Mais e melhores filmes de jazz
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de janeiro de 1991
Cada vez mais os fãs de jazz têm motivos de alegria. A dieta, que por mais de 30 anos obrigava os que curtem a mais criativa das formas musicais a viver um regime de pão e água em termos de informações, parece que, finalmente, encontrou a luz no final do túnel. Enquanto multiplicam-se as edições gravadas, tanto dos históricos registros em coleções que gravadoras com notáveis acervos (CBS, Imagem, Movieplay, Bradisc, WEA, EMI/Odeon, RCA) vêm colocando nas lojas - a partir de 1989/90, também em versões CD e fitas cromo, em termos visuais a coisa melhorou.
Após dois clássicos recentes que mergulharam as câmaras no mundo do jazz - "Ao Redor da Meia-noite", do francês Bertrand Tavernier - com o recém falecido saxofonista Dexter Gordon revelando-se excelente ator (tanto é que concorreu ao Oscar há dois anos) e, especialmente, "Bird", a afetuosa cinebiografia que Clint Eastwood dedicou ao maior nome do bebop, Charlie Parker (1920-1955), provaram a existência de um público interessado. Outras cinebiografias - como a de Chef Baker ("Let's Get Lost") e Ehelonious Monk ("Straight no Chaser"), embora inéditas em nossos circuitos, tiveram ao menos suas trilhas sonoras editadas em CDs pela RCA/Ariola e CBS, respectivamente.
O mercado do vídeo, também começa a sentir as potencialidades do jazz visual. Portanto, jazz na tela - a ampla ou a menor, no vídeo - já não é mais uma raridade, o que amplia as possibilidades de um filme como "Mais e Melhores Blues", a melhor estréia da semana.
Consagrado pelo demolidor "Faça a Coisa Certa", o diretor negro Spike Lee faz em "Mais e Melhores Blues" uma visão do universo jazzista a partir de Bleek Gilliam (Denzel Washington, Oscar-90, melhor coadjuvante por "Glory / Tempo de Glória"), um trumpetista de jazz em conflito com duas mulheres de sua vida: a professora Indigo (Joe Lee) e aspirante a cantora, Clarke (Cynda Williams).
Liderando uma banda - e em crises com mulheres, seus músicos e o empresário - Bleek é um retrato montado a partir de muitos músicos de jazz, sem preocupações biográficas (ao contrário dos outros filmes realizados até agora), mas com o toque de ironia e rebeldia - inclusive de posicionamentos negros - que Spike Lee (também um músico amador e filho de um profissional, Bill Lee, que coordenou a trilha sonora) coloca em seus filmes. Spike interpreta Gigante, o empresário e amigo de infância de Bleek. Basicamente, um filme musical (a excelente trilha sonora foi lançada pela CBS em dezembro último), o filme traz o "Bleek Quintet", formado pelo pianista Left Handa Lacey, baixista Bottom Hammer, baterista Rhythm Jones e o saxofonista Shadow Handerson. Brandford Marsalis, irmão de Wynton, e outra estrela jazzística, é a grande presença sonora na trilha sonora deste filme (Cine Lido II, 5 sessões), que se constitui em estréia indispensável na semana.
Outras Opções - Permanecem em cartaz, pois são filmes de qualidade, conquistando público: "Coração Selvagem", "Café Bagdá" e "Dançando com a Vida", nos Cines Ritz, Groff e Luz, respectivamente. "Ghost, do Outro Lado da Vida" entra na 13ª semana - com as maiores bilheterias da história do Condor e "Um Tira no Jardim de Infância" começa a emplacar. Afinal, Schwarzenegger não é tão brutal como parece...
LEGENDA FOTO - Spike Lee (ao centro), entre Denzel Washington e Wesley Snipes, em "Mais e Melhores Blues". A melhor estréia da semana. No Lido II.
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