O bom astral de Miúcha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 26 de março de 1985
A temporada artística do Paiol não poderia iniciar com melhor astral. Houve mesmo quem observou que foi como se o espírito do padrinho Vinícius de Moraes, que inaugurou a casa há 13 anos passados, tivesse baixado para dar uma força a sua amiga, afilhada e intérprete Miúcha (no registro civil, Heloísa Maria Buarque de Hollanda) no belo, carinhoso e afetivo show que ali mostrou de sexta-feira a domingo.
Na semana retrasada, no sábado, a reabertura do Paiol já havia acontecido com um paranista espetáculo reunindo intérpretes de várias tendências e estilos. E no último fim-de-semana coube à carinhosa Miúcha, uma das mais doces presenças da MPB, apresentar-se com um quarteto da melhor categoria: Helvius Vilela nos teclados, Guilherme Rodrigues nos sax e flauta, o baterista Paulo Vieira e Novelli no baixo (mostrando também sua bela voz, num número especial).
Com o bom humor que é uma marca registrada, Miúcha abriu o show interpretando "Acorda Amor", a satírica canção que seu mano Chico compôs no período mais duro da Censura e que assinou como Julinho de Adelaide, seguido da sensual "De Noite na Cama" (Caetano) e passando para a lírica "Pela Luz dos Olhos Teus", letra e música de Vinícius - primeira música que o poeta gravou, em 1960, no histórico "Bossa Nova Mesmo". E assim, de emoção a emoção, com um repertório do mais alto nível, Miúcha encantou o público que, nas três noites, lotou o Paiol - agora dirigido com entusiasmo por Marinho Gallera, que já tem boas atrações para as próximas semanas: o Tarancon, com música latino-americana a partir de sexta-feira e depois o virtuosismo do trio de violonistas D'Alma. Muitas boas idéias para os próximos meses, inclusive todo um mês para a nova e pujante música gaúcha, com compositores-intérpretes da força de Raul Ellwanger, Jerônimo Jardim, Pery de Souza, Nelson Coelho e tantos outros talentos, já com discos gravados mas ainda pouco conhecidos entre nós.
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