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Aramis

Ao vivo, as peças inéditas de Astor

El Tango fue porque Buenos Aires fue El Tango es porque Buenos Aires es El Tango será mientras Buenos Aires sea xxx O Tango é mais do que alma argentina. É a alma porteña. Quem assim o diz é Astor Piazzolla, o homem que revolucionou o tango a partir dos anos 50 e fazendo este gênero musical repercutir, mais uma vez, internacionalmente, até hoje ainda não é perdoado por muitos argentinos tradicionalistas. Há alguns anos, quando o entrevistávamos para o programa "Domingo Sem Futebol", perguntamos a Piazzolla de como os argentinos haviam hostilizado-o, verbalmente, por suas inovações musicais. Em seu espanhol bem-humorado, Piazzolla Respondia: - "Que verbalmente! Perdi conta do número de tentativas de agressões. Digo tentativas porque antes de ser tangueiro, fui boxeador e isto me livrou de apanhar de muitas pessoas que não aceitavam - e continuam não aceitando - o que proponho em minha música". Aos 65 anos - completados no último dia 11 de março de 1921 - , Astor pantaleón Piazzolla Manetti, argentino de mar Del Plata, bandoneonista, pianista, regente, arranjador e, sobretudo, compositor, nas palavras de seu amigo e ex-parceiro, Horácio Ferrer, "sin distincion de épocas o de tendências, el músico más completo, el artista más discutido y, em suma, una de las personagens más originales del tango. Identificado hasta convertir-se en el mayor creador de la música argentina com proyección americana e mundial". Piazzolla é hoje um cidadão do mundo. Anualmente faz excursões por vários países e embora tenha seus negócios centralizados em Milão, atende solicitações de várias partes. De sua amiga Jeanne Morreau (para alguns, houve até um caso de amor entre os dois) após musicar "Lumiére", ou ao seu compatriota Fernando Solinas - para quem fez no ano passado a trilha de "Tangos: Gardel no Exílio", Piazzolla tem sido requisitadíssimo para criar trilhas sonoras. Há algum tempo, Piazzolla participou do 5° Festival Internacional da Guitarra, em Liege, do que resultou a gravação ao vivo de mais uma obra-prima/documento em sua discografia: "Tango" (Carrere/RGE, julho/1986). Dentro da obra de Piazzolla - que, felizmente, pouco a pouco vem sendo editada no Brasil (embora faltem ainda muitos discos, inclusive a maravilhosa trilha sonora de "Tangos: Gardel no Exílio"), este novo álbum tem características especiais. Isto porque Piazzolla apresentou-se com a orquestra Filarmônica de Liege e da Comunidade Francesa da Bélgica, sob regência de Leo Brouwer - no qual, os solos de seu "Concerto para bandoneon e guitarra (em três momentos: introdução, Milonga e Tango) foram divididos com outro grande músico argentino, o guitarrista Cacho Tirao (que até hoje só teve dois de seus elepês editados no Brasil)". Tanto este Concerto, como a peça seguinte - "Criação Mundial" abertura dedicada ao Festival Internacional de Guitarra - tiveram suas primeiras apresentações no Festival da Bélgica. no lado B, sob o nome "História do Tango", com a participação de Marc Grauwels (flauta) e Guy Lukowsky (guitarra), mais uma peça inédita de Piazzolla, dividida nos momentos "Bordel 1900", "Café 1930", "Night-Clube 1960" e "Concerto 1990". Seria apenas um disco com peças inéditas, se não fosse a faixa de abertura - "Adeus Nonino", a mais contundente e pessoal das obras de Piazzolla, que ele dedicou ao seu avô e que, dentro de sua obra, empata com "Anos de Solidão" (da trilha de "Lumiére") como os momentos mais perfeitos. Mas é difícil fazer distinções na música de Piazzolla, gênio maior da música contemporânea, senhor absoluto do bandoneon e com uma capacidade de oferecer cada vez mais momentos da maior emoção. Seguramente, este seu "Tango" - que só chegou nas lojas na semana passada - estará em nossa lista como um dos 10 melhores discos instrumentais de 1986.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
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20/07/1986

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