Johnny e o mais belo hino antimilitarista
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de abril de 1988
Há filmes que só crescem com o tempo. Estes são as verdadeiras obras-primas que, revistas anos depois de terem sido realizadas tornam-se ainda maiores e mais significativas. "Johnny Vai à Guerra" (Cine Groff, hoje último dia em exibição) é o exemplo clássico.
Realizado em 1971, com grandes dificuldades de produção, este primeiro e único filme dirigido por Dalton Trumbo foi o grande destaque no Festival de Cannes daquele ano, quando recebeu o prêmio especial da crítica. Seus méritos foram reconhecidos, posteriormente, nos festivais de Atlanta e Belgrado, de onde saiu também como o grande premiado.
Levaria, entretanto, dez anos para chegar ao Brasil, o que só aconteceu graças ao entusiasmo de um cinéfilo apaixonado, o engenheiro Vicente Pereira, que se associando a Ney Sroulevich, fundou a Carybe Filmes, de curta duração mas que teve o mérito de importar uma cópia desta obra-prima, agora com o certificado de censura às vésperas de vencer e que tem, assim, sua última projeção regular em Curitiba.
Roteirista dos mais brilhantes, perseguido pelo MacCarthismo, Dalton Trumbo (1905-1976) escreveu "Johnny Got his Gun" em 1939 - mas só 32 anos depois o levou a tela, em sua única experiência como diretor - ele que foi um dos mais brilhantes roteiristas do cinema americano.
"Johnny Vai à Guerra" é uma obra-prima. Um hino pacifista, possivelmente o mais belo filme já feito contra a guerra, numa linguagem onírica, em que o presente - Johnny, 20 anos, sem braços, pernas, destituído de todos os sentidos - vegeta num hospital da França, após ter sido atingido por uma bomba, durante a I Guerra Mundial - se antepõe as suas recordações - o pai (Jasson Robbards Jr.), a mãe (Marsha Hunt), a primeira namorada (Kathy Fields). No presente, em preto-branco, trágico - enquanto as imagens vêm do passado - jovem, cheio de esperança e amor. No meio, a onírica presença de Jesus (Donald Sutherland). Um roteiro perfeito, uma dimensão extraordinária para traduzir todo o horror a guerra - numa linguagem implícita, que faz o espectador sentir tanta emoção quanto já provocava a leitura do romance (publicado no Brasil em 1967, pela Civilização Brasileira).
Milhares de filmes abordaram a estupidez da guerra. Nenhum foi mais belo do que "Uma Arma para Johnny", que hoje tem suas últimas exibições em Curitiba. Quem não o viu, perdeu um dos mais importantes momentos do cinema.
Enviar novo comentário