Ornette e Pat, o melhor free jazz
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 29 de junho de 1986
Neste promissor ano jazzístico de 1986 - tanto em termos de espetáculos com grandes nomes (B. B. King dia 10 de julho no Guaíra; em agosto, Airto Moreira e Flora Plurim; Miles Davis em setembro) como de gravações, além da Polygran e CBS que já fazem lançamentos regulares, a WEA, que possui acervo impressionante em termos da música contemporânea, também entra forte no mercado. Além do último álbum de Dizzy Gillespie - aproveitando a temporada do grande pistonista ao Brasil (mas cujo disco ainda não chegou nas lojas) e o muito aguardado elepê do extraordinário Bobby McFerrin ("The Voice"), cantor-orquestra, que já por duas vezes veio ao Brasil (e que permanecia inédito fonograficamente), temos um álbum da maior vanguarda jazzística: "Song X", reunindo o virtuoso guitarrista Pat Metheny, o inovador Ornette Coleman (Forte Worth, Texas, 19/3/1930), múltiplo instrumentista (sax alto, tenor, trumpete, violino) e compositor, responsável pela corrente chamada de free jazz, movimento dos mais marcantes dos anos 60. Como explicou Guilherme Velloso ("Veja", 18/6/86), o free jazz não se caracteriza apenas, como o nome indica, pela total liberdade de improvisação, mas por ter ampliado essa liberdade ao máximo, desprezando dois cânones do jazz e da própria música ocidental - a tonalidade e a simetria rítmica. Por tudo isso, não é exagero dizer que Ornette Coleman está para o jazz como Arnold Schonberg (1874-1951), o criador do decafonismo, está para a música erudita, pois ambos romperam com as estruturas vigentes".
Se os álbuns de Pat Metheny vem sendo editados regularmente no Brasil (ainda em março último, a Polygran aqui lançou o vigoroso "Travels", gravado ao vivo, pela ECM), os discos de Coleman são raros - já que seu jazz é tudo menos comercial. Por isto, é excelente esta oportunidade que se tem de ouvir em "Song X" o encontro de Metheny com o conjunto de Coleman.
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