As bandas saem das garagens
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 13 de julho de 1986
Experimente ligar o rádio ou a televisão. Certamente você irá encontrar ou ouvir um conjunto novo estourando nas parads de sucesso. O espaço foi aberto pelas gravadoras e os roqueiros não perderam tempo. Em meio a essa loucura, Curitiba não poderia ficar alheia a essa situação. Vários grupos se formaram e entraram na luta em busca de um lugar de destaque no eixo cultural Rio-São Paulo. Mas enquanto a oportunidade não aparece nessas cidades, as bandas curitibanas vão se virando por aqui mesmo. As dificuldades são enormes, mas o prazer de tocar supera todos os problemas. E aqui vão alguns exemplos das bandas que embalam Curitiba.
Vamos começar pelo Beijo à Força, que incorpora desde o ska e o rockabilly ao punk em suas músicas. O conjunto surgiu no segundo semestre de 85, formado por Rodrigo Barros Homem Del Rei (lead vocal, baixista e arranjador). Oswaldo Baby Junior (baterista), Luís Antonio Ferreira (baking vocal, guitarrista e arranjador), Beatriz Araújo (tecladista) e Marcos Prado (letrista).
O nome da banda tem um significado um tanto curioso. Beijo à Força era o nome dado a uma antiga tortura, comumente usada pelos nazistas, que consistia em se beijar avidamente os lábios dos torturados com chaves inglesas.
O conjunto já se apresentou no Interior do Paraná, além de Curitiba, é claro, e também em Santa Catarina. Este ano eles pretendem se apresentar em São Paulo, no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Brasília e Espírito Santo, onde já são conhecidos. Seu repertório atual conta com mais de vinte músicas, que eles próprios definem como puramente críticas.
"Eu, o craque em crise
estarei propenso ao crime
a mão segura e treme
impossível um passo a frente"
Punks
O movimento punk não poderia deixar de ter seus representantes em Curitiba. Eles surgiram há cerca de dois anos e agora já são em torno de sessenta. Nesse grupo de pessoas encontramos um conjunto genuinamente curitibano, afinal todos os músicos nasceram em Curitiba. Eles fazem um som extremamente radical, chamado hardcore. O "Paz Armada" é formado por: Careca, no vocal; Galo, na guitarra; Gustavo, na bateria; e Renato, no baixo.
A banda com apenas seis meses de vida, já tocou em diversos lugares. Seu último show foi na Universidade Federal do Espírito Santo, em Vitória. Os punks foram os únicos que afirmaram não estarem muito preocupados com o futuro da banda. O que eles querem é somente tocar. Aqui está um pedacinho de uma música dos punks que vem causando muita polêmica:
"Garotinho esquentado, anormal debilitado
era até muito educado quando tudo aconteceu...
... Levou um calote de judeu
mas, para um dia, a vingança prometeu
Adolfinho furioso com raiva cresceu
ficou mais poderoso e com ódio de judeu".
Metal Pesado
Com uma proposta também radical surgiu em Curitiba o "Metal Pesado", com Darcy (guitarrista), Beto (baixista), Claiton (baterista) e Amadeu (vocalista). Eles têm 15 músicas no seu repertório, inspiradas no som de Ozzi Ousbourne e AC/DC, entre outros monstros do Heavy Metal.
Esse conjunto já tocou em várias cidades do Interior do Paraná com grande sucesso. Os músicos definem o que fazem como "o som do terceiro mundo, do pessoal da periferia".
O conjunto tem um sonho: ser descoberto por alguém e sair de Curitiba. São Paulo seria a cidade ideal. Mas como todos trabalham, fica difícil a busca do sucesso sem a ajuda de um bom produtor ou de uma gravadora. Nas suas letras, eles falam justamente disso, do lado negro da vida.
Ídolos
E o som continua rolando, mesmo com a dificuldade de encontrar um lugar para tocar e com os baixos cachês. Só que agora passamos para os Ídolos de Matinée, que fez seu primeiro show em 84, no Parque Barigui. A banda é formada por: Debbie Lloyd nos teclados, Fernando Amarás no baixo, Renato Incesto na guitarra e Pablo Pichasso na bateria. Eles não definem o tipo de som que fazem dentro dos padrões já existentes, e sim como uma mistura de vários deles.
A banda reclama muito da falta de respaldo dos meios de comunicação, principalmente no que diz respeito ao acesso às rádios, e também acham que a saída é ir mesmo para São Paulo. Segundo Debbie Lloyd, o que falta para o curitibano é se dar valor, "fazer como os baianos". Eles já tocaram em diversos lugares, incluindo São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina, quase sempre abrindo shows de conjuntos já consagrados.
Tecnopop
Mais uma banda aderiu aos teclados nas suas músicas. É o Mea Culpa, composto por Felipe no baixo, Roberto de Camargo nos teclados, Marco na guitarra, Fabio na bateria e Alex nos vocais. Segundo o vocalista, apesar de serem considerados tecnopop, os rítmos que exploram são inúmeros, indo do rock à rumba. Eles estrearam em dezembro de 85, e também concordam que o único caminho é ir para São Paulo ou Rio, onde há um maior espaço e reconhecimento. Eles definem suas músicas como um filminho. Cada uma tem uma história para contar. confira:
"Nestas salas vazias já houveram mais festas
tantas cabeças já bateram as testas
contra portas de vidro de medo e de aço
emoções de pelúcia ou tremendos fracassos".
Máquina Zero
E, finalizando, vamos a uma banda que conseguiu o que as demais tanto sonham: mudar definitivamente para São Paulo. É o conjunto Máquina Zero, que começou em Curitiba e foi aos poucos conquistando seu espaço em São Paulo, para onde mudaram em janeiro deste ano. Trinchas (vocalista), Chico (guitarrista), Edu (guitarrista) e Belmiro (baterista) formam a banda, que tem uma proposta bem diferente das outras. "Não pretendemos somente criticar a nossa sociedade nas nossas letras, queremos contribuir para que ela melhore. Por isso, quando estivermos ricos, parte do nosso dinheiro será destinado para a construção de escolas, creches e outras coisas do gênero", disse Trinchas. Mas no momento, eles só querem mesmo é arranjar um bom produtor, conseguir um maior espaço dentro e fora do Brasil. O que não falta para eles é pique..
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