A brisa do talento com Johnny e Miúcha
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de março de 1991
"Ah! Se a juventude que essa brisa canta
Ficasse aqui comigo mais um pouco
Eu poderia esquecer a dor de ser tão só
Pra ser um sonho".
Não precisaria ter feito mais nada do que "Eu e a Brisa" para garantir o seu lugar definitivo entre os grandes da música brasileira. Um reconhecimento que deveria ser bem maior a quem há mais de 30 anos vem fazendo música da melhor qualidade e que raras vezes tem tido o reconhecimento merecido. Johnny Alf - ou João Alfredo da Silva, carioca da Vila Isabel, próximo dos 62 anos - a serem completados no dia 19 de maio - e que só agora, pela segunda vez em sua vida, vem se apresentar em Curitiba.
Entre outros méritos do livro "Chega de Saudade - A História e as Estórias da Bossa Nova", de Ruy Castro (Companhia das Letras, 1990), houve o de lembrar a importância de Johnny Alf como um dos precursores da Bossa Nova. Antes mesmo de Tom Jobim, o garoto que freqüentava o Sinatra - Farney Fan Club - fundado em 3 de fevereiro de 1949, sede na Rua Almirante Gonçalves Pereira, 53, Tijuca - já mostrava harmonias inovadoras ao piano - seu instrumento por toda a vida. Há mais de dez anos sem gravar, felizmente Johnny voltou aos estúdios no ano passado para um álbum ("Olhos Negros", BMG/Ariola), no qual com a participação de um punhado de all stars que o admiram (Caetano, Gilberto Gil, Gal, Chico Buarque) mostra três novas canções e relembra seus maiores sucessos - repertório que, neste fim de semana, estará apresentando no Paiol - o mesmo teatro em que esteve há 17 anos (11 a 13 de outubro de 1974), quando tivemos o prazer de promover a sua primeira apresentação em Curitiba, em três noites igualmente históricas. Naquela ocasião, para melhorar a renda - já que público que é bom faltou no teatro (o que esperamos não se repita desta vez), houve shows de Johnny nos clubes Curitibano e Graciosa Country Club. Músico da noite, acostumado a tocar enquanto os outros bebem, Johnny não se importou com a falta de atenção enquanto desfilava seu belíssimo repertório. Pelo menos, no teatro, há mais respeito.
Neste musical fim de semana, além de Johnny Alf, temos no distante auditório Antônio Carlos Kraide outro imperdível show da melhor música brasileira: Miúcha (Maria Heloísa Buarque de Holanda) mostra um repertório muito especial, tão simpático quanto ela - um sorriso em forma de canção. Portanto, preparai vossos ouvidos para aplaudir dois nomes maiores da MPB neste final de semana: Johnny Alf e Miúcha.
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