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Aramis

Mussa, esse grande cidadão curitibano

Protegido pelo vidro na mesa que ocupa há 25 anos na redação de O Estado - e da qual só está afastado há cinco meses, por ter assumido a Secretaria da Comunicação Social - o jornalista Mussa José Assis sempre espelhou-se num texto curti, objetivo, em que Ernest Hemingway (1899-1961) fala de que antes de ser um escritor, sempre se considerou um repórter. Ao lado de algumas manchetes históricas de O Estado - inclusive a poética "Curitiba Branca de Neve", que saudou em 18 de julho de 1975 a grande nevada em nossa cidade - o companheiro Mussa sempre foi avesso a expor em seu gabinete de trabalho os diplomas, citações e mesmo troféus que ao longo de sua carreira tem merecido. Para ele, o jornalista deve ser um minimalista: objetivo, prático e o mais independente possível. Por isto, nestes seus quase 30 anos de dia-a-dia na imprensa a sua presença sempre se deu na redação - ou no campo-de-batalha da notícia - jamais em encontros sociais, banquetes e eventos badalativos. Especialmente de tudo aquilo que signifique envolvimentos que possam comprometer uma independência jornalística foram educados mas - vigorosamente - evitados. Só mesmo pela amizade ao governador Álvaro Dias aceitou, pela primeira vez, um cargo político, mas dentro de sua área - com tempo e funções muito bem definidas. Aos amigos e colegas, Mussa não esconde sua ansiedade para em 16 de março de 1991 retornar ao comando da redação de O Estado - do qual só se afastou duas vezes: há alguns anos, quando implantou o "Correio de Notícias" e agora, como secretário de Comunicação Social. A modéstia, independência e vocação destinada ao jornalismo não impedem, porém, que Mussa José Assis seja um dos profissionais mais respeitados da imprensa paranaense - e com prestígio que ultrapassa as fronteiras estaduais. Dos tempos juvenis "Última Hora" - quando cobria justamente o Palácio Iguaçu, no primeiro governo Ney Braga e, depois, secretário de redação da "Última Hora", em São Paulo, moldou-se a visão dinâmica de um jornalismo participante que Samuel Wainer imprimia em suas publicações. Quando ainda repórter da sucursal curitibana da "UH", então funcionando numa loja do edifício Asa, que reunia o melhor time de imprensa paranaense por metro quadrado, Mussa deu um dos primeiros furos dos muitos que marcariam sua carreira: localizou e entrevistou a primeira professora de Jânio da Silva Quadros, antes mesmo de sua posse - mostrando assim as ligações de JQ com Curitiba. A reportagem foi publicada em todas as edições regionais da "Última Hora" e garantiu sua imediata efetivação nos quadros de repórteres. Três décadas de jornalismo - mais de duas em O Estado, cuja restruturação gráfica e redacional comandou a partir de julho de 1965 - faz com que Mussa tenha muito a contar sobre nosso jornalismo contemporâneo. Mesmo o editor tendo que substituir o repórter vocacional, por muitas vezes foi ao front da notícia, cobrindo, por exemplo, rebeliões de presidiários em Piraquara, na qual mais do que a simples presença do jornalista foi o mediador que impediu um massacre, já que os ânimos estavam elevadíssimos tanto da parte dos amotinados como dos policiais. xxx Hoje à noite, quando receber o título de Cidadão Honorário de Curitiba, proposto pelo vereador Carlos Simões, a Câmara estará fazendo reconhecimento a um dos profissionais mais identificados à nossa cidade - na qual chegou no final de 1957, foi aluno do Colégio Estadual do Paraná e, como revisor de O Estado, na antiga sede da Rua Barão do Rio Branco, teve seu primeiro salário profissional - só passando à reportagem ao entrar na efervescente "Última Hora" que, comandada por Michael Cury e Vladimir de Oliveira, se instalava em Curitiba. Pompéia, SP, sua cidade natal, está apenas no registro civil, pois casado com Guiomar, há 23 anos, seus 6 filhos - Marcelo, 21; Rodrigo, 20; Erica, 18; Fernanda, 16; Francisco, 14 e Cláudio, 6 - aqui nasceram e estão crescendo, vigorosamente dentro da coerência e dignidade com que Mussa sempre pautou sua vida. Sua paixão por Curitiba fez com que, pouco a pouco, aqui se unissem cinco de seus irmãos, num clã que hoje passa dos 50 Assis - entre tios, tias, cunhados, sobrinhos e até netos. A única tristeza é que seus pais - José Quirilo Assis e dona Rajah não tivessem vivido para em sua chácara, no Atuba, estarem presentes às afetivas reuniões da grande família libanesa, que nos fins-de-semana se encontra para saborear os pratos que Mussa, orgulhoso de suas qualidades como cozinheiro, prepara com os frutos da terra por ele mesmo cultivados - "Posso dizer que 90% dos ingredientes básicos são mesmo de produção caseira" - repete aos amigos. xxx Com toda razão, espaços especiais registram o fato deste paulista de Pompéia receber hoje, oficialmente, a cidadania de Curitiba - fazendo-o sair de sua modéstia. Em sua simplicidade, por certo poderá resumir o discurso que fará à noite, numa frase, a filosofia que, ao longo de seus 47 anos, marca sua vida pessoal e profissional: "Sou e serei sempre apenas um jornalista em busca da verdade". Com a maior integridade, acrescentamos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
13/09/1990

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