Mendes, a boa Vanguarda.
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de maio de 1984
Um rápido registro de um disco que mereceria todo um ensaio. Mas aqui vai ao menos a dica: " Irmã" de Carlos Mendes ( Odeon, abril 1984 ) é um dos mais interessantes lançamento deste ano. Um disco para pensar e refletir, com uma carga de vanguarda séria e criativa tão ampla quanto foi a do ( ainda ) imcompreendida "Araça Azul" ( 1973 ). Aliás, não é sem razão que tanto Caetano ( "Velhicidade" ) como Gilberto Gil ( " Pratitude " ) participam das faixas de aberturas dos dois lados deste disco Gil como perceiro, Caetano como interprete apenas.
Cada uma das músicas de Carlos Mendes é repleta de criatividade, sonoridade e pesquisa
( séria, repetimos ).
Paulista de Santos ( 13 de julho de 1955 ), filho de um dos monstros sagrados da música erudita de vanguarda Gilberto Mendes, Carlos formou-se em Fisica pela USP ( 1977 ), mas há seis anos começou a compor suas músicas, depois de ouvir muito João Gilberto, Gil, Caetano e os Beatles. Apresentou-se a alguns amigos radialistas e após participar de um festival com " Cool Jazz" chegou a um compacto simples ("Oamoréomar" / " Hora Só" ), com apresentação, entusiástica de Caetano.
Com apoio do irmão, cineasta Odorico Mendes se lançou num elepê previsto como produção independente. Mas que acabou bancado pela Odeon. Um disco inovador da primeira a última faixa, na qual Carlos Mendes toca violão e canta tendo o apoio de intrumentista excelentes ( João Donato, Chiquito Braga, Robertinho Silva, Amilson Godoy ), arranjos de Rogério Duprat e no qual mostra que com intligência e criatividade, tudo pode se transformar. Da inovadora homenagem e João Gilberto, com letra de Nelson Mota ( "Am'Rose") a belissima versão que fez em parceria com Decio Pignatari de " Something's Gotta Give"de Johnny Mercer ( " Algo Vai Pintar"), Carlos Mendes explora as potencialidades da palavra, a sonoridade do texto, os recursos instrumentais. Tudo, entretanto, com respeito pelo ouvido e sensibilidade, se elocubrações que geralmente disfarçam a falta de talento de tantos falsos vanguardistas. Ao contrário, Mendes é um jovem que sabe o que quer e pretende.
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