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Mendes revisita a poesia de Alvarez

Dois marilenses se encontraram no Aeroporto Afonso Pena, domingo, à tarde: Sérgio Ricardo e Oswaldo Mendes. Sérgio havia vindo assistir a "Flics", enquanto Oswaldo retornava a São Paulo, chamado por Henry Maksoud, editor da "Visão", para importante reunião. Fazendo a ponte aérea Curitiba-São Paulo, nas últimas semanas, Oswaldo Mendes, 43 anos, integrou-se à realização de "Noite na Taverna" (estréia sábado, 14, auditório Salvador de Ferrante). De princípio iria apenas desenvolver em parceria com o diretor Ademar Guerra, a adaptação dos textos do poeta Alvarez de Azevedo (1831-1852) para a linguagem teatral, mas acabou envolvendo-se diretamente ao projeto - que, aliás, há muito o fascinava. xxx Formado em teatro, tendo estreado profissionalmente justamente sob as ordens de Ademar Guerra ("Missa Leiga"), Oswaldo Mendes faria paralelamente uma carreira no jornalismo: na "Última Hora" entrou como repórter e saiu como diretor; depois, na "Folha de São Paulo", foi editor do "Folhetim" e ocupou também a chefia-de-redação, passando nos últimos cinco anos, para a revista "Visão", da qual foi editor do suplemento turístico e da área cultural. Embora reduzindo suas atividades nos palcos devido ao jornalismo, em 1984 Oswaldo escreveu uma peça sobre Getúlio Vargas ("Tiro no coração") e tem dirigido alguns espetáculos musicais, especialmente como a cantora Celia. Foi também, ao lado de Guerra, um dos responsáveis pela transposição ao palco da "Revista do Henfil". xxx "Noite na Taverna" é uma adaptação de cinco contos (e alguns poemas avulsos) de Alvarez de Azevedo, personalidade literária que sempre fascinou Oswaldo Mendes. - Ele morreu com apenas 20 anos, deixando uma obra marcante. Imagine o que teria feito se vivesse ao menos até os 40. xxx Tendo estudado não só a obra de Alvarez de Azevedo - mas toda a época em que ele viveu - Mendes é hoje um expert no tema. Explica: "Escrever obras teatrais era um dos projetos de vida, que a morte prematura impediu Alvarez de Azevedo de realizar. Ele fez uma tentativa ao escrever "Macário" que, entretanto, não passava de um exercício de diálogos, longe de ser uma peça destinada aos palcos. O próprio Alvarez reconhecia isso, ao recusar-se a definir "Macário" como um drama". Mas Alvarez de Azevedo tinha bem claro qual o teatro que ele pretendia fazer. Esse teatro deveria ter: as paixões ardentes do teatro inglês, de Shakespeare e Marlowe"; a imaginação do teatro espanhol, de Lope de Vega e Calderón de La Barca; e a simplicidade do teatro grego, de Ésquilo e Sófocles. xxx Trabalhando com um elenco local - e que marca a volta da excelente Lala Schneider (classificada, há alguns anos, por Cláudio Correa e Castro, como uma das três melhores atrizes brasileiras) - Ademar Guerra também soube aproveitar talentos jovens, como Maria Adélia Ferreira (que retornou há pouco de Portugal, onde pretendia se fixar), Raquel Rizzo, Silvia Contursi, Sônia Schuib, entre outras atrizes. O veterano Sansores França, 58 anos, 30 de atividades artísticas, também tem destaque no elenco. xxx Oswaldo Mendes acredita que o espetáculo concebido por Ademar Guerra "certamente deixaria feliz o jovem poeta, que, na platéia, veria realizado a sua proposta". - O que o público verá no auditório Salvador de Ferrante é um espetáculo que tem os três ingredientes pedidos por Alvarez de Azevedo para o teatro: paixões ardentes, imaginação e simplicidade.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
11/10/1989

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