Login do usuário

Aramis

A história tamanho família de Cronin

Reeditando a obra do escritor inglês Archibald Joseph Cronin (1896-1981), a Record confirma, mais uma vez, a grande admiração que o público brasileiro tem por este autor de histórias humanas, personagens maniqueístas, sempre com um grande sentido moral e religioso. Cronin tem sido um dos autores mais adaptados ao cinema, com suas obras mais famosas ("A Cidadela", "As Chaves do Reino", "O Castelo do Norte" etc) merecendo filmagens bem sucedidas em termos de público - e quase sempre dignificando o médico do interior, abnegado e idealista, como grande herói. Tanto é que a adjetivação de "médico croniano", aplicada à categoria (cada vez menor, infelizmente) de médicos que realmente honram ao juramento de Hipócrates, preocupados em atender o semelhante e não apenas em engordar suas contas bancárias e especular no mercado de ações, já se incorporou ao dicionário. "O Jardineiro Espanhol", obra das menos conhecidas de Cronin (mas incluída no programa de reedições da Record) não tem, desta vez, um médico herói. Ao contrário, o mundo que Cronin revisita é o da diplomacia, focando como personagem catalizador dos problemas um amargurado cônsul inglês, preterido em sua promoção para Madri e que é designado para um posto de menor importância, numa cidade do litoral espanhol. Abandonado pela esposa, buscando num amor obsessivo ao filho de 9 anos a razão de viver, acaba interferindo no próprio desenvolvimento do garoto - que em sua carência afetiva encontra em José, um bondoso jardineiro, o amigo que sempre lhe faltou. Uma história simples, de poucos personagens e mínima ação. "The Spanish Gardiner" foi levada a tela pelo obscuro diretor Philip Leacock em 1956, numa fase de grande atividade da J. Arthur Rank/Pinewood Studios. Lançado originalmente em Curitiba no cine Avenida, em maio de 1958, quando a produção inglesa tinha uma grande presença no Brasil. "O Jardineiro Espanhol" (cine Luz, hoje, último dia em exibição, 5 sessões) retorna agora por uma razão simples: dentro de um lote de filmes adquiridos por J. F. Lucas para comercializar em vídeo, vieram dois filmes desta fase da Pinewood Studios: "O Jardineiro Espanhol" e o vigoroso "Por Amor Também se Mata" (The Gypsie and the Gentleman), com Melina Mercourie (hoje ministra da Cultura da Grécia) que o excelente Joseph Losey (1909-1984) dirigiu em 1957 na Inglaterra, país no qual se auto-exilou após ter sido perseguido pelo macarthismo nos Estados Unidos. Se o filme de Losey é contundente em sua visão social e trouxe Melina numa de suas grandes atuações. "O Jardineiro Espanhol" é suave, o típico filme familiar. O diretor, Philip Leacock, hoje com 71 anos, ex-documentarista, dirigiu muitos filmes na Inglaterra e Estados Unidos, mas sem maiores destaques (seu irmão, Richard Leacock, ao contrário, marcou no cinema documentário, especialmente com trabalhos desenvolvidos em parceria com D. A. Pannbaker, infelizmente inéditos no Brasil). "O Jardineiro Espanhol" vale pelas paisagens de uma Espanha turística e traz um Dirk Bogard, hoje gravemente doente e envelhecido aos 68 anos, com uma juvenil aparência, buscando interpretar um jovem espanhol apesar de todo o seu sotaque britânico.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
06/04/1988

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br