Para que "A Hora da Estrela" brilhe com maior fulgor, "A História Oficial" baixou quatro pavimentos. Assim, enquanto o emocionante filme que Suzana Amaral realizou com base em texto de Clarice Lispector estreou no Palace-Itália (Centro Comercial Itália, 6º andar), o também emocionante (politicamente atualíssimo e artisticamente perfeito) "A História Oficial", de Luiz Puenzo, passou para o cine Itália (1º andar). Afora "A Hora da Estrela", 13 prêmios em Brasília, no ano passado, e mais o troféu de melhor atriz no Festival de Berlim para Marcélia Cartaxo - apenas outra estréia importante: A Baía do Ódio (Alamo Bay), do francês (radicado nos EUA) Louis Malle (Cinema I, desde ontem). O diretor de "Atlantic City", aqui se volta para outra vítima do racismo americano: os refugiados do Vietnã (mais de meio milhão de pessoas se fixaram nos EUA a partir dos anos 60). xxx Outra estréia que pode surpreender: "Papocchio", de Renzo Arbore (cine Luz). Modesta produção italiana, sem qualquer promoção maior, aborda, com humor, cenas do Vaticano - tanto é que o subtítulo é "Tudo Sob os Olhos do Papa". No elenco, Isabella Rosselini, filha de Ingrid Bergman e Roberto Rosselini - que, em termos internacionais, foi o nome lançado em "O Sol da Meia-Noite" (cine Astor, 3ª semana), na personagem Darya, esposa do exilado americano Raymond Greenwood (Gregory Hines). xxx No mais, time que está ganhando não deve ser modificado: e a programação continua a mesma - a não ser no Plaza, onde o musculoso Arnold Schwarzenegger ("Conan", "O Exterminador do Futuro", "Comando Para Matar") volta em "Guerreiros de Fogo" (Red Sonja), de Richard Fleischer, no qual o produtor Christian Ferry busca transformar em sex-simbol a loira Brigitte Nielsen, sra. Sylvester Stallone. xxx Um dos melhores filmes exibidos em Curitiba no ano passado - "O Reencontro" (The Big Chill), de Lawrence Kasdan, retorna nas sessões da meia noite (sábado, 17) e dez horas (domingo, 18), no Groff. Um visceral corte dos sonhos e ilusões de um grupo de jovens americanos, reunidos a propósito da morte de um colega - discutindo seus sonhos e projetos. Com Tom Berenger, Glenn Close, Jeff Goldblum e William Hurt. Um elenco ótimo, numa produção sensível e que mereceu várias indicações ao Oscar. No cine Groff. No Luz, domingo, às 10:30 horas, mais uma projeção de uma obra-prima que sempre se (re) vê com imenso prazer: "Meu Tio", de Jacques Tati (1907-1982). Oscar de melhor filme estrangeiro em 1958. xxx A Semana Cinema e Cultura Negra entra, neste final-de-semana, na fase dos documentários. Hoje, às 20:30 horas, haverá a pré-estréia de "Egungun", produção de 1982, na qual Carlos Blajadlat busca registrar uma comunidade de descendentes Nagô, que mantém seus costumes, na ilha de Itaparica, na Bahia. Se houver público (as sessões têm estado vazias) haverá debates, com a participação das antropólogas Veraluz Zicarelli Cravo e Marília de Carvalho, da UFP. xxx Amanhã, também às 20:30 horas, uma série de curtas-metragens: "Angelo Agostini", 68, de Luís Carlos Lacerda, sobre o jornalista, gráfico e abolicionista que editou "A Ilustração Brasileira"; "Casa Grande & Senzala", 74, de Geraldo Sarno - com o depoimento de Gilberto Freyre; "Dia de Alforria", 81, de Zózimo Bulbul, sobre Aniceto, fundador da Escola de Samba Império Serrano, "Ylce Koroque", 1981, de Raquel Gerber, que aborda o processo de formação das pessoas e sua identidade na concepção africana do mundo. xxx No domingo, finalmente, mais alguns curtas: "Em Busca do Ouro", 65, de Gustavo Dahl - sobre as cidades mineiras surgidas no século XVIII; "Lima Barreto: Trajetória", Brasil, 1970, de Júlio Bressane; "Quilombo", 1975, de Vladimir Carvalho - documentário de uma comunidade em Arraial dos Pretos, próximo a Brasília; "Okê Jumbeba, A Pequena África do Rio de Janeiro", 1985, de Roberto Moura. Confuso filme sobre a cultura negra carioca.

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Cinema

Página: 11

Data: 16/05/1986

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