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Aramis

"Minha Vida de Cachorro", filme ternura da Suécia

Preparem seus corações! "Minha Vida de Cachorro", exibido em pré-estréia nacional durante o FestRio, na mostra Os Melhores do Mundo - e que a nova distribuidora Skylab vai lançar nas vésperas do Natal apenas no Rio, São Paulo e Belo Horizonte (para Curitiba, não há previsão de cinema contemporâneo. Seguramente entrará na lista dos críticos paulistas e cariocas como um dos 10 melhores do ano - reafirmando assim os elogios internacionais: melhor filme estrangeiro da Associação de Críticos de Boston, duas indicações ao Oscar-88 - roteiro adaptado e direção - e há mais de um ano em cartaz em Nova Iorque. Refinado, capaz de envolver o público em suas tramas rigorosamente humanas, "My life as dog" é a revelação do diretor Lasse Hallstrom e, especialmente, de um garoto, Anton Glanzelius, como ator. Baseado no romance homônimo de Reidar Jonssons, "Minha Vida de Cachorro" poderia se parecer com qualquer outra história de meninos em fase de descobrimento da vida - uma temática sempre apaixonante no cinema e com muitos títulos marcantes. No entanto nesta visão de Lasse Hallstrom, rodado há 3 anos passados, o que se passa na tela é um fascinante e envolvente retrato da década de 50 em um pequena vila da Suécia onde um menino de 12 anos, Ingemar (Anton Glanzelius) percebe a dureza da vida com um humor cortante. Ele delineia bem o limite entre a sanidade e a loucura quando vê sua mãe agonizante, a casa onde vive em pedaços. Tanto ele quanto o irmão mais velho são mandados para casas de parentes em outros vilarejos e, a cada dia, Ingemar descobre algo de novo. É a sexualidade, a necessidade de se afirmar frente aos colegas e a própria angústia constante de seu cotidiano. Essa história aprentemente simples - "mas nisto reside sua força", nos observava o crítico Alberto Shatoviski, na primeira sessão pública deste filme - vem envolta pela belíssima fotografia de Jorgen Persson, em claros e escuros que os escandinavos percebem profundamente como o verão e o inverno. É assim que o pequeno Ingemar percebe a claridade e a escuridão também em seu curto passado e presente. O mais fascinante é que a trama nunca parece sair do ponto de vista dessa criança e sua percepção do mundo. Ingemar é o otimismo, a esperança, a confiança de uma criança - que reflete toda a empatia da infância. Em alguns momentos parece até que Ingemar enlouquecerá ou entrará em órbita, como a cachorra Leika, aquela deixada no espaço pelos soviéticos. A imagem da solidão da cadela lhe assegura que poderia ser pior. E isso o protege. O encanto maior de "Minha Vida de Cachorro" - e que deverá fazer com que no Brasil repita-se o êxito que vem alcançando em Nova Iorque e outras capitais - é a interpretação do garoto Anton Glanzelius. Uma atuação invejável para seu primeiro papel no cinema. O crítico Brian Baxter, da "Films and Filming", escreveu que "pouquíssimas vezes uma criança foi tão perfeitamente escolhida para um filme". O próprio Anton, no entanto, declarou que não queria ser ator e sim sonhava em ser jogador de futebol no Brasil. E o futebol está presente em muitas seqüências deste filme adorável, que provoca gargalhadas no espectador - mas tem a suavidade, a ternura de capturar a pureza e o mundo das crianças - com tanta sensibilidade como um Fellini sempre fez - mas em linguagem própria, que faz que Lasse Hallstrom seja anotado como diretor-revelação.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
03/12/1988

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