Hora", surcusal do Paraná, na qual foi lançada a colunista Celina Luz, que de anônima funcionária da Prefeitura de Curitiba, se revelou uma profissional de tal garra que posteriormente foi correspondente do " Jornal do Brasil" em Paris. De volta ao Brasil, se fixou no Rio, casou com um dos médicos mais ricos do País, que inclusive finaciou uma revista de modas, sofisticadissima, editada por Celina - mas que não conseguiu se implantar no mercado. Embora por um curto periodo, outra mulher que exerceu o colunismo social em Curitiba doi Helle Velloso Fernandes, autora de vários romances, que com o pseudônimo de Hel escreveu no " Diário do Paraná". Além de experiências de Almir de Lara ( "Alta Sociedade" ), Dino Almeida ( " Clube, "Quatro Estações" ) e Calil Simão ( "Planalto"), entre outras revistas sociais, a que foi mais duradoura - mas também a mais contestada em termos de critérios etico-comerciais - foi a " A Divulgação ", editada por um coronel ( da Policia Militar da reserva, Arnaud Velloso, falecido há alguns anos.
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No " Correia do Paraná ", que Abdo Aref Kudri fundou em 1959 e venderia posteriormente a Alberto Franco Ferreira da Costa ( que o fechou em 1966, mas mantendo até hoje o edificio, ratativas e até o luminoso na Rua XV de Novembro ), passaram muitos colunistas. Um dos mais ativos dos quais foi o magro Jorge Gonçalves, que faleceu há alguns anos. Emerson Medeiros, Pirajá Ferreira ( hoje diretor da Rádio Colombo ), Wellington Torres, entre outos, também fizeram colunas sociais no " Correio do Paraná ". Já o " Diário Popular ", que Abdo Aref Kudri fundou a 4 de março de 1963,tem até hoje o mesmo colunista - Calil Simão,que,com todas as mordomias que tem direito, comemora neste fim de semana seus 25 anos de imprensa.
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Na ainda inexistente história da imprensa paranaense, há dezenas de aspectos a serem estudados. Um deles é o do colunismo social, registrado neste espaço, nos últimos dias, mediante apenas a memória de uma época da qual, em grande parte, participamos.Mas,como dissemos, há omissões e correções - que devem ser feitas um trabalho de fôlego. Ninguém melhor do que Lúcia Camargo, professora coordenando hoje o curso de Comunicação da UFPR, depois de ter sido a ativa diretora executiva da Fundação Cultural de Curitiba, incluir um projeto a respeito em sua pauta de atividades para 1983/84. Afinal , há dezenas de estudantes de Jornalismo que poderão ir a fundo neste campo absorvente para quem se interessa pela imprensa paranaense.
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