Login do usuário

Aramis

Foz, um festival para aproximar as fronteiras culturais latinas

O advogado Osmar Koehler, 52 anos, catarinense de Canoinhas mas curitibano por adoção - aqui vive desde 1957, quando chegou para estudar na UFPR, convidou dois casais amigos e enfrentou a bordo de sua confortável F-, cabine dupla, os buracos da BR-277 para passar o último fim-de-semana em Foz do Iguaçu. Finalidade: assistir ao Acordes Cataratas. Assim como faz regularmente há 10 anos - sempre ao lado da esposa Jane, levando os filhos e amigos - para acompanhar as edições da Califórnia da Canção, em Uruguaiana, Koehler decidiu que "não iria perder um festival com toques nativistas do Paraná". Para ele como milhares de outros apaixonados pela cultura popular do Sul, os eventos musicais merecem todos os aplausos, embora, admita, ": exista uma necessidade de reavaliação em alguns conceitos". O Acordes Cataratas , encerrado na última segunda-feira, 10, não foi apenas mais um festival nativista - entre dezenas de outros que se multiplicaram nos últimos 20 anos. Representou, a tentativa de se viabilizar um evento que, se for mantido, poderá projetar-se no continente latino-americano, sonho maior do seu idealizador, o acordeonista, compositor, cantor e sobretudo agitador cultural Luís Carlos Borges, gaúcho de Santo Angelo, 38 anos completados no dia 25 de março. Autor de mais de 200 músicas, 150 das quais gravadas em 7 elepês solos e mais de 80 documentados em festivais nos quais participou e já levantou 76 premiações diversas, Borges é desde a Califórnia de 1979, quando recebeu a Calhandra de Ouro por seu hoje clássico "Tropa de Osso", um dos mais respeitados nomes da vida nativista. Coordenador cultural do município de Santa Maria, ali participou de 6 edições da Tertulia, passando depois por São Borja para organizar os festejos dos 300 anos daquele município missioneiro. Foi quando o então prefeito Erni Friedrich, de Santa Rosa - um dos municípios de melhor renda per-capita do país e terra natal da superstar Xuxa, o convidou para dirigir o MUSICANTO. Em 8 edições, Borges fez do Festival Latino-americano de Música e Folclore um evento que se tornou o maior concorrente a Califórnia e colocou a até então esquecida Santa Rosa como um pólo cultural-religional da zona missioneira. Paralelamente ao cargo de Secretário do Turismo e cultura de Santa Rosa, Borges desenvolveu sua carreira de artista regional, o que levou várias vezes a Foz do Iguaçu. O CTG Charrua, fundado há 8 anos, buscava um projeto cultural que o identificasse e a pedido de seus dirigentes, Borges elaborou em 1985 o "Acordes Cataratas", que só este ano teve condições de ser viabilizado. A tríplice condição de cidade das 3 fronteiras e caminhar, a passos largos para se tornar o terceiro pólo do Estado (a população deve chegar a 800 mil nesta década), somada a forte colonização gaúcha no Oeste e a identidade cultural com Paraguai e Argentina, fazem de Foz a cidade perfeita para este tipo de evento. Há 10 anos, Cleto de Assis, intelectual sempre identificado com as questões latino-americanas (casado com uma jornalista colombiana, Maria Teresa, reside hoje em Bogotá), quando secretário da Comunicação Social do governo Ney Braga, chegou a fazer um projeto que também incluía Foz para um evento reunindo não só a música, mas também o cinema, artes plásticas, artesanato, etc. dos países da América do sul. Infelizmente a idéia não teve condições de ser efetivada - embora na administração de Ney Braga tivesse acontecido no Paraná um grande festival de MPB - "Brasil de todos os cantos" (posteriormente, no início da administração Álvaro Dias, ocorreu em Curitiba, a única edição da Mostra Latino-Americana de Cinema). Do apoio do prefeito Álvaro Neumann através de duas fundações locais - a de turismo e a cultural, mais o entusiasmo do empresário Ubirajara Cheiram, presidente do CTG Charrua, viabilizou-se a junção de dois eventos que aquela entidade já vinha promovendo - a Feira de Artesanato e Alimentação e o Rodeio Internacional - ao festival latino-americano. Detentora em comodato de uma área de 144 mil metros quadrados há apenas 8 km do centro de foz, o CTG de alimentação, um grande circo foi instalado para receber público e artistas para espetáculos já há partir do dia 1o de junho. Havia uma previsão de mais de 100 mil espectadores para os dez dias do evento, o que renderia o suficiente para cobrir todas as despesas - orçadas em Cr$ 100 milhões. Infelizmente, economicamente a projeção não foi alcançada. A venda dos "passaportes" - ingressos que dariam direito a concorrer ao sorteio de dez automóveis Fiat - ficou em apenas 10 mil cartelas, suspensa as vendas na quinta-feira por reclamações advindas do fato dos quatro primeiros premiados terem saído para números não vendidos Assim, foi decidida que embora os dez carros adquiridos sejam sorteados - o que deve ocorrer nos próximos dias - o acesso ao local seria franqueado ao público. O frio e a chuva - que também impediram a realização do rodeio internacional, com dezenas de provas programadas - diminuiu a freqüência. Entretanto, em termos artísticos o evento não foi prejudicado, com a disputa entusiasmada dos 36 músicos participantes, envolvendo mais de 100 artistas entre compositores, intérpretes e músicas. Paralelamente as apresentações das músicas - 12 por noite entre quinta-feira a domingo (finalíssima) - shows com nomes da maior popularidade aconteceram, destacando-se o maior nome do gênero chamamé, acordeonista e compositor Antonio Tarrangon Ros, na noite de sexta-feira e, no encerramento, de uma compositora-intérprete, Teresa Parodi, 43 anos, 10 de carreira, que vem sendo comparada a Mercedes Sosa - pela força de seu canto e poesia das letras. Já com 8 lps gravados na Argentina, duas tournées pelos Estados Unidos e Europa, Teresa até o último domingo nunca havia se apresentado no Brasil. Aqui desconhecida mesmo do público interessado em música latino-americana, Teresa, em seu vigor artístico e bela presença no palco, entusiasmou o público que lotava o circo no parque do CTG Minuano. No segundo semestre, a Polygram deverá lançar um álbum com 16 de suas músicas mais conhecidas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
13/06/1991

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br