O reencontro
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de março de 1985
Muitas vezes uma festa de reencontro, de nostalgia, tem um ar de cafonice. Mas esta não. Esta é uma festa de emoção. Com estas palavras, o jornalista Luiz Geraldo Mazza definiu muito bem o sentimento que mais de 40 homens sentiram no sábado, durante um almoço muito especial realizado no Hotel Slaviero. Eram jornalistas, fotógrafos, pessoal da administração e até um dos motoristas - o gordo e afável Cordeiro - que, entre 1959/1964 participaram da experiência paranaense da "Última Hora", então pertencente a Samuel Wainer. Instalada em apenas duas lojas do edifício Villanova, na Rua Voluntários da Pátria, a "UH" paranaense marcou uma fase bonita da imprensa paranaense. Reunindo os melhores profissionais, numa linha oposicionista com inúmeras colunas e profissionalizando a crítica especializada - por exemplo, com o eficientíssimo Francisco Bettega Netto dando verdadeiros cursos de cinema em seus textos brilhantes - e "Última Hora" chegou a vender mais de 30 mil exemplares no Paraná, entre 1962/63, com sucursais de Londrina, Paranaguá e Ponta Grossa.
Em abril de 1964, poucas semanas após o golpe militar, a sucursal cerrou suas portas. Samuel Wainer exilou-se em Paris e vários dos melhores profissionais da sucursal de Curitiba foram indiciados em IPMs. Nem mesmo uma coleção do jornal, naquele período, ficou: a Biblioteca Pública do Paraná, não a incluía entre os periódicos guardados em sua Divisão de Documentação e assim inexiste qualquer exemplar arquivado. É a coleção que pertencia à sucursal acabou, lamentavelmente, se perdendo. Com isto, um importantíssimo período de nossa imprensa ficou praticamente sem documentação - com milhares de reportagens, notícias e artigos que publicados no dia-a-dia da UH tanta polêmica provocaram na época.
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Walmor Weiss, presidente do Sindicato das Empresas de Transportes do Paraná, próspero empresário no setor, foi quem teve a (feliz) idéia de reunir a equipe da "Última Hora" por uma razão muito especial: ele participou daquela fase, inicialmente como integrante da assessoria do colunista Mauro Ticianelli (hoje na sucursal de O Estado em Londrina) que editava a coluna "Luzes da Cidade", fazendo cobertura dos clubes e promovendo a escolha da Garota-Luzes. Posteriormente, Walmor passou a redigir a seção "Plantão Militar", o que lhe veio a ocasionar sérios problemas pessoais, perseguido pela revolução. Posteriormente Walmor se revelaria como empresário e começando com uma modesta kombi, hoje tem uma frota de 600 veículos que faz trabalhos em todo o Sul. Presidindo o sindicato dos transportadores, Walmor tem se projetado nacionalmente e amanhã estará em Brasília, em audiência com o ministro Affonso Camargo, para reivindicar um reexame da chamada lei das balanças nas BRs.
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Amigos que não se viam há muitos anos, jornalistas que seguram outros caminhos - como Pery de Oliveria, ex-repórter sindicalista, há 10 anos o poderoso secretário-geral da Prefeitura de Guarapuava; o fotógrafo Miguel Sdroieski que trocou as câmeras pela tranquilidade de uma banca de revista na Praça Tiradentes; Altair Astor Raymundo, feroz crítico de rádio e televisão, hoje próspero advogado, entre tantos companheiros de uma fase de sonhos e esperanças, quando se respirava o clima de liberdade e transformações sociais no governo João Goulart. Um repórter de polícia - setor em que o hoje ator Maurício Távora era um brilhante integrante - não pôde comparecer: Enéas Faria, de Brasília, se desculpou por não ter condições de vir para a festa. Em compensação, Maurício Fruet, que integrava a área de esportes, modificou sua agenda de prefeito para rever os amigos daquela que ele classifica "uma das fases mais importantes de minha vida profissional".
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