Maria Alice conta o drama dos posseiros
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de outubro de 1986
Se a questão dos conflitos de terras no Sudoeste do Paraná, ocorrida há 30 anos, merece agora a tese da professora Iria Zanoni Gomes e o livro, em desenvolvimento, de seu marido, Roberto Gomes ("Os Dias dos Demônios"), há exatamente 31 anos, Maria Alice Barroso, 60 anos, estreava na literatura com uma vigorosa obra ("Os Posseiros") com um vigoroso livro sobre a luta da posse da terra em Minas Gerais.
Ex-diretor do Instituto Nacional do Livro, autora de importantes romances - inclusive na área da literatura policial ("Um Nome Para Matar", por exemplo), Maria Alice Barroso tem agora seu "Os Posseiros" relançado pela Record. Ao longo de 300 páginas, a autora - espectadora, por acaso, de um conflito entre posseiros e grileiros em localidade próxima a Governador Valadares, em Minas Gerais, desenvolve o enredo em que surgem as figuras marcantes de Zé Severino, sua filha Orlanda e Antônio, que lidera e organiza os posseiros em sua resistência à violência armada.
Passadas três décadas, a obra de Maria Alice conserva incrível atualidade. Afinal, num país como o Brasil que possui 567 milhões de hectares em propriedades rurais, dos quais 409 milhões compõem latifúndios, em cinqüenta por cento dos casos improdutivos, as estatísticas indicam cerca de dez milhões de famílias sem terra para o seu sustento.
Assim, os conflitos pela posse da terra que se repetem em tantos Estados significam que Serra Alta, nome da região ficcional onde transcorre a ação de "Os Posseiros", poderia estar localizada em Pato Branco, no Paraná ou em Goiás ou Mato Grosso - tão amplo e profundo é esse problema.
Maria Alice não foi a primeira escritora a se voltar sobre a luta da terra - tema que Jorge Amado, já nos anos 30, colocava em seus romances. Como o romance de Roberto Gomes não pretende, em absoluto, esgotar o assunto em termos de Paraná. Mas são obras atuais, quase reportagens de um drama social de nossos dias.
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