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Aramis

Nas coisas do amor, o filme tamanho-família

"As Coisas Engraçadas do Amor" (Lido II, até quinta-feira, 5 sessões), é mais uma evidência de que a linha família-criança, que vem marcando uma parte considerável da produção americana, continua a dar bons resultados. Mesmo longe de se transformar num sucesso como "Esqueceram de Mim" (Cine Astor, 9 semanas), e mesmo sem alcançar "Três Solteirões e um Bebê", de Coline Serreau, que o mesmo Leonard Nimoy realizou há 4 anos, este "Funny About Love" é agradável e suave - daqueles que devolvem ao cinema a condição de diversão familiar. Nimoy, 60 anos, até agora mais identificado como o orelhudo vulcano, Dr. Spook, que se consagrou na série "Jornada nas Estrelas" (dirigindo, inclusive, dois dos cinco filmes para o cinema: "A Procura do Dr. Spook", 84 e "A Volta para a Terra", 86), tem se mostrado um realizador voltado aos problemas familiares. Seja na divertida comédia "Três Solteirões e um Bebê", numa linguagem descontraída, seja no denso "O Preço da Paixão" (The Good Mother), no qual discutia a delicada questão enfrentada por uma mãe divorciada, que tem a guarda de sua filha ameaçada devido ao relacionamento com um amante. Agora, partindo de uma história simples - nascida no artigo "Convention of the Love Godness", no qual Bob Greene, da Esquire, fez reflexões em torno de uma palestra pronunciada para 500 belas mulheres reunidas na chamada irmandade nacional Delta Gamma, Norman Steinberg e David Frankel extraíram um roteiro enxuto e justamente por sua simplicidade com empatia universal, Dufty Bergman (Gene Wilder), um homem de meia-idade, bem sucedido profissionalmente - cartunista de sucesso em Nova Iorque, mas inseguro emocionalmente, descasado, encontra uma mulher igualmente descasada, Meg Lloyd (Christine Lahti), madura, com quem se une. Os dois desejam um filho, mas por razões clínicas não conseguem - o que os leva à separação. Vem o sofrido período de solidão - o qual nem um novo relacionamento de Dufty com a juvenil Daphne Delito (Mary Stuart Masterson) consegue resolver. Após encontros e desencontros, tudo soluciona-se da melhor maneira como seria de se esperar numa comédia otimista a partir do título. Fugindo do lugar comum, Nimoy consegue justamente bons resultados pela simplicidade com que coloca seus personagens. Dufty e Meg são pessoas comuns, de meia idade, sem maior glamour ou sensualidade, mas extremamente humanos e ganham interpretações marcantes. Gene Wilder, comediante revelado por Mel Brooks, é um ator que traduz aquela empatia do homem comum, sem maior beleza exterior, inseguro, mas correto - personagem que já o marcava na deliciosa "A Dama de Vermelho". Christine Lahti, desconhecida no Brasil, tem bons créditos, inclusive uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante por um filme que nunca chegou em nossas telas - "Swing Shift", 1984. Como se não bastasse uma história simpática, a fotografia de Fred Murphy capta a sempre fotogênica Nova Iorque, em suas ruas, ambientes típicos, o Madison Square Garden e até um congestionamento na Ponte Queensboro, que rodada numa manhã de domingo, exigiu nada menos que 275 carros, 15 táxis, 25 caminhões e até um helicóptero. LEGENDA FOTO - O sonho da paternidade num filme tamanho família: "As Coisas Engraçadas do Amor", com Gene Wilder em exibição no Lido II.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
19/02/1991

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