Branca, o urubu do brasileiro Joffily
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de julho de 1987
Mais uma vez o cinema brasileiro é prejudicado: programado inicialmente para a semana passada, "Urubus e Papagaios", de José Joffily Filho, deveria ter estreado ontem - já com uma semana de atraso.
Na última hora, a CIC decidiu manter no Lido II por mais 7 dias, o desenho "Branca de Neve e os Sete Anões", primeira produção longa metragem de Walt Disney, que há 50 anos fatura milhões de dólares. E, à noite, retorna outro filme inúmeras vezes relançado: "Pink Floyd / The Wall", de Allan Parker. Com isto, a boa comédia de Joffily, baseada em texto do gaúcho Josué Guimarães (1921-1986) dançou. Há 12 dias, Zezinho Joffily veio a Curitiba e falou bastante sobre o filme, procurando catituar a estréia. Agora, com este novo e indesculpável atraso, seu trabalho perdeu-se.
Chico Alves dos Santos, também iria exibir nas sessões na noite, no Luz, "Urubus e Papagaios". Com esta reviravolta, até a tarde de quarta-feira, estava indefinida a programação do Luz - que deve manter em cartaz o premiado "A Dança dos Bonecos", filme destinado ao público infantil, mas que agrada também aos adultos.
AS ESTRÉIAS - Com o cancelamento de "Urubus e Papagaios", restaram apenas duas estréias: "O Predador", de John Mctiernan, nova fita caça-níquel amparada no físico do halterofilista Arnold Schwarzenegger e a decepcionante comédia "O Segredo do Meu Sucesso", de Herbert Ross.
Como "O Exterminador do Futuro", filme que há 3 anos contribuiu para sua fama, Schwarzenegger tem em "O Predador" um personagem num clima surreal. Desta vez, é um misterioso "predador" que, um a um, vai eliminando soldados numa selva latino-americana. Há um clima de natural suspense e inevitável violência - fórmula exigida para o público que busca filmes deste gênero.
O diretor John Mctiernan, vem de uma longa experiência em teatro e é também diplomado como desenhista / diretor técnico da Manhattan School of Music. Mais tarde, estudou no American Film Institut, quando realizou seu primeiro filme, "Watcher". Na época, estudou também interpretação com a atriz Nina Foch (já falecida) e, mais tarde, voltando-se ao cinema publicitário, realizou mais de 200 comerciais. Fez, então, seu primeiro longa metragem, totalmente assumido, "Nômadas", com Pierce Brosman e Lesley Ann Down, levado a Cannes e lançado no ano passado nos EUA - mais inédito no Brasil.
Schwarzenegger é o único nome conhecido do elenco. Carl Weathers, Elpidia Carrilo, Bill Duke, Jesse Ventura estão entre os coadjuvantes. A propósito, um destaque: num curto papel, como o general Phillips, aparece um dos coadjuvantes que mais tem filmado, R. G. Armstrong. Espécie de Wilson Grey americano, Armstrong nunca teve um papel principal. Grey, após 203 longa-metragens, é pela primeira vez astro de um filme, o lírico "A Dança dos Bonecos", em exibição no Luz.
Realizador de filmes marcantes como "Momento de Decisão" (The Turning Point, 1977) e "A Garota do Adeus" (Goodby's Girl, que valeu a Richard Dreyffus o Oscar de melhor ator), Herbert Ross, 60 anos, é um nome respeitável. Ainda agora, acaba de estrear nos EUA sua nova incursão no mundo da dança, com Barishinikhov em "Gisele".
Portanto, era de se esperar que "O Segredo do Meu Sucesso" fosse um filme especial. A história de um garoto ambicioso (Fox, o mesmo astro de "De Volta Para o Futuro"), que sai de Kansas para vencer em Nova Iorque, poderia proporcionar uma sátira inteligente ao mundo dos yuppies - estes jovens canalhas em busca da realização financeira a qualquer preço. Entretanto, aquilo que poderia ser uma sátira inteligente e criativa - a desorganização de uma corporação, na qual um malandro pode se passar por um jovem executivo - transformou-se em pastelão da pior qualidade.
É difícil, inclusive, entender que seja um diretor competente como Ross que realizou um filme tão fraco e medíocre em sua estrutura. O elenco é desperdiçado e ao final há uma sensação de desperdício de tempo. Só a trilha sonora é funcional. Um típico programa que merece a observação: "Fuja!".
OUTRAS OPÇÕES - Excluindo-se os filmes que permanecem em cartaz há semanas - como "Fievel, um Conto Americano", primeiro desenho animado de longa-metragem, produzido por Steven Spielberg, direção de Don Bluth e "Vera", de Sérgio Toledo - que prosseguem nos Cines Condor e Ritz, respectivamente, há duas outras produções que estrearam no meio da semana passada e que merecem registro: o filme russo "Vá e Veja", sem maiores indicações - diretor e elenco desconhecidos, naturalmente, em exibição no Groff e "Allan Quatermain na Cidade de Ouro Perdida", produção de Menahem Golan / Yora Globus, rodado simultaneamente, e "As Minas do Rei Salomão" e "Ela". Livre roteirização de Gene Quintano sobre "As Minas do Rei Salomão", de H. Rider Haggard, esta fita de aventuras pretende dar uma seqüência aquele clássico livro de aventuras, já transposto duas vezes ao cinema.
Richard Chamberlain é o herói Allan Quatermain, e ao seu lado está uma nova e bonita starlet, Sharon Stone. O bom ator negro James Earl Jones interpreta um guerreiro Umslopagaas, e um veteraníssimo ator característico de Hollywood, sempre aparecendo como vilão, Henry Silva, reaparece como o maldoso sacerdote Agon.
Convencional, sem qualquer preocupação maior em termos de criatividade, esta fita de aventuras distribuída pela Paris Filmes - em lançamento no Palace Itália - se destina a platéias indulgentes. Para quem exige maior qualidade, melhor mesmo é rever "O Nome da Rosa", que continua em cartaz no Cine Itália.
Nos programas alternativos, uma preciosidade: "Roy Bean, o Homem da Lei", western classe A, que John Huston realizou em 1973, sobre um dos mais lendários personagens do wild west, será exibido domingo, às 10 horas da manhã no Cine Morgenau. Paul Newman interpreta Roy Bean (1825 ?- 1903), figura controvertida, herói ou assassino, que tinha uma grande paixão pela atriz Lilie Langtry, aqui interpretada por Ava Gardner, então numa de suas últimas aparições no cinema. Vale a pena rever "The Life of Times of Judge Roy Bean" em sua cópia ampla. Só se espera que não esteja muito estragada.
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