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Aramis

Uma lição do mestre Francis na imprensa

Existem textos que merecem ser afixados defronte nossos olhares pela carga de verdade que trazem. Durante anos, o jornalista Mussa José Assis, 47 anos, ex-secretário de Comunicação Social do governo Álvaro Dias e que, esperamos, retorne agora à nossa redação - cujo comando teve sua marca desde 1965 - manteve sobre o vidro de sua mesa de trabalho um antológico texto de Ernest Hemingway (1899-1961), no qual o autor de "Adeus às Armas" fala sobre a profissão de repórter. Domingo, na "Revista d", da "Folha de São Paulo", o habitualmente ácido e duro Paulo Francis, 60 anos, publicou um belíssimo depoimento ("A Decisão por uma Carreira"), no qual recorda seu início profissional como crítico de teatro, inicialmente na "Revista da Semana", dirigida por Hélio Fernandes, depois substituindo João Augusto no "Diário Carioca", ganhando Cr$ 8 mil (depois, passaria em 1960 para a "Última Hora", onde se tornou redator político). Explicando que fazia uma reminiscência de sua vida, "porque talvez sirva de ajuda a algum jovem indeciso sobre o que deve fazer", Paulo Francis diz: - "Nunca pensei em ser jornalista. Fui levado por meus amigos, numa espécie de aposta". No final, Francis - hoje possivelmente um dos jornalistas mais admirados por sua inteligência - mas também com inimigos que não perdoam sua independência crítica - encerra com palavras que servem de esperança a quem procura fazer jornalismo com seriedade, respeito, sem cair na louvação, no carreirismo caça-níquel que, infelizmente, tem contribuído para que a imprensa, muitas vezes, perca sua credibilidade. xxx Eis as palavras do mestre Paulo Francis, para serem recortadas e cultuadas "É possível ser jornalista e honrado. Conheço colegas que são. E todo mundo sabe quem não é, ainda que não se diga de público, porque no Brasil, como é que é, se vive numa segunda realidade. É, é. Conversa fiada. Durante alguns anos fiz vista grossa às implausibilidades e desconversas das esquerdas. Até que achei que não era compatível com quem toma banho todo dia. Nunca apoiei governo algum. Acho que é um dever do jornalista adotar o mote dos anarquistas. "Hay gobierno, soy contra".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
13/11/1990

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