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Aramis

O melhor jazz de Bobby e Watanabe

A aproximação do Free Jazz Festival, em sua segunda edição, no eixo Rio-São Paulo, e a vinda so Brasil de superstars como Dizzy Gillespie, B. B. King e Miles Davis (setembro próximo), que inclui Curitiba em seus roteiros - sem falar na aguardada tourneé de Airo Moreira e Flora Purim (26 de agosto, no Guaíra), faz com que, fonograficamente, também cresçam os lançamentos. Tanto a CBS como a Polygram e Odeon estão preparando edições maciças, enquanto que a WEA já fez três lançamentos importantes - com dois discos que, tranquilamente, estarão entre os melhores do ano: "Parker's Mood" com o saxofonista japonês Sadao Watanabe e "The Voice", que afinal traz ao Brasil o extraordinário cantor-orquestra Bobby McFerrin. O ÚLTIMO DIZZY Infelizmente a WEA reatardou a edição de "Closer to the Source", o mais recente álbum gravado por Dizzy Gillespie - e assim, quando este disco chegou nas lojas o grande pistonista já havia encerrado sua temporada no Brasil. Recebido com frieza pela crítica, "Close To The Source" pode não ser o melhor álbum entre as centenas de gravações de Dizzy (Cheraw, South Carolina, 21/10/1917), mas não merecia comentários tão rudes. Afinal, este álbum. gravado em 1984, o reúne com alguns dos melhores músicos da cena atual, como Stevie Wonder, baixista Marcus Miller, saxofonista Brandord Marsalis, tecladista Kenny Kirkland, saxofonista Sonny Fortune e ainda Hiran Bulock (guitarra), Mino Cinelu (percussão), Barry Eastmond (teclados) e Angel Rogers (vocais) - uma formação, como se vê, totalmente diferente daquela que o acompanhou ao Brasil, em abril último. Em "Closer to the Source" (L. Hudson/R. Reaves/A. Surret) temos um feliz ancontro do trompete de Gillespie com a gaita de Wonder, em bonito arranjo do tecladista Barry Eastmond. Esta é uma das duas canções do disco, contando com a participação da vocalista Angel Rogers - que ainda interpreta "Just Before Dawn" (D. Alle/A. Foster). Num repertório que é marcado pela fusão do jazz com correntes novas, como o funk, o sopro de Gillespie brilha em faixas como "Could It Be You" (composta e arranjada por Marcus Miller), "It's Time For Love" (K. Gamble/L. Huff) e "You're n° In My Book" (Raglin/Zimmerman/Meyers/Silvers) - estas duas últimas de Kenny Kirkland, Dentro dos parâmetros jazzísticos, o momento mais arrojado está na última faixa, "textures" (Herbie Hancock), arranjada por Brandford Marsalis. Dizzy Gillespie pode surpreender por buscar novos caminhos - a exemplo do que há 20 anos já fazia Miles Davis. Incomoda um pouco os tradicionalistas, mas não deixa de ser marcante. BOBBY MCFERRIN Bobby McFerrin foi a grande revelação no festival de jazz de Paris, há 3 anos. Homem-orquestra, capaz de fazer no gogó todos os sons - na mesma linha de Al Jarreau - tornou-se sensação internacional em pouco tempo. Em 1985 foi a grande surpresa no Free Jazz Festival, no Rio e São Paulo e, em maio último, voltou ao Brasil para novas apresentações. Já então com dois elepês gravados na Elektra/Musicam, era incrível que a WEA não se ligasse para lançar no Brasil este cantor maravilhoso. Finalmente, há um mês saiu "The Voice", seu segundo álbum - que possibilita aos milhares de fãs do jazz vocal, que não puderam vê-lo ao vivo (ou pela televisão) sentirem a incrível capacidade deste ainda jovem cantor que usando apenas a voz e o corpo, como percussão, consegue soar como um grupo, em contagiantes performances. Mas McFerrin não é apenas um imitador de instrumentos (apesar de reproduzí-los com perfeição) mas impressiona realmente pelo senso rítmico, já que o swing e o balanço que imprime vão direto à essência do jazz e do blue. Nas dez faixas deste esplêndido álbum, Bobby, sem nenhum acompanhamento, mostra o seu incrível domínio vocal e a sua musicalidade - seja nos temas de sua autoria ("The Jump", "El Brujo", "I'm Alone" ou "Music Box", seja na leitura que faz de obras como "Blackbird" (Lennon/McCatney), "Freel Good" (James Brown) - ou nos momentos realmente jazzísticos - reverenciando Charlie Parker ("Dona Lee"), Dublin/Warren ("We're In The Money") e Billy Strahyhorn ("Take The "A" Train"). Deliciando-se com este esplêndido álbum, só nos resta esperar que a WEA anime-se e lance logo o seu primeiro disco. É o terceiro, que nestas alturas já deve ter saído nos EUA.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
13/07/1986

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