Sucesso de Aleida e Jerzy só não é aqui recomendado
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de janeiro de 1992
20 anos de Brasil, 17 discos gravados, mais de 600 concertos em praticamente todos os estados. Números que identificam uma carreira de sucesso de um casal que, dedicando-se à música erudita - mas com abertura também ao popular - vem construindo um curriculum invejável: a pianista Aleida Schwitzer e o violinista Jerzy Milewski.
Juntos desde que se conheceram em Varsóvia, quando Aleida ali estudava, este casal tem grandes e afetivas ligações com Curitiba. Foi aqui que Aleida, catarinense de Lages, chegou em 1960 para estudar piano no Conservatório de Música Raul Menssing, frequentando também o curso de filosofia da Universidade Federal do Paraná. O que a levaria a integrar o coral, regido pelo maestro Mário Garau e que na época chegou a ter grande projeção e gravar um elepê na Odeon.
Aqui reside sua irmã, a oftalmologista Miriam Schweitzer Miranda - a quem Aleida e Jerzy estiveram visitando no final do ano, com os filhos Christopher e Pamina, 17 anos, gêmeos, após uma ida até a Lages, onde ainda vivem outros parentes.
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Foi aqui também que, quando Maurício Távora ocupou a superintendência da Fundação Teatro Guaíra, que Aleida e Jerzy, unidos ao violinista Cussy de Almeida e ao violoncelista Peter Dauelsberg, formaram o Quarteto Guaíra, que começava a se destacar, já com um álbum gravado, quando razões puramente políticas - características da tradicional antropofagia paranaense - liquidaram a experiência.
Com curriculum internacional, Jerzy, polonês da Varsóvia, 44 anos a serem completados em 17 de setembro, e Aleida que acrescentou a seus cursos no Brasil, bolsas de estudos no Conservatório Real de Música de Amsterdã e, por dois anos, na Academia de Música de Varsóvia, deram a volta por cima. Radicado no Rio de Janeiro, passaram a desenvolver um trabalho imenso em vários estados, especialmente na Universidade Federal do Espírito Santo, onde são hoje professores-visitantes e responsáveis por grandes projetos musicais.
Aleida, pelos muitos anos em que viveu em Curitiba - cidade em que conserva grandes amigos -, lamenta a antropofagia musical que procura marginalizar tantos valores de nosso Estado, principalmente quando de eventos oficiais.
- "nunca fomos convidados para se apresentar com a Sinfônica do Paraná. Igualmente, nas dez edições da Oficina de Música, promovidas pela Fundação Cultural, também nossos nomes sempre foram "esquecidos".
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Somente nos últimos meses, o casal teve quatro gravações lançadas internacionalmente, três delas só em CD, e uma quarta, "Tocando", em vinil, com patrocínio da Atlantic, em comemoração aos seus 70 anos de Brasil, distribuída a partir de agora - e que terá também versão CD.
Graças às profundas relações que continuam a manter na Polônia - país em que se apresentam várias vezes por ano - ali gravaram com a Orquestra Amadeus os CDs com concertos para piano de Bach, tendo Aleida como solista; os concertos para violino e orquestra também de Bach, como solos de Jerzy Milewski e uma nova versão de "As Quatro Estações" de Vivaldi. Nestas três gravações, a orquestra polonesa - que há cinco anos se apresentou em várias capitais brasileiras (inclusive Curitiba), em produção coordenada por Jerzy, é regida pela maestrina Agnieszka Duczmal, considerada uma das maiores revelações da música clássica na Europa.
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A Atlantic além de patrocinar a edição de "Antônio Vivaldi/250 anos/As Quatro Estações", lançou também os custos de uma cuidadosa produção, em colaboração com o projeto Música e Ecologia, desenvolvido pela Universidade Federal do Espírito Santo. Reunindo os melhores instrumentistas, com arranjos desenvolvidos por Jerzy e Aleida, o álbum é uma amostragem da melhor música brasileira, abrindo com "Tema Atlantic" (Eduardo Souto Neto), com narrativa de Luís Armando Queiroz, e percorrendo vários gêneros como "Asa Branca" (Gonzaga/Teixeira), "Descendo a Serra" (Pixinguinha/Lacerda) - com solo de piano de Aleida; "Canção do Sal" (Milton Nascimento) - em trio Jerzy (violino),Rildo Hora (gaita) e Misael Hora (piano); "No Jardim" (Jacob do Bandolim), com destaque ao bandolim de Chiquito Braga, baixo de Luiz Alves e bateria/percussão de Mamão; um medley fundindo "Copacabana" (João de Barro/Alberto Ribeiro e "Folhas Secas" (Nelson Cavaquinho) - no qual Leonardo Bruno (filho do grande Abel Ferreira e hoje regente da sinfônica do Espírito Santo) toca violão "No Tempo dos Quintais" (Sivuca/Paulinho Tapajós); Sivuca, no acordeon, torna notável o diálogo violino (Jerzy) e violão (Bruno) em "Minha Terra" (Waldemar Henrique) e "Chuá Chuá" (Sá Pereira/Ary Pavão); "Mucuripe" (Fagner) novamente com Jerzy, Rildo e Misael Hora; em "O Vôo da Mosca" (Jacob), Aleida volta a exibir seu lado de chorão ao piano e finalmente o enternecedor "Azulão" (Jaime Ovalle/Manuel Bandeira), novamente com Sivuca, Chiquito e Luiz Alves acrescentando-se ao violino de Jerzy.
Há 4 anos, Jerzy havia já gravado um esplêndido álbum instrumental ("Ensemble") com Luiz Eça (pianos), Alves (baixo) e Robertinho Silva (bateria) - até hoje inédito comercialmente, só distribuído como brinde pela Nestlé. Com a identificação que teve na produção deste "Tocando" com Luís Alves, Jerzy animou-se a formar um trio jazzístico, que além de uma gravação fará excursão por várias cidades. Curitiba, infelizmente, de momento não consta do projeto.
Um quinto álbum também foi gravado em 1991 por Jerzy e um grupo de ótimos músicos, mas sobre este está impedido contratualmente, ainda, de falar. Foi uma superprodução realizada para uma das maiores estatais brasileiras, que terá edição de luxo, acompanhada de um livro-de-arte, mas que só será distribuído dentro de 90 dias.
Agenda repleta de compromissos, inclusive no Exterior, gravando cinco CDs em um ano, Aleida e Jerzy só não tem reconhecimento maior justamente em Curitiba, onde poderiam passar o mês de janeiro transmitindo seus conhecimentos e dando concertos. Mas não são elas as únicas vítimas dos discutíveis critérios de seleção dos professores convidados para a Oficina da Música. Independente dos méritos de muitos convidados - sem dúvida músicos e professores competentes - é lamentável que nome como o maestro Norton Morozowicz, violinistas Alessandro Borgomanero e Maria Esther Brandão, pianista Ulrik Graf (Kiki), o compositor e pianista Henrique Morozowicz, pianista Leila Paiva, entre outros, tenham sido esquecidos por este evento que tem méritos, merece elogios, mas continua a ser uma ação entre muy amigos com gordo patrocínio pago pelos contribuintes municipais.
LEGENDA FOTO - Aleida Schweitzer, pianista internacional, formação curitibana, grava CDs lançados em vários países mas é esquecida para as promoções musicais que a FCC promove.
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