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Aramis

O revival de Jones, ecletismo de Lionel e o som de Santana/Davis

O DISC-REVIEW é tarefa das mais agradáveis acompanhar a carreira de Quincy Jones. Este crioulo norte-americano, que tivemos oportunidade de entrevistas há 5 anos, quando esteve na Guanabara, participando no juri do Festival Internacional da Canção, tem evoluído de trabalho para trabalho nos últimos 10 anos, com uma produtividade excelente - refletida em quase duas dezenas de trilhas sonoras que fez, em 7 álbuns e ainda encontrando tempo para viajar bastante. Americano de Chicago, 40 anos - a serem completados no próximo dia 14 de março, Quincy Delight Jones Júnior morou até os 10 anos em Seattle, participando de um quarteto vocal na igreja local. Em 1947 começou a estudar pistão e quatro anos depois teve em Clarck Terry o seu primeiro grande mestre, quando Terry passou por sua cidade, junto com a orquestra de count Bassie. Em 1951, Quincy matriculou-se na Schilinger House, em Boston (mais tarde chamada Berklee Schoolf o Music), onde estudou com Lionel Hampton por dois anos. A partir de 1953 - portanto há exatamente 20 anos -Jones iniciava seu trabalho realmente profissional, junto com Hampton e mais tarde fazendo arranjos para Ray Anthony (1) e outros artistas populares que gravaram na Epic, Mercury etc. Afastado do pistão entre 54-56, voltou a tocar o instrumento quando integrou a orquestra de Dizzy Gillespie, no final de 56. Em 1957 Jones foi para Paris, onde ficou 18 meses, compondo, fazendo arranjos e conduzindo a orquestra da Barclay Recorde. Depois de uma viagem a Escandinávia, retornou aos Estados Unidos com uma soma de experiências musicais que o acorrajaram, por sugestões de John Hammond, a uma audaciosa experiencial: a direção musical de "Free and Easy", "blue-opera" de Harold Arlen. Em 1959-60, Quincy Jones voltava a Europa, integrando uma "all star jazz orchestra". Em poucos anos de carreira, Quincy Jones merecia de Leonard Feather (2), a adjetivação de "um dos jovens e mais brilhantes arranjadores-compositores que apareceram no jazz na década de 50". Lionel Hampton foi o primeiro a gravar uma composição de Quincy Jones - "King-fish", na MGM Records, e onde ele fez um de solo de pistão. Passando a tocar também piano e órgão, Jones a partir de 1965 - quando Sidney Lumet o convidou para compor a trilha sonora de "O Homem do Prego" (3), descobriria no cinema um fértil campo de experimentações musicais, com a vantagem de uma excelente remuneração e promoção - que o jazz jamais lhe daria. Assim, desaparecia em parte o jazzman e nascia o compositor-maestro. Entretanto, Jones não se limitou a simples busca do ouro: uma prova disto deu em "Smackwater Jack"- (A&m Records/Odeon 2085, 1972), onde fundiu todos os gêneros - rock, blues a & b, jazz e música comum, com excelentes resultados - ele próprio chegando a cantar na música-título do álbum e utilizando um moog sintetizar ao lado de solos de um contrabaixista como Ray Brown ou do vibrafone de Milt Jackson (do The Modern Jazz Quartet). Tão importante quanto "Smackwater Jack"- sem duvida um dos melhores álbuns de jazz aparecidos no ano passado no Brasil, é "Ndeda"(Mercury / Phonogram, 6338097, dezembro/72), álbum de menos recursos musicais do que anterior - mas onde igualmente ostensivo, foram atendido Jones oferece excelentes momentos instrumentais O estranho título - "Ndade" é explicado como "é ontem, quando eu era jovem"; quando Quincy tocou pela primeira vez em Bostoná; quando, aos 17 anos, Quincy fez alguns arranjos para o músico Oscar Pettiford; quando Quincy fez sua primeira trilha sonora, para "The Pawmbroker". Assim, este álbum é uma espécie de "Revival" de 20 anos de trabalho - em várias fases e várias influências. Assi, as duas faces do disco abrem com uma sentida homenagem de Jorges ao Brasil; no lado um, com sua composição "Sou Bossa Nova" e no lado 2, com "The Jive Samba" de Nat Adderley. De Ray Brown um dos músicos que trabalha muito ao seu lado, temos uma pequena obra-prima; "Gracy Waltz"; de Hanry Mancini - um compositor maestro dono de um dos estilos mais suaves dentro da música norte-americana, são 3 belos temas de séries de televisão; "Peter Gunn" o "Mr. Lucy " e "Dreamsille", os dois último sem parceria com J. Levingston e R. Evans. E um clássico - o tema musical de "The Golden Boy" (o filme que lançou Willian Holden no cinema, em 1939) - de Strouse /Adams, é a música mais velha aqui incluída. Composições próprias de Jones, são "The Witching Hour", "Seaweed", "The Midninght sum Will Never Set" e o tema de "The Pawnbroker". A única falha deste excelente álbum: ao contrário de "Smackwater Jack", a inexistência de qualquer referencia aos excelentes músicos que integraram a orquestra, ficando assim o ouvinte a quem acredita os belos solos que marcam várias faixas. De qualquer forma um álbum indispensável a quem deseja ampliar sua discoteca de jazz & música contemporânea. HAMPTON, O HOMEM-ORQUESTRA Vibrafonista, baterista, pianista, maestro e até compositor, Lionel Hampton mostra seus múltiplos talentos em" Lionel" (Audio Fidelity/18047), que a Chantecler reeditou em novembro-72 e se constitui em excelente oportunidade a um nova geração interrada em jazz, conhecer as múltiplas faces deste jazzman que nunca teve, ao menos em nosso país, o prestigio merecido. Aos 60 anos - a serem completados no próximo dia 12 de abril, Lionel - como Quincy - nasceu em Chicago, onde começou tocando bateria junto ao Chicago Defender Big`s Band`. Transferindo-se para a Califórnia em 1928, participou de múltiplas orquestras - atuando ao lado dos mais importantes nomes do jazz, em seus anos gloriosos: Louis Armstrong (com o qual fez o seu primeiro solo, numa gravação, "Memories of You", em outubro de 1930), Benny Goodman, Gene Krupa a Teddy Wilson. Organizando sua própria banda, Hampton fez em 1941 sua gravação mais importante "Flyin`Home", com a participação de Goodman, na RCA-Victor. Esta gravação o tornou um dos nomes mais populares na década de 40, embora este êxito comercial o tenha afastado - em termos, do jazz mais criativo. Depois de ter atuado no filme "Música Irresistível de Benny Goodman Story, 1955), a orquestra de Lionel fez várias viagens internacionais - Inglaterra, Europa Central, África do Norte e Austrália. Um mérito Hampton tem: foi o primeiro músico de jazz a utilizar o vibrafone - que anos depois seria aproveitado com um estilo diferente, por Milt Jackson para dar um "molho" diferente ao The Modern Jazz Quartet. O estilo agradável - "easy music", a comunicação da banda de Hampton, a sua versatilidade, o fez um dos homens com maior número de gravações entre 1941-60 criando êxitos notáveis , lançando algumas das músicas mais bonitas de duas décadas. E uma síntese disto pode-se ter nesta sua regravação, onde o reportário reúne, sem sobra de dúvida, 12 das músicas mais bonitas aparecidas nos EUA em todos os tempos. É só prestar atenção: - "Just One Of Those Thingd" (Cole Porter), "The Man I Love" (George Gershein), "Darn That Dream" (Van Heusen/ De Lange), "Stardust" (CarmichaelParrish), "Lullaby of Birdland"(Shearing), "Love Is Here To Stay" (Gershein), afora composições do próprio Hampton: "Blues For Stephen", "Trachking Problem", "One Step From Heaven", "Lazi Thoughts" Mesmo sabendo-se que o próprio Lionel é o responsável pelos principais solos (piano, vibrafones, bateria) é lamentável que não conste, na contracapa, o nome dos outros músicos. Afinal, eu daria um doce para saber quem é o flautista que se destaca na primeira faixa, nesta obra prima de Cole Porter chamada "Just one of those thing". O SOM DE SANTANA Carlos Santana tem se tornado notícia no Brasil não somente por seus recursos musicais, mas sobretudo por suas ações pessoais. Há 3 anos, convidado a participar do Festival Internacional da Canção, o seu grupo de música pop fez tanta confusão na GB que quase acabou sendo expulso do Brasil. Há poucas semanas o compositor Nomato Buzar (4), denunciou o fato de Santana ter gravado um de seus temas no lp "Carnavnserai" (CBS, 137790), sem citar o seu nome. Adorado pela garotada que curte o som pop, Santana está na praça com dois novos álbuns, ambos fazendo excelente carreira. Em "Live"(CBS, 137.779, setembro/72), encontramos o Carlos Santana mais elétrico, dividindo os solos com o baterista Buddy Miles, instrumentistas que passou por vários grupos na segunda metade dos anos 60, inclusive o de Jimmi Hendrix. Gravado em janeiro de 1972, em Diamond Head Grater, "Live" reuniu Carlos Santana (guitarra), Buddy Miles (bateria e vocal), Luís Gasca (trumpete), Coke Escovedo (timbales), Greg Errico (bateria), Neal Schon (guitarra), ron Johnson (baixo), Robert Pantoja, James Mingo Luís e Michael Carabelo (conga) Hadley Coliman (sax e flauta). No lado dois dos discos uma única faixa trabalho de criação do grupo - "Free Form Funkafide Filth "e no lado a cinco temas inéditos: "Marbles" (J. Mc Laughlin); "Lava" (Bonddy Milles) "Elvil Ways"(S. Henry "Faith Interlud" (Santana/Milles) e "Them Changes" (Buddy Milles) um disco daquele tipo de geração para ser curtida a todo o volume. Daquele tipo de gravação para ser curtida a todo o volume. Depois de ouvir "Live", "Caravanserai", é uma (agradável) surpresa: um salto de muitos anos-luz , devolvendo um grupo de instrumentistas bem mais conscientes, preocupados em transmitir uma música quase cerebral, com recursos e elementos novos. A começar pelo próprio pensamento do indiano Paramahansa Yogananda ("Meditações Metafisicas"), citado na contracaopa - "O corno dissolve-se no universo/o universo funde-se numa voz insonora/0 som funde-se na eterna luz/e a luz penetra no seio da alegria infinita'- o álbum tem um clima de recolhimento. Assim, na abertura - "Eterna Caravan of reincarnation" de Mike Shirieve, Neil Schon e Tom Rutley, temos a suave introdução do saxofone de Hadley Caliman sugerindo as imagens de um deserto e seus ruídos características - distante da civilização - o mesmo panorama proposto na bela capa de John Chase. Nesta primeira faixa a própria participação de Carlos Santana é discreta, suave, dividindo a percussão com James Mingo Levis. O organista Gregg Rollie, o contrabaixo Douglas Rauch e o baterista Mike Shrieve dividem a autoria com Carlos Santana de quase todas as faixas -criação esta posta em duvida já que a exemplo de buzar, é possível que compositor de outros países que, confiando na ética de Santana tenhan lhe mostrado musicas que depois, foram "apropriadas" pelos membros do grupo. Felizmente, "Stone Flower" de Antônio Carlos Jobim foi gravada reconhecendo-se o nome de seu autor - muito embora num arranjo que alterou em muito a estrutura deste belo tema. Um disco interessante, com as guitarras mais contidas e que entre outras duvidas nos traz mais uma o copyright da Sel Realizarion Fiollowhip responsável pela produção, é datado de 1964. Mas há nove anos atrás, o conjunto de Santana nem existia. E O BUDDY? O Buddy Miles, parceiro de Santana em "Live", está na praça também com um álbum só seu: é "A Message to the People" (Mercury-phonogram), 63.38048 novembro.72) com uma capa criada por Abdul Mali, que procura sugerir (colocar) Buddy Miles entre os artistas-violência - James Brown, Emerson-Lake & Palmer: Buddy crioulo forte e alto aparece vomitando fogo, que se integra as chamas expelidas por seis vulcões. Cabelos blackpanther e barba cerrada que se fundem as imagens de uma natureza selvagem - árvore disformadas e uma pequena cachoeira - são imagens na capa do álbum que já em si procuram sugerir a música, de Buddy Miles, bateria e cantor que com seis temas próprios, tenta a criação de um novo som - para isto alternando-se na guitarra e no órgão. Para acompanha-lo reuniu um grupo músicos desconhecidos: André Lewis, Charlia Karp, Marlo Henderson, Davis Hull, Michael Fugate e Hank Redd. Do próprio Miles, temos as faixas "Joe Tex", "The Way I Feel Tonight" , "Place Over There", "The Segment" e "Taht`s The Way Life Is", De G. Allman, são: "Don`t Keep Me Wondering" e "Midnight Rides", de B. Russell é "Sudden Stop", e finalmente do falecido Ottis Reding, é "Wholesale Love". NOTAS (1) Líder de uma medíocre orquestra e grupo coral, que nos anos 50 teve uma serie de lps dançantes editados no Brasil pela CBS. (2) O mais influente crítico de jazz nos EUA; autor de "Enciclopédia Of Jazz". (3) "The Pawnbreker", 1965, de Sidney Lumet, de uma novela de edward Lewis Wallant; denso drama estrelado por Rod Steiger e Geraldine Fitzgerald e que foi incluído como um dos 10 melhores filmes de 1966. (4) Um de nossos mais criativo compositores e que gravou no ano passado um álbum importantíssimo: "O Primeiro Retrato" (Tapecar). FOTO LEGENDA- Carlos Santana and Buddy Miles FOTO LEGENDA1- (") FOTO LEGENDA2- (") FOTO LEGENDA3- Quincy Jones FOTO LEGENDA4- Lionel
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Aqui, Jazz
1
21/01/1973

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