Miltinho, do MPB-4, em seu bom lp solo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de julho de 1986
Rui (Alexandre Faria, Combuci, RJ, 1938) foi o primeiro. Há dois anos, pela Barclay, fez seu elepê solo. Sem que isto significasse a separação do MPB-4, grupo vocal formado há 24 anos, em Niterói. Agora é Miltinho (Mílton Lima dos Santos Filho, Campos, RJ, 1944) que também faz seu disco solo ("New Malemolência", etiqueta MilTons, distribuição da Fonobrás).
O MPB-4, oficialmente, continua existindo. Às vésperas das bodas de prata - casamento que teve altos e baixos - o grupo continua afinado e harmonioso. Só que deixou a Polygram e enquanto não faz um novo disco, seus integrantes vão explorando caminhos próprios - já que talento não falta a nenhum deles. Magro (Antônio José Wagabi Filho, Itaoraca, RJ, 1945), é requisitadíssimo como arranjador e Aquiles (Rique Reis, Niterói, RJ, 1949) também tem muita versatilidade. Claro, que será uma pena se houver a separação do grupo - principalmente considerando a longa contribuição que deram à MPB nos anos mais duros da repressão, acompanhando Chico Buarque até onde ele pôde trabalhar e, depois, divulgando suas músicas.
Este "New Malemolência" de Miltinho está esplêndido. Um disco de quem sabe o que faz, com um repertório excelente, participações afetivas e perfeitas - como da cantora Leila Pinheiro ("Vida em Comum"), Zé Renato, Lourenço Baeta ("Era Só o que Faltava"), além dos próprios integrantes do MPB-4. Sem falar nos instrumentais - como Peranzetta, Rafael Rebello, (violão de 7 cordas), Luís Claudio Ramos (baixo), Ricardo Silveira (guitarra) etc. Claro que os companheiros do MPB-4 não faltaram - como Magro, que fez o arranjo instrumental e vocal de "Mal de Raiz", parceria de Miltinho com Paulo César Pinheiro que abre o disco. Sete das nove faixas são de Miltinho - que foi também quem fez a versão de "Por Quem merece Amor" (Sílvio Rodrigues), enquanto a música-título do lp de Vatro/Giordano, em versão de Aldir Blanc. Ótimo compositor, Miltinho divide suas parcerias com Paulo César Pinheiro, Alceu Valença, Kledir Ramil e Magro. A voz suave de Miltinho lembra em alguns momentos o Chico Buarque de início de carreira mas tem, principalmente, o encanto da Bossa Nova (não é sem razão que João Gilberto é "citado") - legítima e salutar influência em sua carreira.
Um disco excelente, magnífico - esta presença solo de Miltinho.
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