Login do usuário

Aramis

Até Saura oscarizável para a mostra do VI FestRio

Rio e Janeiro - Parece um milagre: num ano em que a produção cinematográfica teve seus mais baixos números, no qual foram extintas e sepultadas a Embrafilme/Fundação Nacional de Cinema e que a recessão econômica faz com que mesmo os empresários mais progressistas nem queiram ouvir propostas de financiar filmes, o RioCine Festival tem sua sexta edição, ampliada e revista, encerrando o calendário cinematográfico do ano - que teve, ainda, mostras em Gramado (julho), Natal (setembro) e Brasília (outubro). O cancelamento do FestRio (em novembro/89 já havia acontecido em Fortaleza, devido à falta de condições de continuar no Rio de Janeiro) acabou beneficiando o Centro Cultural RioCine, dirigido há 6 anos por Walkíria Barbosa. Não só o festival pode ser transferido para novembro, como, com ajuda de dois experientes executivos que dele participaram, na parte internacional - Cosme Alves e Degean Pellegrin - foi possível organizar uma pequena mostra de filmes internacionais, inéditos, que estão sendo apresentados juntos com os filmes nacionais. A maior atração é "Ai, Carmela", último filme de Carlos Saura - já escolhido para representar a Espanha como candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro, em março de 1991 - que será exibido na quinta-feira, antes da entrega dos prêmios. Novos talentos - embora prejudicada pela inesperada decisão dos juízes em interditar, na quinta-feira, o Cine Ricamar - no qual seriam projetados filmes da Mostra Internacional de Cinema, sem caráter competitivo e contando com a participação de novas produções de sete países - Portugal, Espannha, Inglaterra, Estados Unidos, Suécia, URSS e, naturalmente, dois representantes do Brasil, filmes até agora inéditos comercialmente (e que ainda não tinham sido projetados no Rio), "O Circulo de Fogo", de Geraldo Moraes, e "Natal da Portela", de Paulo César Sarraceni, se constituem na maior atração para o público. O sucesso dos filmes anteriores de Saura ("Carmen", "Cria Cuervos" etc.), deve possibilitar que "Ai, Carmela" encontre interessados em sua distribuição no Brasil. O filme é sobre Carmela, a canção favorita dos combatentes republicanos e dos dirigentes brigadistas internacionais durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). A atriz principal é Carmem Maura (revelada por Pedro Almodóvar em "A Lei do Desejo" e superstar a partir de "Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos), elevada à nova musa do cinema espanhol. A Espanha também comparece com duas outras produções recentes: "El Lute, Caminha ou Morre" (El Lute, Camina o Revienta). A exemplo de "Ay, Carmela", este filme, baseado na autobiografia de Eleuterio Sanchez, também tem um fundo político: nos últimos dias do franquismo, ocorre um fênomeno. Saído de uma das milhares de celas comuns, um condenado ladrão de galinhas transforma-se em herói e, como "El Lute", passa a representar o ideal de liberdade de um povo. A terceira produção é "A Lenda do Cura de Borgota", de Pedro Olea, com um tema bastante explorado: a demonologia. No elenco, um ator conhecido - o italiano Raf Valone. Portugal comparece com duas produções. "Solo de Violino", de Monique Rutler, 49 anos, nascida na França, mas com carreira desenvolvida em Lisboa. Melodrama - história da rica herdeira de um jornal que se apaixona pelo seu motorista -, foi co-produzido pela Raiz Filmes, de São Paulo - dentro do trabalho de aproximação do cinma brasileiro e português que Assunção Hernandez vem fazendo há 5 anos e que, na parte nacional, teria a participação em "Vlado", de João Batista de Andrade, mas até hoje sem ter nem um fotograma rodado devido à retenção de US$ 400 mil do produtor, congelados em 16 de março, por estarem aplicados em cadernetas de poupança. A segunda produção portuguesa é "Os Flagelados do Vento Leste", de Antônio Faria, 48 anos. Trata-se de um filme com abordagem social: as dificuldades enfrentadas por um camponês na ilha de Santo Amaro, no arquipélago de Cabo Verde. Além de Carlos Saura, dois outros filmes trazem assinatura de cineastas conhecidos. John Guillermin - que ficou famoso ao dirigir algumas das aventuras de 007 - é o diretor do western "Vivo ou Morto" (Dead or Alive), com Kris Kristtofferson - também conhecido como cantor country -, interpretando o pistoleiro Nobie Adams que enfrenta inimigos no árido território do Arizona em 1882. Com muito menos ação - lento e zen em sua roteirização -, "A Morte e a Joven" (Death and the Maiden), de Lin Hongton, é oportunidade de se conhecer um exemplo do cinema chinês. Uma surpresa para quem se acostumou a ver Ben "Gandhi" Kingsley em personagens sérios, aparece no filme do inglês Gary Murphy, retornando ao personagem criado por Sir Arthur Conan Doyle que já tem uma extensa filmografia. Desta vez, o Dr. Watson cria um personagem de ficção tão perfeito que a rainha Vitória quer conhecê-lo e que o obriga a contratar um ator beberrão e mulherengo (Michael Cane) para transformar a ficção em realidade. Espionagem internacional e terrorismo no Oriente Médio constituem o argumento de "Codinome: Galo Vermelho" (Code Name: Coq Rouge), produção sueca, 1989, de Pelle Berglund, 51 anos, que exibe em seu curriculum o fato de ter sido co-autor do premiado "Minha Vida de Cachorro", de Tasse Hallstrom. O filme baseia-se em livro do jornalista Jan Guillou, que criou o detetive-herói Carl Hamilton - espécie de 007 sueco, herói de 14 obras já publicadas. A Itália aparece com o trabalho de estréia em longa-metragem de Luciano Martino, 57 anos, veterano realizador de comerciais: "No Jardim das Rosas" (Nei Giardino della Rose). Uma história sobre o reencontro de um homem bem sucedido em Milão que, há 30 anos sem rever sua mãe, volta a procurá-la na cidade natal, Nápoles. No elenco o conhecido Giancarlo Gianini e a nova atriz Giola Scola (não confundir com Gia Scala, italiana que foi um sex-symbol nos anos 50). O Brasil estará na mostra com filmes de temáticas diversas: "O Círculo do Fogo", rodado em Goiás, premiado com a melhor atriz coadjuvante - Christina Pochaski - no Festival de Brasília e que já esteve em festivais wm Washington e Chicago, mistura coronelismo, assassinatos e misticismo numa pequena cidade interiorana. "Natal da Portela", tumultuada produção rodada há 5 anos, é uma tentativa de biografar uma das figuras filclóricas do carnaval carioca, o bicheiro e carnavalesco Natal. De Aramis Millarch, especial para O Estado do Paraná.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
24
20/11/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br