Semana tem submarino vermelho, bela Miranda e comédia juvenil
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 11 de maio de 1990
Desta vez há ao menos três estréias: "Miranda", de Tinto Brass (Cine Plaza), "Digam o que Quiserem...", de Cameron Crowe (Astor e "A Caçada ao Outubro Vermelho" de John McTiernan (Condor, Palace Itália). No mais, os outros programas continuam inalteráveis, confirmando que em time que ganha não se deve mudar os jogadores.
"Cinema Paradiso", de Giuseppe Tortatore - o mais lírico filme do ano (ao menos até agora) continua emocionando o público que dá uma excelente média no Cinema I, provando que a magia das imagens, o lirismo e a nostalgia conseguem ainda motivar pessoas que há muito estavam perdendo o hábito de freqüentar as salas de exibição.
"Sociedade dos Poetas Mortos", do australiano (radicado nos Estados Unidos) Peter Weir, conquista uma faixa jovem. Uma exaltação a poesia, aos valores intrínsecos da juventude, este filme que teve em suas indicações (e premiações) ao Oscar, uma boa promoção, está sendo, de todos os "oscarizáveis", o que alcança maior empatia - seguido de perto por "Cinema Paradiso".
"Nascido a 4 de Julho", de Oliver Stone, encerrou sua carreira na quarta-feira, para que "Além da Eternidade" (Always), o lírico filme de Steven Spielberg, após duas semanas no Condor, continuasse em cartaz no Lido I. Apesar de medíocre e limitado, "Os Donos da Noite" (Harlem Nights), de Eddie Murphy - com o próprio, mais Richard Pryor, Danny Aiello ("Faça a Coisa Certa") e a cantora Della Reese (num papel dramático), também está agradando: continua em cartaz no Lido II.
Outro filme que mantém um público imenso, constituído basicamente de jovens - mas com "Q.I." bem abaixo daquele que prefere "Sociedade dos Poetas Mortos" - "Hellraiser - Renascido do Inferno", de Clive Barker, terror explícito. Agora em exibição no Cine Itália.
"Sexo, Mentiras e Videotape", de Steven Solderberg, continua em cartaz no distante Guarani, enquanto o político "Sammy e Rosie", de Stephen Frears, agüenta-se no Ritz - para onde está previsto, na próxima semana, a estréia de "Camille Claudel", de Bruno Neytten, que valeu a Isabelle Adjani indicação ao Oscar 90.
A "Caçada ao Outubro Vermelho" é uma superprodução que deve confirmar John McThernan como um bem sucedido diretor de filmes de ação. O sucesso de público de "O Predador" e "Duro de Matar", lhe valeu a confiança do produtor Mace Neufeld para realizar um filme que inspirado em fatos reais trata de um assunto que hoje pode parecer até meio superado, após a Perestroika da era Gorbachev mas que, há seis anos, quando teria acontecido, era mais uma mostra dos riscos de uma guerra nuclear. O capitão Marko Ramius (Sean Connery) é o comandante de um submarino possuidor de um novo e silencioso sistema de propulsão indetectável aos sonares americanos e soviéticos, batizado de "Outubro Vermelho" em homenagem a outubro de 1917. Ramius assume o comando do submarino e o leva, sem autorização, próximo a costa americana. O Kremlin suspeita que Ramius quer se refugiar na América com sua tripulação de 100 homens e entregar um segredo militar que vale bilhões de dólares. O Pentágono e a CIA suspeitam que Ramius vai parar seu submarino embaixo da Estátua da Liberdade e apontar seus mísseis nucleares para a Tramp Tower e a Casa Branca. Pânico em Washington e Moscou.
A partir deste plot, baseado no livro de Tom Clancy, os roteiristas Larry Ferguson e Donald Stewart desenvolveram uma trama que oferece ação e suspense, capaz de fazê-lo um grande sucesso de bilheteria. O elenco traz ao lado do veterano Connery, gente moça de destaque, como Alec Baldwin ("Os Fantasmas se Divertem"), Anthony Peck ("Duro de Matar"), Sam Neill ("Um Grito no Escuro"), além de outro veterano - James Earl Jones. A fotografia é de Jan de Bont e a música de Basil Poledouris. Um filme com ingredientes para atrair o grande público.
"Digam o que Quiserem" é o exemplo do filme que pode surpreender, como também chatear. Chegando sem referenciais maiores, dentro do pacotão de produções recentes da 20th Century Fox para lançamento rápido, sem pretensões de sequer tentar uma segunda semana, "Say Anything" é o filme de estréia de um novo diretor, Cameron Crowe, com um elenco de atores jovens (e, portanto, desconhecidos no Brasil) e com uma história de toques românticos - mas num enfoque atual. O produtor que se dispõe a financiar a estréia de Cameron como diretor é James L. Brooks, também um cineasta jovem, que teve a sorte de estrear com um drama romântico, "Laços de Ternura" (Terms of Endearment, 84), que ganhou várias indicações (e algumas premiações) ao Oscar e, há dois anos, com "Broadcast News" ("Nos Bastidores da Notícia"), ter repetido sua boa performance. O californiano Cameron Crowe, jornalista que fez carreira em publicações como "Penthouse", "Playboy", "Circus", etc., começou a se interessar por cinema ao fazer roteiros e de um relacionamento com Brooks surgiu a idéia de um filme sobre um jovem de 15 anos, que sonha em ser pugilista, e uma bela moça, que vai estudar na Inglaterra. Dentro da linha de conflitos, sonhos e romances, "Digam o que Quiserem" pode ser apenas mais um filme de consumo descartável. Mas também pode ter elementos de surpresa, justificando uma visão, inclusive para sentir as possibilidades de John Cusak, 20 anos, 12 filmes desde que aos 6 anos atuou em "Class" e a estréia de Ione Skye, vinda da televisão. Cusak apareceu, entre outros, em dois filmes de Rob Reiner (o mesmo diretor do excelente "Harry e Sally - Feitos um para o Outro", exibido até quarta-feira última no mesmo Astor) - "A Coisa Certa" e "Conte Comigo", e também em "Eight Man Out", ainda inédito no Brasil mas que aborda, de forma documental, a temática sobre os jogadores de baseball, condenados por terem entregue um jogo no campeonato de 1918 - e que, de forma ficcional, foi abordado em "Campo de Sonhos". A fotografia é de um bom profissional, Laszlo Kovacs e a trilha sonora, bem jovem, de Nancy Wilson, com temas adicionais de Richard Gibbs e Anne Dudley. Havendo tempo não custa conferir.
"Miranda" - Tinto (abreviação de Giovani) Brass, 57 anos, milanês, estreou em 1962 como diretor ("Chi é Perduto"), fez em 1967 um filme vanguardista, "Eliminattion" (Col il Cuore in Gola), com Jean Louis Trintignant e Ewa Auline e, em 1970, realizou uma obra que quase virou cult: "Os Desajustados do Amor" (Drop Out), com Vanessa Redgrave e Franco Nero que, na época, viviam juntos. Em 1972, dirigiu-os novamente em "La Vacanza" e em 1976 fez um filme sobre nazismo e sexo, exibido no Brasil como pornô: "Salão Kitty", com Helmut Berger e Ingrid Thulim.
Quando Bob Guccione, o diretor da "Penthouse", quis se tornar produtor e investiu muitos milhões de dólares numa versão realista de "Calígula", a carreira de Tinto quase foi para o brejo: a exemplo de "Cleópatra", a produção foi complicadíssima, aconteceram inúmeros problemas durante a rodagem e o filme fracassou, apesar do elenco notável, sexo e violência - que ajudaram a produção se tornar "maldita" no Brasil. Em 1983, Brass conseguiu fazer outro filme polêmico, "A Chave" e, em 1985, rodou "Miranda", com duas atrizes jovens - Serene Grandi e Andrea Occhipinto: "Miranda". Justamente, explorando a fama de Brass como diretor de "Calígula", "Miranda" chega ao Brasil com atraso de cinco anos. Até onde há intenção séria e quando começa a picaretagem pornográfica é só conferindo este filme em lançamento no Plaza.
LEGENDA FOTO 1 - Richard Dreyfus (ao centro), Brad Johnson (à direita) e John Goodman em "Além da Eternidade", de Spielberg. Agora em exibição no Lido I.
LEGENDA FOTO 2 - Jacques Perrin e Antonella Attiu em "Cinema Paradiso", uma obra prima que continua em exibição no Cinema I.
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