Apenas uma estréia: "A traição do Falcão"
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de julho de 1986
Quase que se repete com "A Honra do Poderoso Prizzi" o que havia acontecido com "Cotton Club": a renda insuficiente levou João Aracheski a programar sua substituição na última quarta-feira, 16, por "O Fio da Suspeita", um bom thriller policial. Na última hora, entretanto, confiando numa reação do público em relação ao filme de John Huston, Aracheski mudou de idéia e decidiu mentê-lo por mais uma semana.
Com 8 indicações ao Oscar (e premiação a Angelica Huston como melhor coadjuvante-86), "A Honra do Poderoso Prizzi" foi sucesso nos Estados Unidos e Europa, teve bom público no Rio e São Paulo e é surpreendente que não tivesse, em sua primeira semana em Curitiba, o êxito merecido. Mas para quem conhece a nossa dita "inteligentza" isto não surpreende!
Assim, sujeito a sair de cartaz de uma hora para outra (e substituído então por "O Fio da Suspeita"). "Prizzi's Honor" continua em cartaz no Astor. Já, atendendo a pedidos, Aracheski programou o retorno de "Cotton Club", de Francis Coppola no Cinema I - onde estava em cartaz "Eu Sei Que Vou Te Amar". Nesta semana, há apenas uma estréia - "A Traição do Falcão" (cine Luz).
Espionagem jovem
Baseado em fatos reais - o envolvimento de um jovem, Christopher Boyce, da Califórnia, que trabalhava numa empresa monitoradora de satélites para a CIA, com espiões russos, tendo como cúmplice um amigo de infância, Daulton Lee, viciado e traficante de drogas, "A Traição do Falcão" é um filme, no mínimo, interessante.
Os personagens reais dos fatos ainda estão presos e a versão cinematográfica, dirigida pelo inglês John Schelesinger procurou ser a mais fiel possível, mostrando como dois rapazes americanos, de orígens da classe média superior, podem envolver-se com uma trincada rede de espionagem.
Schelesinger, 60 anos, ex-ator e que a partir de "Ainda Resta Uma Esperança" (1962) construindo uma respeitada carreira como realizador, há dez anos já havia se voltado ao mundo da espionagem ("Maratona da Morte"). Agora, neste "The Falcon And The Snowman" concentrou sua atenção na ótica introspectiva sobre o comportamento dos dois jovens espiões - Chris Boyce (Timotty Hutton) e Daulton Lee (Sean Penn), num filme de ação tensa e emoldurado por uma excelente trilha sonora do guitarrista Pat Metheny (editada no Brasil Pela EMI/Odeon, há 6 meses).
Timothy Hutton, 25 anos, premiado com o Oscar de melhor coadjuvante em seu longa-metragem de estréia ("Gente Como A Gente"/"Ordinary People", de Robert Redford), é uma das estrelas ascendentes da nova geração de atores americanos. Sean Penn, mais conhecido por ser o marido da cantriz Madonna e viver agredindo os fotógrafos, também tem aparecido em vários filmes: ao lado de Timothy fez "Toque de Recolher" (Taps, 83) e posteriormente "Juventude em Fúria" e "Adeus à Inocência". Na velocidade com que a indústria do espetáculo usa novos atores, Hutton e Penn já não podem mais serem considerados estreantes, embora ainda não tenham se tornado familiares junto ao grande público.
O Fio da Suspeita é uma tentativa do diretor Richard Marquand mostrar um pouco de talento introspectivo, distante dos recursos especiais e que o auxiliaram muito em seu trabalho na superprodução "O Retorno de Jedi", terceira parte da saga "Star Wars". Nascido em Gales, formação via televisão com muitas séries Marquand fez anteriormente um musical sobre os Beatles, um filme de terror ("The Legacy") e o bastante conhecido "O Buraco da Agulha", com Donald Sutherland, baseado no livro de Ken Follet (edição no Brasil da Record).
Em "O Fio da Suspeita", trabalhando com o roteiro de Joe Eszterthas, Marquand realiza um thriller com elementos fascinantes aos fãs do gênero: a bela, rica e poderosa Page Forester, herdeira de um jornal, é assassinada na casa de praia que ela compartilha com o marido, Jack (Jeff Bridges), que é encontrado semi-inconsciente, aparentemente atacado com um instrumento contundente pelos assassinos. Em estado de choque é levado para o hospital. Entretanto, de vítima transforma-se em réu e para defender-se precisa do auxílio de uma bela advogada, Teddy Barnes (Glenn Close), ex-promotora que trocou o direito penal pelo direito societário a fim de se livrar dos dilemas morais provocados pelo confronto entre as responsabilidades, necessidades e objetivos do sistema judiciário.
Assim, num clima entre o suspense e a discussão dos limites da justiça, "O Fio da Suspeita" tem elementos interessantes que podem atrair o público. Glenn Close, atriz central, é uma intérprete em ascensão: estreou em "O Mundo Segundo Garp" de George Roy Hill (1982) e já teve três indicações ao Oscar (por "Garp"; "O Reencontro", 1984, de Lawrence Kasdan) e Üm Homem Fora de Série/The Natural", 85, de Sidney Pollack). Faz sucesso no teatro ("Joan of Arc at the Stake", "Childwood" e "Rex"). Já Jeff Bridges é outro ator iluminado: há 14 horas, em sua estréia em "A Última Sessão de Cinema" (71, de Peter Bogdanovich), ganhava indicação ao Oscar e, no ano passado, como o alienígena de "Starman - O Homem das Estrelas", voltava a ter uma nomination ao dourado troféu. Neste período, Jeff Bridges apareceu em inúmeros filmes, suficientes para torná-lo um nome popular.
No elenco de "Jagged Edge", destaque-se também outros intérpretes expressivos como Peter Coyote, Robert Loggia e John Dehner, além da bela Leigh-Taylor Yonug, rosto dos mais suaves e que não vem tendo, infelizmente, a promoção merecida. Destaque ainda para a trilha sonora do mestre John Barry.
Outros Programas
"Um Dia A Casa Cai" (The Money Pit), comédia amalucada de Richard Benjamin, com fotografia de Gordon Willis (favorito de Woody Allen), produção executiva de Spielberg e música de Michel Colombier, continua em cartaz no Condor. Meio no estilo pastelão, a comédia vem agradando bastante.
No Cine Lido II, nas sessões da noite, retorna "Um Sonho, Uma Lenda", de Karel Reiz - a cinebiografia da cantora country Patsy Miller (1937-1963), intepretada por Jessica Lange - já exibida há um mês no cine Condor. Nas sessões da tarde, continua em cartaz o sempre enternecedor "A Gata Borralheira" (Cinderela, 1950), dos estúdios Disney. Para a platéia infantil, também dois outros programas: o desenho "O Segredo da Espada Mágica" nas sessões da tarde do Palace Itália (a noite, "O Último Americano Virgem") e, em 5 sessões, no São João, "Os Trapalhões e o Rei do Futebol".
Entre as reprises, há programas indispensáveis: "Roma", amoroso canto de amor que Federico Fellini dedicou a sua cidade, em 1972, volta numa cópia nova e está em exibição no cine itália desde segunda-feira, quando substituiu a "Casablanca". Um documentário inovador, crítico e que tem seu relançamento em Curitiba após 13 anos (aqui passou em 1973, sem qualquer êxito).
"Salve-se Quem Puder (A Vida)", de Jean Luc Godard, também encontrou bom público e permanece no Groff, enquanto "Crimes de Paixão", de Ken Russel, tem um público crescente. A mistura de pornô com toques de psicologia - e um final que chega a parecer homenagem a "Psicose", fazem deste estranho filme com Kathleen Turner e Anthony Perkins, uma fita de público crescente. "Inimigo Meu" (Enemy Mine), de Wolfgang Petersen, com Dennis Quaid e Louis Grossett Jr., science-fiction de toques simbolistas, resiste a uma segunda semana no Plaza, mas o maior êxito continua mesmo sendo "A Hora do Espanto", de Tom Holland, com Chris Sarandon como um vampiro gay moderno que vivendo num bairro de Los Angeles traz problemas ao adolescente William Ragsdale (Cine Vitória).
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