Cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de janeiro de 1973
Cansou Monsieur Hulot ou cansou o seu público? A pergunta pode ser feita à saída do cine Rivoli, onde um público esperançoso sai frustrado com a mais recente aventura do simpático personagem, que em apenas quatro filmes inscreveu-se na galeria dos tipos imortais do cinema. O francês caladão, que nunca tira a capa, dispensa ou guarda-chuva ou separa-se de seu cachimbo, 20 anos após sua notável aparição em << As Férias de monsieur Hulot >> parece estar cansado, paradão. Longe do homem das gags genias que fez de << Meu Tio >> um clássico do cinema de humor, o Jacques Tati deste << Trafic >> não consegue surpreender e o seu humor silencioso (dispensando sempre as palavras, preferidas as situações) é, como o filme, maçante, às vezes até incomodativo. Hulot-Tati sempre teve na constatação do trivial, na repetição das coisas mais simples - o << môlho >> de seu humor; em << Trafic >> com exceção de cinco ou seis seqüências mais expressivas (o final, por exemplo, com os limpadores de pára-brisas acompanhando a característica de cada motorista) a linguagem utilizada foi das mais lentas - levando a um excesso aquilo que Teti, cinco anos atrás, já antecipara em << Paty Time - Tempo de Diversão >>. A um crítico da sociedade de consumo como Hulot-Tati, o tráfego era um prato apetitoso: assim como já havia feito com as férias, a arquitetura moderna, adiversão e o turismo, em suas fitas anteriores, Tati poderia << tirar >> momentos antologicos. Infelizmente, mesmo para o seu público mais fiel - com a máxima boa vontade - << As aventuras de Mr. Hulot no trafego louco >> é uma comédia apenas razoável. Que pena!
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