Coisas do coração na visão do sueco Lasse
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de agosto de 1991
Em "Minha Vida de Cachorro" (1987), o sueco Lasse Hallstrom tocava corações pela ternura com que partindo de uma história simples, ambientada numa pequena aldeia, se fazia universal - confirmando velha lição do mestre Leon Tolstói ("Se queres ser universal cante a sua aldeia"). Três anos depois, Hallstrom realizou seu primeiro filme nos Estados Unidos.
"Meu Querido Intruso" (Cine Condor) confirma a segurança e, principalmente, sensibilidade de Lasse Hallstrom como um cineasta das coisas do coração. Como vários outros filmes recentes - inclusive o também surpreendente "Te Amarei até te Matar" de Lawrence Kasdam (Cine Guarani, 15 e 20h30), "Meu Querido Intruso" centra sua ação numa família em Boston, de raízes italianas, com toda a sua carga de empatia que esta identidade étnica oferece. O universo da família Bellas, a partir da festa do casamento da filha mais moça, a bela Jan (Laura San Giacomino, a revelação de "Sexo, Mentiras e Videoteipe"), desenvolve-se no roteiro competente de Malia Scoth Marmo. A irmã mais velha, Renata (Holly Hunter, de "Nos Bastidores da Notícia" e "Além da Eternidade"), decide pressionar o seu companheiro, Rob (Griffin Dune, de "Depois da Hora"), pela legalização de sua relação mas como conseqüência recebe um vigoroso "não". Abalada, busca esquecer a separação tentando transformar-se em corretora de um condomínio no Caribe - do que resulta seu encontro com um príncipe encantado, o super-vendedor Sam Sharp (Richard Dreyfuss), que acaba conquistando. A partir deste encontro - e de uma relação abençoada pela família - a ação evolui para uma interligação que, em vários momentos, ameaça chegar ao melodrama.
Hallstrom conduz a história com charme e ternura. Chega a ser surpreendente que uma cineasta saindo do frio nórdico tenha capturado o clima peninsular-americano de uma família unida, com liderança do velho Joe Bello (Danny Aiello, de "Feitiço da Lua" e, especialmente, "Faça a Coisa Certa") e sua mulher, Marilyn (Gena Rowlands, ótima, em seu primeiro filme após a morte do marido John Cassavetes). O roteiro enxuto e bem desenvolvido, mais o prestígio de Hallstrom levaram dois atores - Griffin Dune e Dreyfuss - associarem-se nesta produção realizada com esmero. A fotografia do holandês Theo Van De Sande valoriza os cenários e na trilha sonora James Horner utiliza alguns standards americanos, especialmente "Flying Me To The Moon", tanto na gravação original de Frank Sinatra como revelando em Danny Aiello um bom cantor (ele ainda interpreta outra bela canção - "The Glory of Love").
Um filme tamanho-família, emotivo, suave e honesto - daquele tipo de espetáculo que cresce na recomendação boca-a-boca e mereceria mais uma semana de exibição.
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